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Além da CUT, outras centrais ajudam programa do PT
MARIA INÊS NASSIF
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) não é mais a única referência do movimento sindical
para o PT. O partido de Luiz Inácio Lula da Silva está ouvindo todas as centrais (CUT, CGT, Força
Sindical, SDS) para fechar seu
programa de governo. Também
serão consultadas as federações
empresariais mais importantes
(Fiesp, CNI, Fierj e Fiemg).
Segundo o coordenador de programa de governo do PT, o prefeito Antonio Palocci Filho (Ribeirão Preto), esses serão os dois lados de uma comissão tripartite (o
terceiro é o próprio governo) para
fazer uma nova legislação trabalhista, se Lula vencer as eleições.
Abrir espaço para discussão
com outras centrais sindicais faz
parte de uma estratégia de abertura do partido que vem de alguns
anos. O PT, conforme foi consolidando a sua posição no quadro
partidário, saiu do restrito mundo da esquerda política e sindical
e passou a buscar votos além dos
trabalhadores organizados.
O partido concluiu que não
existe outra forma de competir
eleitoralmente. "O PT não é mais
um partido trabalhista por excelência. Ele percebeu que só trabalhadores não elegem um presidente", afirma o cientista político
Luiz Werneck Viana, do Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro).
A CUT, por sua vez, procurou o
seu caminho. "Não foi uma separação, mas uma definição cada
vez mais clara do papel de cada
um", diz o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que esteve na origem do partido e da CUT.
Para o professor de sociologia
do trabalho da Unicamp (Universidade de Campinas), Ricardo
Antunes, o processo de separação
é similar ao rompimento do Partido Trabalhista Inglês da central
sindical Trade Union, depois da
vitória de Tony Blair, em 97.
"Blair dizia com todas as letras:
não represento só os trabalhadores, mas a sociedade britânica."
O PT, até o final dos anos 80,
manteve uma relação estreita
com a CUT. Hoje eles não são
umbilicamente ligados, mas certamente têm muita identidade.
"Não há mais subordinação das
centrais sindicais aos partidos;
ainda assim, não tem como negar
a ligação dos partidos com elas [as
centrais": do PT com a CUT, da
Força [Sindical" com o PTB, da
CGT com o PMDB e da SDS com
o PSDB", afirma o sociólogo Antônio Augusto de Queiroz, do
Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
Os partidos negam excessiva
proximidade com as centrais,
mas Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, é filiado
ao PTB e apóia explicitamente o
presidenciável do PPS, Ciro Gomes. O presidente da CUT, João
Felício, é filiado ao PT. E o presidente da CGT, Antônio Carlos
dos Reis, é um ex-filiado do PDT.
As relações entre partidos e sindicatos, no entanto, não são nem
de longe o que foram no passado.
Para o sociólogo Leôncio Martins
Rodrigues, o PT manteve sua base
social original de trabalhadores,
embora, ao longo do tempo, os
sindicalistas do setor industrial
tenham sido substituídos pelos
provenientes do setor público.
Mas a institucionalização do partido implicou "certo desligamento do meio social de origem".
Segundo levantamento do
Diap, o PT foi imbatível em eleger
deputados federais sindicalistas.
Na legislatura iniciada em 87, 11
dos 16 sindicalistas eleitos eram
do PT; em 91, 22 dos 27; em 95, 32
dos 38; e em 99, 33 dos 44.
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