São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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CRISE ASIÁTICA
Cinco países recebem menos capitais externos, mas economistas prevêem boom de suas exportações
"Tigres" deixam de receber US$ 100 bi

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos (Suíça)

Primeira contabilidade sobre os efeitos da crise asiática: os cinco países mais afetados (Indonésia, Malásia, Filipinas, Coréia e Tailândia) deixaram de receber quase US$ 100 bilhões em capitais externos.
A conta foi apresentada pelo Instituto de Finança Internacional, mostrando que os chamados mercados emergentes receberam, em 1997, só US$ 199,6 bilhões, contra US$ 295,2 bilhões -uma diferença, portanto, de US$ 95,6 bilhões.
Mas a perda ficou contida nos limites dos cinco países-vítimas, pois o fluxo de capitais para os demais emergentes aumentou, embora muito pouco: passou de US$ 202 bilhões em 96 para US$ 212 bilhões em 97. Pior: o Instituto prevê que, neste ano, haverá nova queda (para US$ 171,5 bilhões). Só não sabe como exatamente se distribuirão as perdas.
"O agudo declínio no fluxo líquido de capitais privados é a primeira queda significativa nesta década", diz Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto.
Os economistas do Instituto prevêem um boom de exportações dos países asiáticos cujas moedas sofreram fortes quedas.
O conjunto da região Ásia-Pacífico sairá de um déficit comercial de US$ 2,4 bilhões em 97 para um superávit de US$ 26 bilhões.
É natural: quem em julho passado gastava US$ 1 para importar, por exemplo, uma camisa da Indonésia, com o mesmo dólar importa agora seis camisas.
Só no caso coreano, o Instituto de Finanças da Coréia prevê aumento de 50% nas exportações.
Mas tais previsões não alcançam consenso entre os economistas presentes ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
Kenneth Courtis, economista e estrategista-chefe do Deutsche Bank para a Ásia-Pacífico, alinha-se entre os que acham que o boom exportador ocorrerá, a menos que o Japão estimule "agressivamente" a demanda interna para absorver parte da produção de seus vizinhos asiáticos.
Sem isso, "os países asiáticos poderão exportar a preços tão baixos que porão sob tremenda pressão os países da América Latina e da Europa Oriental", imagina.
Já seu colega do também alemão Commerzbank, Martin Kohlhausen, acha que os países asiáticos "não têm como explorar totalmente sua nova competitividade", pois o aumento dos preços internos desarrumará toda a economia. Ainda assim, Kohlhausen admite que "haverá considerável pressão sobre os mercados ocidentais".
Para Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional (EUA), essa pressão se traduzirá em um aumento de quase US$ 100 bilhões no déficit comercial norte-americano e em uma redução similar do saldo da União Européia.
Além do comércio e dos investimentos, o crescimento econômico mundial também será atingido pela crise asiática. Muito ou pouco, é uma questão de opinião.
Bergsten acha que o efeito será grande e que o crescimento mundial se reduzirá consideravelmente mais do que as previsões até agora feitas. A mais completa, do FMI (Fundo Monetário Internacional), diz que o mundo crescerá 0,8 ponto percentual menos do que o faria sem a crise asiática.
Para o Brasil (e a Rússia), Bergsten prevê crescimento zero ou até menos. Mas o governo brasileiro trabalha com entre 0,5% e 2% de crescimento, dependendo da velocidade com que puder (se puder) devolver a taxa de juros ao patamar vigente antes da crise.
O ministro mexicano de Finanças, José Gurria Trevino, diz que o crescimento se reduzirá dos 5,2% inicialmente previstos para 5%, em consequência do menor crescimento norte-americano e da queda do preço do petróleo.
Mas todos esses cálculos estão sujeitos a duas variáveis para as quais não há certeza alguma:
1 - Se a China vai desvalorizar a sua moeda, o que agravaria tremendamente a crise (essa é uma das raras avaliações consensuais);
2 - Ou acontecerá no Japão. "O Japão está na iminência de cair em uma situação muito ruim. Sua vulnerabilidade é extrema, o que cria sérios e dramáticos riscos para a economia mundial", diz Rudiger Dornbusch, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Por isso, o mais sensato parece ser a prudência de Derick Moughan, vice-presidente da Salomon Smith Barney (EUA): "É importante não subestimar os riscos, mas também seria um erro exagerar o que está em jogo".



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