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JANIO DE FREITAS
A caminho da urna
Não só a forma e o alcance das mudanças numa reforma política, mas até os pontos a mudar carecem de clareza
QUEM VENCERÁ hoje para presidir a Câmara foi o assunto
político dos últimos 15 dias,
mas o silêncio em que foi deixada a
disputa pelo Senado guardou coisas
muito mais interessantes. Tudo o
que disseram ter havido na Câmara,
sob o nome de negociação, houve
entre senadores. Candidato de Lula,
Renan Calheiros, conhecedor e praticante de todos os truques possíveis
no Senado, manteve a probabilidade
da reeleição, mas encontrou no pefelista José Agripino Maia um adversário que atraiu apoios e, com
eles, um suspense mais interessante
que o da Câmara.
No Senado não haverá segunda
chance, a decisão é direta. E, como
Fernanda Krakovics evidenciou na
Folha de ontem, ao relacionar as
prováveis preferências de um punhado de senadores, entre a escolha esperada e o voto que chega à
urna o percurso é repleto de atalhos secretos. Se ocorresse, aliás, a
eleição de José Agripino significaria mudança expressiva no Senado,
que, de outro modo, continuará como extensão do Planalto, porém
com menos obviedade e mais momentos de vida própria do que a
Câmara dos últimos tempos.
A necessidade da reforma política recebe, hoje em dia, reconhecimento quase unânime.
Mesmo para a minoria que tem
noção do que se trata, não só a forma e o alcance das mudanças, mas
os próprios pontos a mudar carecem muito de clareza.
Um deles é das relações entre o
Executivo e o Legislativo, como as
eleições na Câmara e no Senado estão exibindo mais uma vez.
Se essas relações não tiverem
prioridade, na criação de freios à
sua perversão, as reformas partidárias, eleitorais e companhia pouco
ou nada modificarão.
Que energia
O influentíssimo lobby dos interessados na construção de Angra 3
e de hidrelétricas está em tal atividade que não se passa um só dia livre de notícias ou artigos que, por
maus ou inocentes motivos, repisem "a falta de energia se a economia crescer" e, outros, as contestações e explicações de que os falados
(e pobres) 5% de crescimento não
acarretarão corte de energia.
É injusto não criar o Prêmio Nacional de Paciência, para entrega a
Maurício Tolmasquim. Reconhecido, aqui e alhures, como técnico excepcional em energia, e atual presidente da estatal de pesquisa energética, todos os dias Tolmasquim
oferece novas contestações e explicações. Para nada, quando não tem
que explicar a explicação anterior,
porque foi distorcida ou invertida.
Haja paciência, para ele e para nós
outros.
Amém
Para que José Dirceu fizesse, na
ação política, uma pequena parcela
do que a imprensa lhe atribui dia a
dia, cada hora sua precisaria equivaler a dez das nossas. E sustentada
por ubiqüidade de fazer inveja aos
mais poderosos santos, ou não estaria em tantos lugares e encontros
ao mesmo tempo.
O jornalismo também é dado a
milagres.
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