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VIAGEM À SUÍCA
FHC e Soros
pedem uma
nova ordem
internacional
do enviado especial a Davos (Suíça)
O presidente FHC e o megainvestidor George Soros cobraram
ontem um novo Bretton Woods, o
acordo que criou a ordem internacional, após o fim da 2ª Guerra
Mundial. "Os mercados, por si só,
não vão dar conta disso", disse
FHC, referindo-se à crise asiática e
seus desdobramentos.
"A tese de que o mercado tende
a levar as coisas ao equilíbrio pode
se aplicar a bens e serviços comuns, mas não funciona para os
mercados financeiros, que são
inerentemente instáveis", reforçou Soros.
Os dois participaram de mesa-redonda na edição-98 do Fórum Econômico Mundial destinada exatamente a discutir as carências do sistema de livre mercado.
À mesa, além dos dois, estavam
John Sweeney, presidente da central sindical dos EUA AFL-CIO, e
sir Leon Brittan, vice-presidente
da Comissão Européia, braço executivo da União Européia.
Bem feitas as contas, o livre mercado, hoje absolutamente predominante, não se saiu bem no debate. Soros repetiu sua conhecida
crítica ao que chama de "fundamentalistas do mercado" -os que
têm uma fé cega na capacidade do
mercado de fazer as coisas certas.
FHC também bateu na mesma
tecla: "Seria um sério erro acreditar que mapear o caminho à frente
para qualquer sociedade possa ser
deixado às forças de mercado. O
mercado tem muito pouco a dizer
a respeito de valores éticos".
Boa parte da sessão acabou consumida pelo debate sobre a necessidade de novos mecanismos de
controle do sistema financeiro.
FHC defendeu sua antiga tese de
que é preciso uma regulamentação "para prevenir ou ao menos
minimizar o impacto das crises".
Mas, como sabia que o auditório
era majoritariamente de homens
de negócio, avessos a controles,
concedeu: "É preciso tomar cuidado para não jogar fora a criança
junto com a água do banho" (ou
seja, não criar uma regulamentação que sufoque o mercado).
Soros e FHC divergiram, no entanto, sobre a iminência de um
novo Bretton Woods. O presidente brasileiro festejou o fato de que
"um consenso está para se formar
sobre a necessidade de instrumentos regulatórios para o sistema
bancário".
Soros, em entrevista coletiva
posterior, disse que os governantes em geral "estão no momento
ocupados demais em apagar incêndios para poderem pensar a
mais longo prazo".
Para FHC, o prazo é curto. O
presidente queixou-se de que todo
o seu esforço para "reconstruir o
país" e abri-lo ao investimento externo não impediu "não digo um
ataque, mas uma pressão sobre a
moeda brasileira".
Fernando Henrique culpou a falta de informação dos investidores
internacionais por tal ataque ou
pressão, no pressuposto de que
não havia razões objetivas para
que o real fosse alvejado na esteira
da crise asiática.
A partir dessa tese, o presidente
brasileiro centrou sua proposta de
supervisão do sistema financeiro
na necessidade de mais informações.
(CLÓVIS ROSSI)
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