São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

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JANIO DE FREITAS

A caminho da urna

Não só a forma e o alcance das mudanças numa reforma política, mas até os pontos a mudar carecem de clareza

QUEM VENCERÁ hoje para presidir a Câmara foi o assunto político dos últimos 15 dias, mas o silêncio em que foi deixada a disputa pelo Senado guardou coisas muito mais interessantes. Tudo o que disseram ter havido na Câmara, sob o nome de negociação, houve entre senadores. Candidato de Lula, Renan Calheiros, conhecedor e praticante de todos os truques possíveis no Senado, manteve a probabilidade da reeleição, mas encontrou no pefelista José Agripino Maia um adversário que atraiu apoios e, com eles, um suspense mais interessante que o da Câmara.
No Senado não haverá segunda chance, a decisão é direta. E, como Fernanda Krakovics evidenciou na Folha de ontem, ao relacionar as prováveis preferências de um punhado de senadores, entre a escolha esperada e o voto que chega à urna o percurso é repleto de atalhos secretos. Se ocorresse, aliás, a eleição de José Agripino significaria mudança expressiva no Senado, que, de outro modo, continuará como extensão do Planalto, porém com menos obviedade e mais momentos de vida própria do que a Câmara dos últimos tempos.
A necessidade da reforma política recebe, hoje em dia, reconhecimento quase unânime.
Mesmo para a minoria que tem noção do que se trata, não só a forma e o alcance das mudanças, mas os próprios pontos a mudar carecem muito de clareza.
Um deles é das relações entre o Executivo e o Legislativo, como as eleições na Câmara e no Senado estão exibindo mais uma vez.
Se essas relações não tiverem prioridade, na criação de freios à sua perversão, as reformas partidárias, eleitorais e companhia pouco ou nada modificarão.

Que energia
O influentíssimo lobby dos interessados na construção de Angra 3 e de hidrelétricas está em tal atividade que não se passa um só dia livre de notícias ou artigos que, por maus ou inocentes motivos, repisem "a falta de energia se a economia crescer" e, outros, as contestações e explicações de que os falados (e pobres) 5% de crescimento não acarretarão corte de energia.
É injusto não criar o Prêmio Nacional de Paciência, para entrega a Maurício Tolmasquim. Reconhecido, aqui e alhures, como técnico excepcional em energia, e atual presidente da estatal de pesquisa energética, todos os dias Tolmasquim oferece novas contestações e explicações. Para nada, quando não tem que explicar a explicação anterior, porque foi distorcida ou invertida. Haja paciência, para ele e para nós outros.

Amém
Para que José Dirceu fizesse, na ação política, uma pequena parcela do que a imprensa lhe atribui dia a dia, cada hora sua precisaria equivaler a dez das nossas. E sustentada por ubiqüidade de fazer inveja aos mais poderosos santos, ou não estaria em tantos lugares e encontros ao mesmo tempo.
O jornalismo também é dado a milagres.


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