|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VISITA À SUÍÇA
FHC comenta que anúncio de unidade monetária para o Mercosul é "puro devaneio" de colega argentino
Moeda única está em marcha, diz Menem
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos (Suíça)
O presidente
argentino Carlos Menem
anunciou ontem que já pôs
em marcha o
processo para a
criação de uma
moeda comum para todos os quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
O anúncio, em almoço de que
participaram seus colegas Fernando Henrique Cardoso (Brasil) e
Eduardo Frei (Chile), causou desconforto em FHC.
A Folha ouviu-o comentar com
os que o cercavam que se trata de
"puro devaneio" de Menem.
Do ponto de vista do presidente
argentino, é bem mais que isso: a
Folha apurou que Menem já encomendou um estudo ao seu secretário de Assuntos Estratégicos para apresentá-lo o mais depressa
possível.
Aos presentes ao almoço, Menem disse que a idéia da moeda
comum nascera na cúpula do
Mercosul realizada em Montevidéu, em dezembro, e garantiu que
vai-se "avançar muito depressa
nesse processo". Chegou a dizer
que a moeda única será "rapidamente uma realidade".
Para o Itamaraty, no entanto, a
moeda única pode até vir a ser
uma boa idéia, mas, antes disso, é
preciso completar o processo de
liberalização comercial no Mercosul, o que só acontecerá em 2005,
bem depois de terminar, em 99, o
mandato de Menem.
O almoço com os três presidentes, na "Dining Room" do hotel
Schweizerhof, ao pé das nevadas
montanhas de Davos, transformou-se em uma celebração tropical em torno do Mercosul.
"É uma das aventuras mais importantes na história da região",
chegou a dizer o uruguaio Enrique
Iglesias, presidente do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento). "É um dos instrumentos
mais importantes de nossa inserção internacional", emendou
Eduardo Frei.
"É um marco histórico e que se
pode tomar como definitivo", reforçou Fernando Henrique.
Na festa tropical, não faltaram
alegres provocações entre os três
presidentes.
Frei contou que sua família era
de uma cidade suíça próxima
(Saint Gallen, também nos Alpes).
FHC aproveitou a informação
para comentar: "Agora entendo
porque os chilenos são tão bons
em finanças".
Menem não quis ficar atrás: lembrou que era descendente dos fenícios, "que abriram as rotas ao
comércio".
O presidente argentino cobrou
as origens de FHC, que, na sua
vez, aproveitou para tirar o pé da
cozinha e dizer-se genuíno produto da União Européia (Portugal e
Espanha, 2 dos 15 países que formam o conglomerado europeu).
Foram tantas as louvações ao
Mercosul que seus governantes
acabaram exagerando um pouco
nos comentários.
Menem, por exemplo, ao falar
da moeda única, disse que o Mercosul faria em cinco anos o que a
Europa levou 50 para produzir,
qual seja a unificação monetária.
FHC comenta Itamar
Antes do almoço, o presidente
brasileiro concedeu rápida entrevista aos jornalistas, onde comentou decisão que teria sido tomada
pelo ex-presidente Itamar Franco
de concorrer à Presidência.
FHC disse que não teme um racha no PMDB com a candidatura
de Itamar. Disse que não quer comentar o assunto antes de uma
conversa que vai ter com o ex-presidente esta semana.
"Não quero opinar sobre outros
partidos, tenho tido um apoio
muito grande do PMDB nas reformas e temos relação muito boa
hoje com o conjunto das forças representativas do PMDB", declarou. "O presidente Itamar é meu
amigo e meu embaixador."
FHC disse que vai esperar o encontro com Itamar nessa semana
para "sentir qual é a disposição
dele". "Seja qual for a decisão dele, a tomarei com naturalidade."
"Ele sempre admitiu (que seria
candidato). É um excelente amigo
e sua candidatura é apenas uma
questão de convencer o partido
dele, mais nada", disse FHC.
Ingerência dos EUA
Sobre relatório dos EUA que critica o salário mínimo brasileiro e
diz que no governo não existe uma
representação negra, étnica, adequada, o presidente acusou os
EUA de "ingerência".
"Acho que há ingerência de outros países. Não li o relatório, mas
não fico falando sobre o que acontece dentro dos Estados Unidos."
Colaborou Irineu Machado, enviado especial a
Davos
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|