São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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VIAGEM À SUÍCA
FHC e Soros pedem uma nova ordem internacional

do enviado especial a Davos (Suíça)

O presidente FHC e o megainvestidor George Soros cobraram ontem um novo Bretton Woods, o acordo que criou a ordem internacional, após o fim da 2ª Guerra Mundial. "Os mercados, por si só, não vão dar conta disso", disse FHC, referindo-se à crise asiática e seus desdobramentos.
"A tese de que o mercado tende a levar as coisas ao equilíbrio pode se aplicar a bens e serviços comuns, mas não funciona para os mercados financeiros, que são inerentemente instáveis", reforçou Soros.
Os dois participaram de mesa-redonda na edição-98 do Fórum Econômico Mundial destinada exatamente a discutir as carências do sistema de livre mercado.
À mesa, além dos dois, estavam John Sweeney, presidente da central sindical dos EUA AFL-CIO, e sir Leon Brittan, vice-presidente da Comissão Européia, braço executivo da União Européia.
Bem feitas as contas, o livre mercado, hoje absolutamente predominante, não se saiu bem no debate. Soros repetiu sua conhecida crítica ao que chama de "fundamentalistas do mercado" -os que têm uma fé cega na capacidade do mercado de fazer as coisas certas.
FHC também bateu na mesma tecla: "Seria um sério erro acreditar que mapear o caminho à frente para qualquer sociedade possa ser deixado às forças de mercado. O mercado tem muito pouco a dizer a respeito de valores éticos".
Boa parte da sessão acabou consumida pelo debate sobre a necessidade de novos mecanismos de controle do sistema financeiro.
FHC defendeu sua antiga tese de que é preciso uma regulamentação "para prevenir ou ao menos minimizar o impacto das crises". Mas, como sabia que o auditório era majoritariamente de homens de negócio, avessos a controles, concedeu: "É preciso tomar cuidado para não jogar fora a criança junto com a água do banho" (ou seja, não criar uma regulamentação que sufoque o mercado).
Soros e FHC divergiram, no entanto, sobre a iminência de um novo Bretton Woods. O presidente brasileiro festejou o fato de que "um consenso está para se formar sobre a necessidade de instrumentos regulatórios para o sistema bancário".
Soros, em entrevista coletiva posterior, disse que os governantes em geral "estão no momento ocupados demais em apagar incêndios para poderem pensar a mais longo prazo".
Para FHC, o prazo é curto. O presidente queixou-se de que todo o seu esforço para "reconstruir o país" e abri-lo ao investimento externo não impediu "não digo um ataque, mas uma pressão sobre a moeda brasileira".
Fernando Henrique culpou a falta de informação dos investidores internacionais por tal ataque ou pressão, no pressuposto de que não havia razões objetivas para que o real fosse alvejado na esteira da crise asiática.
A partir dessa tese, o presidente brasileiro centrou sua proposta de supervisão do sistema financeiro na necessidade de mais informações. (CLÓVIS ROSSI)


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