São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
Em benefício pessoal

Desta vez não pode haver a desculpa de que o objetivo era a aprovação de projetos "do interesse do país". Desta vez ficou claro o uso de verbas públicas por Fernando Henrique Cardoso no interesse pessoal de Fernando Henrique Cardoso.
A articulação da campanha para que o PMDB não tenha candidato próprio na eleição presidencial, para apoiar Fernando Henrique, é toda feita na Presidência da República, sob orientação tática das lideranças do PFL. Os peemedebistas estão divididos, sem que se possa aceitar como segura a contagem de forças que cada lado apresenta.
O certo é que, se Fernando Henrique tivesse peemedebistas em número bastante e confiável para levar o PMDB a apoiá-lo, não seria necessário o esforço para derrubar o presidente do partido, deputado Paes de Andrade, batalhador da candidatura própria. Na quinta-feira, Fernando Henrique afinal conseguiu da comissão executiva do PMDB que a convenção, em 8 de março, além de decidir a candidatura própria ou não, decida também se Paes de Andrade continuará como presidente do partido.
Explica-se: caso os convencionais do PMDB optem por um candidato seu, se Fernando Henrique conseguir ao menos derrubar Paes Andrade terá, ainda, probabilidades de revirar os peemedebistas. O prazo para a decisão final dos partidos é junho.
Não faltando prazo, muito menos faltam instrumentos e restrições, quaisquer que fossem, para usá-los. Para o meio êxito de quinta-feira, o próprio Fernando Henrique juntou-se aos seus intermediários e passou os últimos dias, antes de viajar para a Europa, retomando o seu assédio a peemedebistas favoráveis ao candidato próprio.
O senador Carlos Bezerra foi um dos procurados por Fernando Henrique para conversar. Apresentou suas reivindicações, importando em estimados R$ 250 milhões, para ações governamentais, a curto prazo, em áreas do seu eleitorado. A ala do PMDB pró-candidato próprio logo soube que a tática de Fernando Henrique no PMDB já contava com um novo integrante.
Mas nenhum fernandista precisa se preocupar com CPI, processo criminal, o cabível impeachment. Os que poderiam acionar tais exigências da Constituição estão no mesmo cofre. Perdão, no mesmo barco.

À luz do dia
A crítica de Sérgio Motta à privatizada Light liga-se por caminhos soturnos à ameaça de José Mário Abdo, presidente da inútil Agência Nacional de Energia Elétrica, segundo o qual os maus serviços da empresa podem justificar a desprivatização.
Trava-se na cúpula da Light uma luta áspera. O grupo Steinbruch, que já tem a presidência do conselho da empresa, quer poder maior, porque não tem conseguido impor-se em muitas decisões financeiras.
Participante dos consórcios compradores da Vale e da Siderúrgica Nacional, graças ao suporte dado pelos fundos de pensão de estatais (até por ordem do governo), o grupo Steinbruch tem outras vultosas aquisições engatilhadas em associação com fundos de estatais (com a Previ, do Banco do Brasil, por exemplo, para a compra de parte da empresa de energia do Espírito Santo).
À custa de cortar investimentos, reduzir à insignificância o seu quadro de trabalhadores técnicos e de submeter o Rio a blecautes diários, a Light privatizada tornou-se altamente lucrativa. Tem caixa para dar suporte à aquisições de outras empresas. E seria ótimo para a Siderúrgica Nacional, grande consumidora de energia, ter a Light como sócia bem compreensiva. Mas certos sócios da própria Light não pensam nada disso.
Se a população se queixa da Light, não tem importância. Mas, se os mesmos motivos de queixa servem para o governo atacar a Light, instabilizando seus atuais dirigentes -via rápida para um reacerto entre acionistas-, nesse caso os blecautes diários se tornam importantes.
O grupo Steinbruch é considerado, nos círculos políticos mais informados, o maior financiador de campanha de Fernando Henrique Cardoso. Nos mesmos e em círculos empresariais há quem o considere até mais do que isso.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.