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MÁQUINA PÚBLICA
Número de postos abertos por concurso é 250% maior que o de 2002; sindicalista diz que só contratar não resolve
Lula reverte "enxugamento" de FHC e cria 41 mil vagas
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
VIRGILIO ABRANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula pretende reverter o que chama de "processo de
enxugamento" da máquina pública feito na gestão Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Neste ano, a administração do
PT -partido cuja base eleitoral
compreende historicamente sindicatos de servidores públicos-
prevê o preenchimento de 41.380
vagas por meio de concursos, em
diversos setores (veja quadro). O
número é 250% maior do que em
2002, último ano de FHC, quando
11.824 vagas foram autorizadas.
Em 2003, primeiro ano de mandato de Lula, o número mais que
dobrou: 24.700. "Esse número de
2003 é quase a metade do que foi
autorizado em oito anos de FHC",
diz Luiz Alberto dos Santos, sub-chefe de Coordenação da Ação
Governamental da Casa Civil.
O governo calcula gastar R$ 400
milhões com as admissões em
2004. Segundo Alberto dos Santos, a intenção é manter nos próximos anos a mesma média de
contratação para, além de mitigar
a deficiência de funcionários,
substituir os que devem se aposentar -1/4 do total de servidores
até 2007, na estimativa oficial- e
parte dos terceirizados.
De acordo com a atual gestão,
um funcionário terceirizado pode
custar atualmente até três vezes
mais do que um contratado.
"Há um estudo sério que vê a
terceirização no setor público de
uma maneira muito crítica e não
se pode dizer o autor é contra ou a
favor porque está preocupado
com base sindical", diz Santos.
A questão é controversa. O ex-ministros Bresser Pereira e Cláudia Costin, que foram responsáveis pelo setor na gestão tucana,
dizem que terceirizar sai mais barato, embora possa haver problemas em alguns contratos.
O governo diz não saber quantos terceirizados há na máquina.
Dilvulga, apenas, que reduziu o
gasto com eles: de R$ 86 milhões
em 2002 para R$ 53 milhões em
2003. A Folha obteve uma estimativa não-oficial do número de terceirizados no serviço público federal. Os dados são da Condsef
(Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal).
Pedro Armegol, diretor do órgão,
afirma que, atualmente, há 250
mil terceirizados contra 40 mil em
1995, primeiro ano de governo
FHC. "Os terceirizados deveriam
ser temporários, mas há trabalhadores terceirizados que estão no
governo há dez anos", afirma Armegol em um discurso afinado
com o da Casa Civil. No entanto, a
convergência entre o governo federal e a confederação pára por aí.
O representante do sindicato afirma que o governo Lula não está
acabando com as terceirizações e
que a política de contratações da
atual gestão é uma "caixa-preta".
"Até agora nós não conseguimos saber qual é a política do
atual governo", afirmou.
Com a reforma ministerial, a
Casa Civil assumiu a responsabilidade pela gestão dos recursos humanos. E iniciou o trabalho de
maneira polêmica abrindo 2.797
cargos de livre indicação por medida provisória. Criticado pela
oposição, o ministro José Dirceu
disse que tal medida era necessária para reverter o "sucateamento" deixado pela gestão passada.
Bresser Pereira considera que o
governo FHC fez uma "modernização histórica" e que o enxugamento não foi exagerado: "Primeiro, essas vagas 3.000 vagas
criadas [pela medida provisória]
são um escândalo, um acinte",
critica. Sobre a diminuição da terceirização, diz que "o governo
corre o risco de reburocratizar o
Estado". "Há muito espaço para
continuar a terceirização. As críticas são meramente corporativistas, de sindicatos que vêem que o
número de filiados vai diminuir".
Contratar não basta
É necessário contratar servidores, mas também pensar um modelo de gestão que os prestigie nas
questões salariais e de estrutura. A
opinião é do vice-presidente da
Unafisco (Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal), Marcello Escobar.
Ele afirma que vê "com bons
olhos" a autorização para a abertura de novas vagas. "Não adianta
apenas contratar. É necessário aumentar o orçamento do órgão,
dar mais estrutura, porque não se
pode mais operar com carros faltando gasolina ou falta de papel
nos escritórios." Escobar disse
que a Receita Federal tem cerca de
7.500 auditores e que o ideal seria
quintuplicar o número até 2006.
A assessoria de imprensa da Receita afirmou que o número de
auditores é de 7.692 e que há mais
160 a serem contratados por meio
de um concurso em andamento.
Questionada se o órgão considera
o número suficiente, a assessoria
diz que a quantia é "mínima" e
que o aumento depende da política de contratações da União.
Outro órgão que estaria com
seu quadro defasado é a Funai
(Fundação Nacional do Índio),
vinculada ao Ministério da Justiça. Estatísticas oficiais mostram a
redução do número de funcionários (mais de 5.000 em 1985 contra
os atuais 2.195). O ministério informou que a Funai pretende
abrir concurso para 500 novas vagas ao longo de 2004 e substituir
mais 67 funcionários que hoje trabalham em um regime de convênios feitos pelo gestão FHC com
organizações internacionais como a Unesco.
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