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Em casa, mineiro pensa em voltar com a família
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O mineiro Antônio Carlos Alves da Costa, 38, deixou mulher e
dois filhos no Brasil para tentar o
sonho americano. Deportado,
agora quer reabrir o restaurante
do qual se desfez e, quem sabe,
tentar novamente entrar nos
EUA, mas desta vez com a família.
Natural de Abaeté (213 km da
capital), Costa é o quinto de dez filhos -três vivem nos EUA, apenas um legalmente. Foi para Belo
Horizonte ainda criança e largou
os estudos no 1º ano do 2º grau.
Vendeu salgados para a mãe, foi
servente de pedreiro e feirante.
Casou-se em 1991. Perdeu o emprego de motorista no expurgo da
era Collor e fez bicos com a mulher até o final de 2002, quando
montou um restaurante, já com
dois filhos. Como o investimento
demorava a dar retorno, e a idéia
de uma casa no campo ficava cada
vez mais longe, resolveu encarar o
ingresso ilegal nos EUA.
Para isso, Costa valeu-se do
exemplo dos irmãos, que já viviam por lá- como pintor, marceneiro e recepcionista. Vendeu o
restaurante (R$ 4.000) e a Kombi
94 (R$ 8.000). Um dos irmãos -o
pintor- pagou sua passagem
(dez parcelas de R$ 321) e traçou o
roteiro clandestino.
A mulher, Silvana Costa, 35, foi
contra. "Como vou impedir um
homem de quase 40 anos de fazer
o que quer?", argumenta ela.
No dia 3 de dezembro, Costa
saiu de BH para São Paulo e de lá
pegou o avião para Cidade do México. Em território mexicano,
passou por hotéis nas cidades de
Mazatlán e Guaymas até o município fronteiriço de Nogales.
No hotel indicado pelo irmão,
pagou US$ 100 para um garçom
que, por sua vez, providenciou
um "coiote" para a travessia. "Era
um rapaz de uns 17 anos, chamado por uns 50 nomes diferentes."
Ele e outros três brasileiros que
conheceu no hotel foram levados
para uma casa perto da fronteira.
Às 4h do dia 8, saíram para a travessia. Costa, que não fala inglês,
tinha US$ 440 e 120 pesos. Vestia
um par de tênis, duas calças, quatro camisas e uma jaqueta.
Ainda na Nogales mexicana (há
outra cidade de mesmo nome do
lado americano), passaram por
buraco na tela de muro de 5 metros e desceram por um cano até
uma via de terra. Escondidos no
quintal de uma casa, já no lado
americano, cachorros latiram e
denunciaram: todos -até o coiote- foram presos, sem violência.
Depois de prestar depoimento e
ficar 16 horas detido em uma cadeia de Tucson -"um chiqueiro", disse Costa-, ele viajou uma
hora e meia até o presídio de Florence. Ali, tomaram banho na
frente de guardas femininas, receberam roupas e comida.
Seguiu então para uma ala com
28 brasileiros. "Ali me senti em
casa", afirma ele. Em um salão
com duas televisões e quatro telefones -Costa falou com a família
dez vezes- passavam o tempo
jogando truco e damas.
Após quatro audiências com
um juiz, intermediadas por advogado contratado pelo irmão, Costa esperava sua repatriação para
fevereiro ou março. Só na véspera
soube que estava no primeiro
"vôo dos deportados".
De volta a Belo Horizonte, Costa
quer reabrir o restaurante que
serve "a melhor traíra da cidade".
(THIAGO GUIMARÃES)
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