São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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Em casa, mineiro pensa em voltar com a família

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O mineiro Antônio Carlos Alves da Costa, 38, deixou mulher e dois filhos no Brasil para tentar o sonho americano. Deportado, agora quer reabrir o restaurante do qual se desfez e, quem sabe, tentar novamente entrar nos EUA, mas desta vez com a família.
Natural de Abaeté (213 km da capital), Costa é o quinto de dez filhos -três vivem nos EUA, apenas um legalmente. Foi para Belo Horizonte ainda criança e largou os estudos no 1º ano do 2º grau. Vendeu salgados para a mãe, foi servente de pedreiro e feirante.
Casou-se em 1991. Perdeu o emprego de motorista no expurgo da era Collor e fez bicos com a mulher até o final de 2002, quando montou um restaurante, já com dois filhos. Como o investimento demorava a dar retorno, e a idéia de uma casa no campo ficava cada vez mais longe, resolveu encarar o ingresso ilegal nos EUA.
Para isso, Costa valeu-se do exemplo dos irmãos, que já viviam por lá- como pintor, marceneiro e recepcionista. Vendeu o restaurante (R$ 4.000) e a Kombi 94 (R$ 8.000). Um dos irmãos -o pintor- pagou sua passagem (dez parcelas de R$ 321) e traçou o roteiro clandestino.
A mulher, Silvana Costa, 35, foi contra. "Como vou impedir um homem de quase 40 anos de fazer o que quer?", argumenta ela.
No dia 3 de dezembro, Costa saiu de BH para São Paulo e de lá pegou o avião para Cidade do México. Em território mexicano, passou por hotéis nas cidades de Mazatlán e Guaymas até o município fronteiriço de Nogales.
No hotel indicado pelo irmão, pagou US$ 100 para um garçom que, por sua vez, providenciou um "coiote" para a travessia. "Era um rapaz de uns 17 anos, chamado por uns 50 nomes diferentes."
Ele e outros três brasileiros que conheceu no hotel foram levados para uma casa perto da fronteira. Às 4h do dia 8, saíram para a travessia. Costa, que não fala inglês, tinha US$ 440 e 120 pesos. Vestia um par de tênis, duas calças, quatro camisas e uma jaqueta.
Ainda na Nogales mexicana (há outra cidade de mesmo nome do lado americano), passaram por buraco na tela de muro de 5 metros e desceram por um cano até uma via de terra. Escondidos no quintal de uma casa, já no lado americano, cachorros latiram e denunciaram: todos -até o coiote- foram presos, sem violência.
Depois de prestar depoimento e ficar 16 horas detido em uma cadeia de Tucson -"um chiqueiro", disse Costa-, ele viajou uma hora e meia até o presídio de Florence. Ali, tomaram banho na frente de guardas femininas, receberam roupas e comida.
Seguiu então para uma ala com 28 brasileiros. "Ali me senti em casa", afirma ele. Em um salão com duas televisões e quatro telefones -Costa falou com a família dez vezes- passavam o tempo jogando truco e damas.
Após quatro audiências com um juiz, intermediadas por advogado contratado pelo irmão, Costa esperava sua repatriação para fevereiro ou março. Só na véspera soube que estava no primeiro "vôo dos deportados".
De volta a Belo Horizonte, Costa quer reabrir o restaurante que serve "a melhor traíra da cidade". (THIAGO GUIMARÃES)


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