São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Enquete - 1º lugar/Getúlio Vargas

"O" brasileiro

Enquete da Folha com 200 pessoas tenta mapear os nomes que mais se destacaram na história do país; Getúlio Vargas é o mais citado, seguido por Juscelino Kubitschek e Machado de Assis

Arquivo Petrobras - 1952
Vargas com a mão manchada de óleo, em Mataripe (BA),
em 1952, antes da criação da Petrobras


LAURA CAPRIGLIONE
EVANDRO SPINELLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de meio século depois de encerrar com um tiro no próprio peito 28 anos de uma influência incontrastável nos destinos do país, Getúlio Vargas aparece como o "Maior Brasileiro de Todos os Tempos", segundo eleição promovida pela Folha nesta semana.
A 200 intelectuais, políticos, artistas, religiosos, empresários, publicitários, jornalistas, esportistas e militares que são referências em suas áreas de atuação, perguntou-se quem é o(a) "Maior Brasileiro(a) de Todos os Tempos". Também pediu-se a cada votante uma justificativa da escolha feita. No total, 70 nomes receberam indicações.

Eleição de ditadores
A eleição de Getúlio tem paralelo imediato com a de António Oliveira Salazar, ditador de Portugal por 36 anos, escolhido no dia 25 de março como o "Grande Português" por votação telefônica entre os telespectadores da RTP (Rádio e Televisão de Portugal).
Ambos os eleitos dominaram a cena de seus países por décadas. Salazar durante todo o tempo de seu governo e Getúlio na fase ditatorial (1937-45) construíram dispositivos eficazes de repressão e censura que lograram a criação de regimes políticos fortemente identificados com suas personalidades.
Redenção dos ditadores? O brasilianista Timothy J. Power, do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que votou em Getúlio, assim justificou sua escolha: "Não me surpreende que a recente enquete portuguesa tenha dado Salazar. Foi ele quem construiu o Estado português moderno. No Brasil, o mesmo papel foi exercido por Vargas. Como Salazar, ele não é o "maior" no sentido de "mais louvável", mas ganha pelo sentido de "mais influente"."
Correndo logo atrás de Getúlio na eleição brasileira vem Juscelino Kubitschek, construtor de Brasília e financiador da indústria automobilística, implantada durante seu governo.
Mas os perfis dos eleitores de Getúlio e de Juscelino são bem distintos. Dos 16 votos de Getúlio, nenhum foi de empresário, o que talvez reforce a imagem de "Pai dos Pobres" que o presidente cultivou ao instituir o salário mínimo e a regulamentação dos direitos trabalhistas. Apenas um político escolheu-o -Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul, aliás, estado de origem de Getúlio.
Já dos 15 votos de Juscelino, três vieram de empresários, quatro de políticos e três de médicos (medicina era a profissão de origem do presidente).
Para Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, Juscelino "teve capacidade de enxergar um Brasil grande e mobilizou o país em todos os sentidos, atraiu capitais internacionais, como a indústria automobilística, deu confiança ao país."

Afinidades
Na eleição de "Maior Americano", promovida pelo canal de TV Discovery e pelo site AOL, venceu Ronald Reagan, que era presidente dos Estados Unidos durante os anos finais da Guerra Fria. Na versão francesa, o vencedor foi Charles De Gaulle, presidente do país e líder da Resistência ao nazismo. Na alemã, o ex-chanceler Konrad Adenauer, que comandou o país na reconstrução depois da 2ª Guerra Mundial, foi o vencedor. Na inglesa, consagrou-se Sir Winston Churchill, primeiro-ministro que levou a Inglaterra à vitória na 2ª Guerra.
Uma possível explicação para a preeminência dos políticos fortes é o viés da afinidade. Como lideranças nacionais, os políticos bem-sucedidos acabam influenciando várias áreas da vida pública, inclusive a cultura. Levam, por isso, vantagem "eleitoral" sobre os chamados "especialistas", que intervêm focalizadamente, e tendem assim a ser votados apenas por setores de pessoas que conhecem essa atuação.
Na lista dos "dez mais" da eleição americana, os dois únicos que não pertencem à categoria dos políticos/estadistas são o cantor e compositor Elvis Presley e a apresentadora de televisão, Oprah Winfrey, que é negra.
Mais diversificada, embora ainda com a predominância dos políticos, a lista brasileira já vem com o escritor Machado de Assis na terceira posição (13 votos). Dos onze primeiros colocados na eleição (todos os personagens que aparecem nesta página), quatro são de áreas não-políticas. Além de Machado, há o inventor do avião Alberto Santos Dumont, o compositor Tom Jobim e o arquiteto Oscar Niemeyer.
Apenas quatro mulheres -a pintora Anita Malfatti, a princesa Isabel, a escritora Adélia Prado e a mãe de santo Menininha do Gantois receberam votos. Um voto para cada uma. Bem melhor saíram-se os afrodescendentes, que reuniram 30 votos, ou 15% do total. Entre os mencionados, Zumbi dos Palmares, Luís Gama, José do Patrocínio e João Cândido, ligados às lutas contra a escravidão e os maus-tratos, além do próprio Machado de Assis. Ah!, e tem Pelé, com seis votos.
Os desencantados também votaram. O cartunista Angeli, "para dar uma anarquizada", escolheu o personagem Macunaíma, do romance homônimo de Mário de Andrade, "a mais perfeita representação da alma brasileira."
Agora, é a sua vez de votar. A partir de hoje, na Folha Online, você poderá escolher o "Maior Brasileiro de Todos os Tempos". Na semana que vem, o resultado será anunciado. Não resolverá a crise do apagão aéreo e da criminalidade, mas falará um pouco sobre quem somos. Afinal, você é quem decide.


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