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CRISE ASIÁTICA
Cinco países recebem menos capitais externos, mas economistas prevêem boom de suas exportações
"Tigres" deixam de receber US$ 100 bi
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos (Suíça)
Primeira contabilidade sobre
os efeitos da crise asiática: os
cinco países
mais afetados
(Indonésia, Malásia, Filipinas,
Coréia e Tailândia) deixaram de
receber quase US$ 100 bilhões em
capitais externos.
A conta foi apresentada pelo Instituto de Finança Internacional,
mostrando que os chamados mercados emergentes receberam, em
1997, só US$ 199,6 bilhões, contra
US$ 295,2 bilhões -uma diferença, portanto, de US$ 95,6 bilhões.
Mas a perda ficou contida nos limites dos cinco países-vítimas,
pois o fluxo de capitais para os demais emergentes aumentou, embora muito pouco: passou de US$
202 bilhões em 96 para US$ 212 bilhões em 97. Pior: o Instituto prevê
que, neste ano, haverá nova queda
(para US$ 171,5 bilhões). Só não
sabe como exatamente se distribuirão as perdas.
"O agudo declínio no fluxo líquido de capitais privados é a primeira queda significativa nesta década", diz Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto.
Os economistas do Instituto prevêem um boom de exportações
dos países asiáticos cujas moedas
sofreram fortes quedas.
O conjunto da região Ásia-Pacífico sairá de um déficit comercial
de US$ 2,4 bilhões em 97 para um
superávit de US$ 26 bilhões.
É natural: quem em julho passado gastava US$ 1 para importar,
por exemplo, uma camisa da Indonésia, com o mesmo dólar importa agora seis camisas.
Só no caso coreano, o Instituto
de Finanças da Coréia prevê aumento de 50% nas exportações.
Mas tais previsões não alcançam
consenso entre os economistas
presentes ao encontro anual do
Fórum Econômico Mundial.
Kenneth Courtis, economista e
estrategista-chefe do Deutsche
Bank para a Ásia-Pacífico, alinha-se entre os que acham que o
boom exportador ocorrerá, a menos que o Japão estimule "agressivamente" a demanda interna para absorver parte da produção de
seus vizinhos asiáticos.
Sem isso, "os países asiáticos
poderão exportar a preços tão baixos que porão sob tremenda pressão os países da América Latina e
da Europa Oriental", imagina.
Já seu colega do também alemão
Commerzbank, Martin Kohlhausen, acha que os países asiáticos
"não têm como explorar totalmente sua nova competitividade",
pois o aumento dos preços internos desarrumará toda a economia.
Ainda assim, Kohlhausen admite
que "haverá considerável pressão
sobre os mercados ocidentais".
Para Fred Bergsten, diretor do
Instituto para a Economia Internacional (EUA), essa pressão se
traduzirá em um aumento de quase US$ 100 bilhões no déficit comercial norte-americano e em
uma redução similar do saldo da
União Européia.
Além do comércio e dos investimentos, o crescimento econômico
mundial também será atingido pela crise asiática. Muito ou pouco, é
uma questão de opinião.
Bergsten acha que o efeito será
grande e que o crescimento mundial se reduzirá consideravelmente mais do que as previsões até
agora feitas. A mais completa, do
FMI (Fundo Monetário Internacional), diz que o mundo crescerá
0,8 ponto percentual menos do
que o faria sem a crise asiática.
Para o Brasil (e a Rússia), Bergsten prevê crescimento zero ou até
menos. Mas o governo brasileiro
trabalha com entre 0,5% e 2% de
crescimento, dependendo da velocidade com que puder (se puder)
devolver a taxa de juros ao patamar vigente antes da crise.
O ministro mexicano de Finanças, José Gurria Trevino, diz que o
crescimento se reduzirá dos 5,2%
inicialmente previstos para 5%,
em consequência do menor crescimento norte-americano e da
queda do preço do petróleo.
Mas todos esses cálculos estão
sujeitos a duas variáveis para as
quais não há certeza alguma:
1 - Se a China vai desvalorizar a
sua moeda, o que agravaria tremendamente a crise (essa é uma
das raras avaliações consensuais);
2 - Ou acontecerá no Japão. "O
Japão está na iminência de cair em
uma situação muito ruim. Sua vulnerabilidade é extrema, o que cria
sérios e dramáticos riscos para a
economia mundial", diz Rudiger
Dornbusch, do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts).
Por isso, o mais sensato parece
ser a prudência de Derick Moughan, vice-presidente da Salomon
Smith Barney (EUA): "É importante não subestimar os riscos,
mas também seria um erro exagerar o que está em jogo".
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