São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO LUBECA

Partido sai em defesa de deputado-candidato; Genoino diz que novos diálogos do escândalo são "exumação de notícia"

Oposição poupa e PT blinda Greenhalgh

Marcelo Min/Folha Imagem
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (à frente), com o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oposição foi discreta nas críticas ou optou pelo silêncio; já o PT tratou de defender de forma enfática o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato oficial do partido à presidência da Câmara, diante da publicação de novos trechos de uma conversa gravada que o cita como mentor de um suposto esquema de propina armado em 1989 -o caso Lubeca.
A Folha publicou ontem trechos inéditos de uma gravação entre Eduardo Carnelós, ex-assessor jurídico de Greenhalgh quando este era secretário de Luiza Erundina, e José Firmo Ferraz Filho, já na época apontado como o intermediário do petista. Carnelós gravou a conversa sem o conhecimento de seu interlocutor.
A prefeitura do PT teria pedido "patrocínio" financeiro da incorporadora Lubeca para a campanha presidencial do PT. Em troca, a empresa buscava a aprovação de um projeto urbanístico avaliado em US$ 600 milhões que estava emperrado na prefeitura.
Greenhalgh nega tudo e diz que o caso Lubeca foi arquivado.
Embora ninguém admita publicamente, na bancada do PT avalia-se que as novas evidências trazidas pelos diálogos vão acirrar o embate entre Greenhalgh e o petista dissidente Virgílio Guimarães (MG). A estratégia do PT durante o dia de ontem foi de desqualificar os diálogos, apresentando-os como "notícia requentada", motivada por interesses políticos contrários à candidatura Greenhalgh. Os petistas argumentam ainda que o caso foi arquivado no STF (Supremo Tribunal Federal).
No Palácio do Planalto, o apoio a Greenhalgh está mantido. Em conversas reservadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não haver fato novo contra o petista, já que a acusação é a mesma de 1989. A estratégia de desqualificar o caso foi recomendada.
A reação dos petistas, no entanto, passa ao largo de três fatos: 1) os diálogos publicados ontem pela Folha eram inéditos (o "Jornal da Tarde" havia revelado apenas alguns trechos da conversa em reportagem de 1990); 2) a fita com a conversa gravada não foi usada como peça em nenhuma das três investigações abertas na época; e 3) o processo arquivado pelo STF apurava crime de calúnia contra Ronaldo Caiado, e não o suposto esquema de propina na Prefeitura de São Paulo.

Impacto mínimo
A aposta otimista do PT é que o caso minguará sozinho. Responder às gravações em seu mérito seria contraproducente, avalia a cúpula petista. Espera-se que assim o impacto sobre a campanha de Greenhalgh, numa disputa difícil com Virgílio, seja mínimo.
José Genoino, presidente nacional do PT, foi direto nessa linha ontem. Chamou a acusação de "exumação de notícia". "Esse caso tem 15 anos, foi amplamente debatido e o fato transitou em julgado no STF. Por isso, não vou comentar nada", afirmou.
Instado a avaliar a repercussão política que o fato teria sobre deputados da base governista, Genoino esquivou-se: "Não vou valorizar essa iniciativa da Folha".
Genoino demonstrou, no entanto, que não tem certeza de que as gravações divulgadas ontem são mesmo "notícia velha". "Não comparei o que se divulgou agora com o que saiu na época."
"Os trechos são inéditos para a imprensa, não do ponto de vista probatório", disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que presidiu a Comissão de Averiguação Preliminar criada pela Prefeitura de São Paulo em 1989 para apurar o caso.
Para o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a volta do caso Lubeca não interfere na escolha de seu sucessor. "Só vai mostrar a grandeza e a correção do deputado Luiz Eduardo."
O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), manteve o discurso de João Paulo. Para ele, os desdobramentos políticos serão nulos -a única conseqüência será causar "sofrimento" ao deputado Greenhalgh.
Chinaglia afirmou ainda que, a se acreditar que a reportagem está correta, uma série de instituições que investigaram o caso no passado teriam que ter errado. "Isso foi investigado por uma comissão da prefeitura, pelo Ministério Público. Não creio que todos erraram."
Carlito Merss (PT-SC), um dos principais coordenadores da campanha de Greenhalgh, afirmou que a reportagem pode ter até algum reflexo na opinião pública, mas acha difícil que deputados divididos entre o candidato oficial petista e Virgílio façam sua opção baseados nas acusações.

Erundina
A ex-prefeita de São Paulo e atual deputada federal, Luiza Erundina (PSB-SP), afirmou ontem lamentar que o caso Lubeca tenha retornado à tona.
"Não acho correto que em meio a uma campanha eleitoral de tamanha importância, na sua reta final, apareça esse tipo de coisa."
Erundina, que à época pertencia ao PT, disse que todas as providências foram tomadas. "Houve uma completa investigação a cargo de uma Comissão Especial de Inquérito. A polícia investigou, o Ministério Público investigou. Tudo que estava ao nosso alcance foi realizado", disse a ex-prefeita.
Para a deputada, a acusação pode comprometer a eleição. "É um fato de 15 anos atrás, mas do jeito que está sendo explorado, pode comprometer a democracia."


Texto Anterior: A hora do regime: Para ministro, Lula precisa emagrecer
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.