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JANIO DE FREITAS
Em benefício pessoal
Desta vez não pode haver a
desculpa de que o objetivo era
a aprovação de projetos "do
interesse do país". Desta vez
ficou claro o uso de verbas
públicas por Fernando Henrique Cardoso no interesse pessoal de Fernando Henrique
Cardoso.
A articulação da campanha
para que o PMDB não tenha
candidato próprio na eleição
presidencial, para apoiar Fernando Henrique, é toda feita
na Presidência da República,
sob orientação tática das lideranças do PFL. Os peemedebistas estão divididos, sem
que se possa aceitar como segura a contagem de forças que
cada lado apresenta.
O certo é que, se Fernando
Henrique tivesse peemedebistas em número bastante e
confiável para levar o PMDB
a apoiá-lo, não seria necessário o esforço para derrubar o
presidente do partido, deputado Paes de Andrade, batalhador da candidatura própria. Na quinta-feira, Fernando Henrique afinal conseguiu
da comissão executiva do
PMDB que a convenção, em 8
de março, além de decidir a
candidatura própria ou não,
decida também se Paes de Andrade continuará como presidente do partido.
Explica-se: caso os convencionais do PMDB optem por
um candidato seu, se Fernando Henrique conseguir ao menos derrubar Paes Andrade
terá, ainda, probabilidades de
revirar os peemedebistas. O
prazo para a decisão final dos
partidos é junho.
Não faltando prazo, muito
menos faltam instrumentos e
restrições, quaisquer que fossem, para usá-los. Para o
meio êxito de quinta-feira, o
próprio Fernando Henrique
juntou-se aos seus intermediários e passou os últimos
dias, antes de viajar para a
Europa, retomando o seu assédio a peemedebistas favoráveis ao candidato próprio.
O senador Carlos Bezerra foi
um dos procurados por Fernando Henrique para conversar. Apresentou suas reivindicações, importando em estimados R$ 250 milhões, para
ações governamentais, a curto
prazo, em áreas do seu eleitorado. A ala do PMDB
pró-candidato próprio logo
soube que a tática de Fernando Henrique no PMDB já contava com um novo integrante.
Mas nenhum fernandista
precisa se preocupar com CPI,
processo criminal, o cabível
impeachment. Os que poderiam acionar tais exigências
da Constituição estão no mesmo cofre. Perdão, no mesmo
barco.
À luz do dia
A crítica de Sérgio Motta à
privatizada Light liga-se por
caminhos soturnos à ameaça
de José Mário Abdo, presidente da inútil Agência Nacional
de Energia Elétrica, segundo
o qual os maus serviços da
empresa podem justificar a
desprivatização.
Trava-se na cúpula da Light
uma luta áspera. O grupo
Steinbruch, que já tem a presidência do conselho da empresa, quer poder maior, porque não tem conseguido impor-se em muitas decisões financeiras.
Participante dos consórcios
compradores da Vale e da Siderúrgica Nacional, graças ao
suporte dado pelos fundos de
pensão de estatais (até por ordem do governo), o grupo
Steinbruch tem outras vultosas aquisições engatilhadas
em associação com fundos de
estatais (com a Previ, do Banco do Brasil, por exemplo, para a compra de parte da empresa de energia do Espírito
Santo).
À custa de cortar investimentos, reduzir à insignificância o seu quadro de trabalhadores técnicos e de submeter o Rio a blecautes diários, a
Light privatizada tornou-se
altamente lucrativa. Tem caixa para dar suporte à aquisições de outras empresas. E seria ótimo para a Siderúrgica
Nacional, grande consumidora de energia, ter a Light como sócia bem compreensiva.
Mas certos sócios da própria
Light não pensam nada disso.
Se a população se queixa da
Light, não tem importância.
Mas, se os mesmos motivos de
queixa servem para o governo
atacar a Light, instabilizando
seus atuais dirigentes -via
rápida para um reacerto entre acionistas-, nesse caso os
blecautes diários se tornam
importantes.
O grupo Steinbruch é considerado, nos círculos políticos
mais informados, o maior financiador de campanha de
Fernando Henrique Cardoso.
Nos mesmos e em círculos empresariais há quem o considere até mais do que isso.
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