São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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RORAIMA
Mortalidade infantil cresce entre índios ianomâmis

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A mortalidade infantil entre os índios ianomâmis de Roraima, o maior grupo seminômade do país, registrou em 97 o número mais alto dos últimos sete anos -45 bebês com menos de 1 ano morreram, em alguns casos por falta de assistência médica.
Em 96, morreram 27 crianças com idade inferior a 1 ano. Com isso, o coeficiente de mortalidade infantil por cada mil nascidos vivos aumentou de 73,9 para 129,3, o que é semelhante aos índices de regiões pobres da África e do Nordeste brasileiro.
Os dados são do Distrito Sanitário Ianomâmi, divisão da FNS (Fundação Nacional de Saúde) criada pelo Ministério da Saúde para atender cerca de 8.000 ianomâmis que vivem em Roraima.
A estatística do distrito consta de denúncia encaminhada nesta semana pelo deputado Gilney Viana (PT-MT) à Procuradoria da República em Roraima.
Segundo o deputado, de janeiro a agosto do ano passado foram registrados entre os ianomâmis 6.423 casos de doenças pulmonares e infecções respiratórias agudas. Na denúncia, Viana afirma que entre os índios está ocorrendo casos de doenças já controladas no país, como a oncocercose, transmitida por insetos.
O coordenador do distrito, Edgard Magalhães, afirma que o aumento das mortes deve ser atribuído à falta de profissionais para trabalhar nas aldeias e à invasão de garimpeiros, que só foi combatida no final do ano passado.
"Os garimpeiros levam doenças, como o resfriado, que são suportáveis para nós e podem ser fatais para os índios", disse o coordenador Magalhães.
A principal doença que atingiu os índios foi a malária. O distrito sanitário registrou 3.122 casos da doença em 97, o que representa quase 40% da população indígena ianomâmi de Roraima.
No início deste mês, a Funai (Fundação Nacional do Índio) concluiu operação que retirou 750 garimpeiros. Entidades indigenistas afirmam que ainda existem cerca de 2.000 garimpeiros nas terras ianomâmis, a maior área indígena do país, com 9,4 milhões de hectares.
Profissionais urbanos
Segundo o coordenador do distrito, o governo federal paga 249 profissionais de saúde (149 concursados e 100 temporários) para atender os ianomâmis em Roraima, mas apenas 46 aceitam trabalhar nas aldeias.
O restante fica na Casa do Índio, em Boa Vista, para onde vão os doentes mais graves, transportados de avião. Eles não aceitam passar 45 dias nas aldeias e receber apenas R$ 17,00 por cada dia de trabalho, enquanto funcionários de outros órgãos federais têm diárias de R$ 68,00.
A coordenadora substituta de Saúde Indígena da FNS, Isa Maria Nunes, diz que os salários dos concursados -R$ 800 para nível superior e R$ 400 para nível médio- não incentivam longas temporadas nas aldeias e que não pretende demiti-los.



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