|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RORAIMA
Mortalidade infantil cresce entre índios ianomâmis
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
A mortalidade infantil entre os
índios ianomâmis de Roraima, o
maior grupo seminômade do país,
registrou em 97 o número mais alto dos últimos sete anos -45 bebês com menos de 1 ano morreram, em alguns casos por falta de
assistência médica.
Em 96, morreram 27 crianças
com idade inferior a 1 ano. Com
isso, o coeficiente de mortalidade
infantil por cada mil nascidos vivos aumentou de 73,9 para 129,3,
o que é semelhante aos índices de
regiões pobres da África e do Nordeste brasileiro.
Os dados são do Distrito Sanitário Ianomâmi, divisão da FNS
(Fundação Nacional de Saúde)
criada pelo Ministério da Saúde
para atender cerca de 8.000 ianomâmis que vivem em Roraima.
A estatística do distrito consta de
denúncia encaminhada nesta semana pelo deputado Gilney Viana
(PT-MT) à Procuradoria da República em Roraima.
Segundo o deputado, de janeiro
a agosto do ano passado foram registrados entre os ianomâmis
6.423 casos de doenças pulmonares e infecções respiratórias agudas. Na denúncia, Viana afirma
que entre os índios está ocorrendo
casos de doenças já controladas
no país, como a oncocercose,
transmitida por insetos.
O coordenador do distrito, Edgard Magalhães, afirma que o aumento das mortes deve ser atribuído à falta de profissionais para
trabalhar nas aldeias e à invasão de
garimpeiros, que só foi combatida
no final do ano passado.
"Os garimpeiros levam doenças, como o resfriado, que são suportáveis para nós e podem ser fatais para os índios", disse o coordenador Magalhães.
A principal doença que atingiu
os índios foi a malária. O distrito
sanitário registrou 3.122 casos da
doença em 97, o que representa
quase 40% da população indígena
ianomâmi de Roraima.
No início deste mês, a Funai
(Fundação Nacional do Índio)
concluiu operação que retirou 750
garimpeiros. Entidades indigenistas afirmam que ainda existem
cerca de 2.000 garimpeiros nas terras ianomâmis, a maior área indígena do país, com 9,4 milhões de
hectares.
Profissionais urbanos
Segundo o coordenador do distrito, o governo federal paga 249
profissionais de saúde (149 concursados e 100 temporários) para
atender os ianomâmis em Roraima, mas apenas 46 aceitam trabalhar nas aldeias.
O restante fica na Casa do Índio,
em Boa Vista, para onde vão os
doentes mais graves, transportados de avião. Eles não aceitam
passar 45 dias nas aldeias e receber
apenas R$ 17,00 por cada dia de
trabalho, enquanto funcionários
de outros órgãos federais têm diárias de R$ 68,00.
A coordenadora substituta de
Saúde Indígena da FNS, Isa Maria
Nunes, diz que os salários dos
concursados -R$ 800 para nível
superior e R$ 400 para nível médio- não incentivam longas temporadas nas aldeias e que não pretende demiti-los.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|