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SUCESSÃO
Dinheiro será gerado na venda de estatais; governo não deve pressionar para que dívidas sejam abatidas
Estados terão R$ 11,8 bi para gastar em 98
MARTA SALOMON
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Apontados
pelo governo
como bodes expiatórios do
rombo nas contas públicas em
97, os gastos dos
governos estaduais com o dinheiro das privatizações podem ser reprisados neste ano eleitoral.
Os Estados devem arrecadar pelo menos R$ 11,8 bilhões com a
venda de suas empresas estatais
em 98, segundo previsão do Ministério do Planejamento. Com
regras pouco rígidas para o uso
desse dinheiro, nada impede que
parte dele promova uma gastança
eleitoral, em vez de abater dívidas.
O cronograma oficial das privatizações indica que mais de 95%
(R$ 11,3 bilhões) do dinheiro entrará no caixa dos Estados até junho, a tempo de ser gasto em
obras eleitorais.
O Estado mais beneficiado será
São Paulo, governado por Mário
Covas (PSDB). Também vão receber dinheiro de privatizações Ceará, Minas Gerais, Pernambuco,
Amazonas e Roraima.
Por conveniência política, o governo federal não exigirá um aperto nos gastos estaduais. O presidente Fernando Henrique Cardoso não quer melindrar governadores aliados que precisam do dinheiro das privatizações para se
viabilizarem eleitoralmente.
Oficialmente, a equipe econômica alega que não pode impor aos
governadores um percentual
maior de pagamento das dívidas.
Esse percentual varia de Estado a
Estado, de acordo com o que negociam quando rolam as dívidas.
Na contabilidade oficial, se o dinheiro da privatização não reduz a
dívida, aumenta o déficit. Mesmo
que sirva para pagar contas atrasadas com pessoal, por exemplo.
Depois do anúncio do desastre
fiscal de 97, o governo avaliou que
há pouco de novo a ser feito até a
eleição de 4 de outubro.
Quatro fatores
Na avaliação ainda preliminar
do governo, quatro fatores podem
ajudar a melhorar as contas públicas durante o ano: as despesas da
Previdência, as contas dos Estados, as taxas de juros e a arrecadação de impostos.
A seguir, o que o governo acha
que pode acontecer com cada um
desses quatro fatores:
1) Previdência - falta ainda a votação final da reforma em análise
na Câmara dos Deputados.
Se forem promulgadas em abril,
como deseja o governo, as mudanças nas aposentadorias devem
gerar uma economia de R$ 3,4 bilhões em 12 meses, de acordo com
cálculos do Planejamento. A contabilidade do Ministério da Previdência é menos otimista: prevê
alívio de menos de R$ 1 bilhão de
abril até o final do ano.
2) Estados - o governo federal
avalia que o comportamento das
contas estaduais vai depender, em
grande parte, de como o dinheiro
das privatizações for gasto. O resultado não deverá ser pior que o
registrado no ano passado.
3) Juros - a trajetória de queda
das taxas deve se manter, apesar
de os aliados políticos pedirem
mais pressa. O efeito de uma redução mais rápida ajudaria a diminuir gastos com a dívida e a atacar
uma das causas do déficit público.
Ocorre que o mau desempenho
fiscal emite sinais ruins para o investidor externo. E, como consequência, são necessários juros
mais altos para que o dinheiro que
entra no país permaneça por aqui.
A corretora Merrill Lynch
(EUA) afirmou em seu relatório
interno na sexta que os juros serão
reduzidos dos atuais 34,5% ao ano
para cerca de 30% a 31% .
A decisão será tomada pelo Copom (Comitê de Política Monetária), órgão governamental que
trata desses assuntos, na quarta-feira, dia 4 de março.
Numa revisão de suas apostas, a
Merrill Lynch afirma que "as expectativas do mercado de que a taxa de juros pudesse cair para algo
em torno de 27% a 28% são excessivamente otimistas".
Essa análise da corretora norte-americana se baseou em conversas que seus operadores mantêm -com regularidade- com
"altas autoridades" que tratam da
política monetária brasileira.
O governo avalia que a redução
dos juros deve seguir num ritmo
que permita a volta das taxas
pré-crash global (cerca de 22% ao
ano) entre junho e julho.
4) Impostos - o último fator que
poderia ajudar na recomposição
das contas públicas, uma maior
arrecadação de impostos, está diretamente ligado ao comportamento dos juros.
Quanto mais altos forem os juros, mais devagar andará a economia -logo, menos impostos serão arrecadados. Para compensar
essa eventual queda de arrecadação, o governo conta com os efeitos do pacote fiscal de novembro
-que aumentou o Imposto de
Renda da Pessoa Física e a taxação
de aplicações financeiras.
Apesar de estar sem muitas opções novas para melhorar as contas públicas, o governo federal
descarta a edição de um pacote fiscal, segundo a Folha apurou.
Não é por falta de onde cortar
despesas ou mesmo de propostas
em análise dentro do governo. Por
exemplo, o ministro Reinhold Stephanes (Previdência) vive tentando emplacar a cobrança da parcela
patronal da contribuição previdenciária de entidades filantrópicas. A medida, que poderia render
R$ 3 bilhões, foi descartada no pacote de novembro passado.
Em ano eleitoral, as chances dessa e outras medidas de ajuste fiscal
vingarem são inversamente proporcionais às pressões por gastos.
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