São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HISTÓRIA
Moradores de Silveiras (SP) acharam dez granadas dos paulistas; Vale do Paraíba teve vários confrontos
Exército mapeia batalhas de 32 em SP

SAMY CHARANEK
das Regionais

O Exército brasileiro está mapeando áreas onde ocorreram batalhas durante a Revolução de 32 para encontrar armas e granadas enterradas no Vale do Paraíba.
A operação foi determinada pelo coronel Luiz Eduardo Rocha Paiva, do 5º BIL (Batalhão de Infantaria Leve), de Lorena, e tem como objetivo evitar possíveis explosões acidentais desses armamentos.
A medida foi tomada depois que crianças da Vila Marina, em Silveiras (215 km a nordeste de São Paulo), encontraram -entre os dias 23 e 27 do mês passado- dez granadas enterradas no local.
O material encontrada em Silveiras foi identificado pelo historiador Hernâni Donato -especialista em história militar- como sendo da Revolução de 32.
O Exército supõe que o material seja dos constitucionalistas, mas ainda não tem certeza.
"As granadas de 32 foram fabricadas exclusivamente para os combates. No Brasil, essas granadas nunca mais foram utilizadas", afirmou Donato.
A Folha mostrou ao historiador uma foto das granadas achadas e, segundo ele, não há dúvidas que elas são de 32.
Em Silveiras, houve confrontos entre 3 e 12 de setembro de 32, no período final do combate.
A rendição dos paulistas foi assinada em Cruzeiro (30 km de Silveiras), no dia 27 de setembro.
Uma equipe do 5º BIL já destruiu nove das granadas encontradas.
Para achar mais artefatos, o Exército usará detector de metais.
"As granadas encontradas poderiam explodir a qualquer momento", afirmou Rocha Paiva.
O Exército acampou no local nos dias 24, 26, 27 e 28 do mês passado.
O explosivo, segundo ele, libera estilhaços que podem ferir ou matar pessoas em um raio de 30 a 35 metros do local da explosão.
Na quinta-feira passada, a prefeitura determinou a interdição de uma faixa de 300 m2 no local, considerado agora área de risco.
Memória
Segundo o ex-combatente paulista Clotário Andrade Cintra, 86, a descoberta de granadas em Silveiras era esperada.
"Quando o pessoal fez a retirada em 32, foi um Deus nos acuda, deixaram tudo para trás. Ali, onde acharam as granadas era um posto de comando durante a guerra", disse Cintra, último sobrevivente de da época em Silveiras.
Ele ainda guarda do conflito balas deflagradas de canhão, cartuchos de fuzil e um capacete.
À época solteiro, Cintra conta que escapou das batalhas sem ter que tirar a vida de outro brasileiro.
"Foi, porém, uma guerra fratricida", disse o ex-combatente, que, em 32, transportava armas, munição e suprimento para os soldados paulistas na frente de batalha.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.