São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

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Base aliada repete racha de 2005 na Câmara

A exemplo da eleição vencida por Severino, Planalto vê divisão em sua base e coalizão de Lula pode ficar enfraquecida

Aldo e Chinaglia disputam com Fruet em eleição que começa às 15h; vencedor deverá ter ao menos 257 votos para levar no 1º turno


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois anos depois de sofrer sua pior derrota no Legislativo e perder o controle da Câmara, num processo de fragilização política que permeou a crise do mensalão, o governo Luiz Inácio Lula da Silva entra hoje com sua base parlamentar novamente dividida na disputa pela presidência da Casa.
O confronto entre o atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), poderá desencadear um tenso segundo turno entre eles e já deixa como seqüela uma fissura na alardeada "coalizão" que sustentará o governo Lula nos próximos quatro anos.
A disputa entre Aldo e Chinaglia começou oficialmente no início do mês, mas se arrasta desde o final do ano passado. Foi se tornando mais acirrada a cada dia, até provocar a divisão da base em dois grandes blocos partidários. A oposição fez o mesmo e montou seu bloco.
O terceiro candidato na eleição é o tucano Gustavo Fruet (PR), que concorre com o apoio de PSDB, PPS e do chamado "Grupo dos 30" -frente de parlamentares com atuação independente de suas bancadas.
A eleição começa às 15h. Antes, às 10h, tomam posse na abertura da legislatura os 513 deputados eleitos, sendo 236 "novatos" -renovação de 46%.
Para ser eleito no primeiro turno, um dos três candidatos deve obter ao menos 257 votos. Se isso não ocorrer, os dois mais votados disputam o segundo turno.
O vencedor será o 104º a assumir a presidência da Câmara, o terceiro cargo mais importante na hierarquia da República. Caberá a ele administrar um orçamento anual de R$ 3,4 bilhões, superior ao de ministérios como Cidades, Desenvolvimento e Cultura.
A escolha entre Aldo, Chinaglia e Fruet também é marcada por inédita visibilidade. Nas últimas semanas, os candidatos participaram de dois debates, o primeiro deles da Folha.
"Uma das vitórias dessa eleição já foi ter chamado a atenção da sociedade", avaliou o candidato tucano.

Queda-de-braço
A exemplo de 2005, o Planalto preferiu não intervir no embate entre aliados, repetindo uma estratégia que culminou no fiasco da eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE). À época, então ministro da coordenação política, Aldo foi apontado como um dos responsáveis.
Mas, sete meses depois, acabou eleito para substituir Severino, apeado do cargo na esteira de denúncias de corrupção. Sua vitória foi um dos trunfos do governo para enfrentar a enxurrada de processos de cassação de aliados, a maioria do PT.
Desta vez, Chinaglia conseguiu, um a um, o apoio da maioria das siglas de grande e médio porte, começando pelo PMDB, PP, PTB e PR (ex-PL). Esse arco de alianças lhe rendeu críticas de que a candidatura representa partidos ligados aos escândalos do mensalão e dos sanguessugas. Mas também o alçou à disputa como favorito.
Acuado pela intensa articulação do petista, Aldo tentou fiar sua candidatura no PFL. Mais tarde, conseguiu atrair o PDT ao grupo, que já agregava PC do B e PSB. A formação de um bloco unindo PDT, PC do B e PSB também aponta para um realinhamento das forças de centro-esquerda, deixando o PT cercado por legendas de centro.
"O PT optou por um eixo político de centro-direita. Nós fizemos o eixo que era a expectativa do governo", disse o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS).
"Minha maior preocupação a partir de amanhã [hoje] à noite é já trabalhar pela recomposição da base", afirmou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS).
Alheio à queda-de-braço na base, Fruet ainda vislumbrou vantagens. "[A briga] Pode me favorecer porque demonstra o grau de insegurança e imprevisibilidade da base do governo."
(SILVIO NAVARRO E LETÍCIA SANDER)


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