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NO PLANALTO
Conheça a história do brasileiro "*************"
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Calma , não se espante.
"*************" é brasileiro como você. Ou, por outra, era
brasileiro. Já morreu, o pobre. Seu
nome, grafado assim, com 13 asteriscos, encontra-se assentado em
cadastro eletrônico da Previdência Social. Uma base de dados em
cujas profundezas são lançados os
patrícios que, tendo descido à cova, já não fazem jus ao recebimento de pensões e aposentadorias.
Estava "*************" posto
em sossego, em meio à tranqüilidade dos esqueletos, quando foi
descoberto por auditores do TCU.
Gente malévola, disposta a questionar a reputação do senhor asterisco.
Em relatório aprovado no dia 10
de dezembro de 2003, os inspetores do Tribunal de Contas levantam, veja você, a suspeita de que,
em vez de morto, "*************"
seja um brasileiro vivo. Muito vivo. Vivíssimo.
Trata-se, suspeitam os auditores, de algum espertalhão. Alguém
que, aproveitando-se da morte de
um Zé Ninguém, rebatizou o cadáver com sinais gráficos em forma de estrela apenas para continuar beliscando a aposentadoria
que ele recebia em vida.
A sordidez dos peritos do TCU
não tem limites. Desentranharam
dos arquivos da Previdência um
outro brasileiro morto. Chama-se
"02092001". De novo, avaliam os
técnicos do TCU, trata-se de um
Zé das Couves. Ocultado sob números, legou a aposentadoria a
outro aproveitador velhaco.
Há ainda no arquivo dos mortos
da Previdência um lote de patriotas incompreendidos. Têm nomes
comuns. Mas suas fichas trazem,
no campo reservado à anotação
da data da morte, uma evidência
de que estão adiante do seu tempo.
Um deles "morreu" em 2019. O
outro, em 9800. Um terceiro foi
desta para melhor no ano da graça de 9900. Decerto são brasileiros
sintonizados com a política de arrocho fiscal do ministro Antonio
Palocci. Tinham uma vida pela
frente. Mas morreram antecipadamente apenas para propiciar
ao governo petista a economia de
algumas aposentadorias.
Os auditores, tomados de desconfiança desmedida, resolveram
diminuir-lhes o gesto. Levantam a
blasfêmia de que as datas futuras
inscritas nas fichas visam embaralhar o sistema de checagens da
Previdência. Só para propiciar a
cidadãos astutos o recebimento de
pensões indevidas.
Alheios ao sentimento religioso,
os inspetores entenderam de implicar também com as pensões
que, cassadas em função do óbito
de seus titulares, foram depois
"reativadas" pela Previdência.
Ora, se Jesus ressuscitou ao terceiro dia, por que não podem voltar à
vida os pobres pensionistas, também eles filhos de Deus? O pessoal
do TCU deveria vasculhar os computadores de Brasília com uma
Bíblia nas mãos.
Não é só o fichário dos mortos
que açula a má vontade dos inspetores. Implicam também com o
cadastro dos aposentados ativos.
Ali, enxergam desonestidade em
tudo. Até nas requisições de auxílio-natalidade de uma ou outra
senhora que, entrada em anos, decidiu conhecer as maravilhas da
maternidade.
É certo que as mulheres mencionadas no relatório de auditoria
contam mais de 60 anos. Mas o ceticismo exacerbado dos auditores
desconsidera os avanços da medicina moderna. De mais a mais, como diria o novo ministro Patrus
Ananias, o Brasil é um país por
povoar. Ainda há espaço para levas de nascituros. Nada mais justo
que a Previdência pague às anciãs
o que lhes é devido.
Nem mesmo a criatividade de
alguns aposentados escapou à sanha dos auditores. Condenaram a
presença na folha da Previdência
de pessoas identificadas por números de CPF em desacordo com o
modelo ditado pela Receita Federal. Há, por exemplo, 67.117 aposentados com um mesmo CPF:
99999999999.
É de se perguntar: se o camarada José Dirceu, tomado de ímpetos revolucionários, conspirou para acomodar o companheiro
Amir Lando na cadeira de ministro da Previdência, por que deveriam os aposentados se sujeitar às
regras estritas da Receita? Viva a
diferença. Salve a desobediência
civil.
Tudo indica que os inspetores
do TCU ainda não se deram conta de que o Brasil mudou. Estamos sob o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva. Não há mais espaço para as velhas fraudes que costumavam assolar a administração pública. Francamente, senhores.
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