|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO LUBECA
Para Draúsio Barreto, que acompanhou caso, investigação foi "anormal" e falhou ao não considerar diálogos gravados
Inquérito menosprezou prova, diz promotor
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O então promotor de Justiça do
caso Lubeca, Dráusio Barreto,
afirmou ontem que o diálogo que
cita o deputado federal Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT) é grave, coincide com o que foi investigado à época e, por isso, deveria
ter sido usado como peça nas investigações. Isso não ocorreu.
Em 1989, Barreto acompanhou
de perto o inquérito da Polícia Civil. Participou também da CEI
(Comissão Especial de Inquérito)
aberta pela Câmara Municipal.
"Foi uma investigação marcada
por interrupções, por coisas fora
da normalidade", disse.
A Folha publicou ontem, com
exclusividade, trechos inéditos de
uma conversa gravada entre os
advogados Eduardo Carnelós (à
época assessor jurídico de Greenhalgh) e José Firmo Ferraz Filho,
que diz ter sido "plantado" na Lubeca por Greenhalgh (leia trechos
do diálogo no quadro ao lado).
A Lubeca, que buscava a liberação de um projeto de US$ 600 milhões travado na prefeitura, é suspeita de ter contribuído com a
campanha eleitoral do PT de 1989.
"Essa fita seria usada como prova em qualquer lugar do planeta
que desse valor a uma investigação", afirmou Barreto. O material,
no entanto, não foi incluído em
nenhuma das três frentes de investigação abertas para apurar a
suposta cobrança de propina na
prefeitura paulistana.
Barreto, que hoje é procurador
de Justiça e já foi deputado estadual pelo PSDB de São Paulo
(1995-1999), acompanhou desde
o início o inquérito da Polícia Civil instaurado para investigar a
denúncia de corrupção.
A acusação havia sido feita por
Ronaldo Caiado, então candidato
ruralista à Presidência da República, durante debate transmitido
ao vivo pela TV em outubro de
1989, um mês antes da eleição.
"O inquérito da Polícia Civil caminhava com uma lógica muito
adequada e já tinha bons indícios,
mas fomos surpreendidos por
uma decisão que nos obrigava a
remeter o caso para a Polícia Federal", afirmou Dráusio Barreto.
Essa decisão partiu do hoje ministro aposentado do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Romildo
Bueno de Souza, ex-corregedor-geral da Justiça Eleitoral.
"Estávamos no meio de um depoimento, ouvindo pessoas,
quando agentes da Polícia Federal
entraram na sala e retiraram o
processo", disse Barreto.
O procurador acrescentou ainda outras "anormalidades" do caso Lubeca. "O mesmo ministro já
havia autorizado outra interrupção no inquérito, justamente
quando havíamos solicitado uma
série de buscas e apreensões para
rastrear o dinheiro. Claro que essas buscas ficaram prejudicadas."
A fita com a conversa gravada,
afirma Barreto, foi tornada pública quando o inquérito já estava
em poder da Polícia Federal.
O procurador disse "não ter entendido" a mudança de objeto da
investigação. Quando o caso estava com a Polícia Civil, investigava-se suposta cobrança de propina na prefeitura. Ao chegar na Polícia Federal, o inquérito passou a
apurar eventual crime eleitoral de
calúnia praticado por Caiado -o
argumento foi de que a acusação
foi feita durante debate eleitoral.
"Até hoje não entendi o que
aconteceu. Era um crime de natureza comum, não tinha nada a ver
com a Polícia Federal."
Procurado ontem pela reportagem, Romildo Bueno, ministro
aposentado do STJ, disse não se
lembrar do caso Lubeca: "Isso faz
muito tempo, não me lembro direito. E não vejo razão para falar
sobre isso."
Texto Anterior: Virgilistas devem usar acusação só nos bastidores Próximo Texto: Petista diz que fita não tinha "consistência" Índice
|