São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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Além da CUT, outras centrais ajudam programa do PT

MARIA INÊS NASSIF
LIEGE ALBUQUERQUE


DA REPORTAGEM LOCAL

A CUT (Central Única dos Trabalhadores) não é mais a única referência do movimento sindical para o PT. O partido de Luiz Inácio Lula da Silva está ouvindo todas as centrais (CUT, CGT, Força Sindical, SDS) para fechar seu programa de governo. Também serão consultadas as federações empresariais mais importantes (Fiesp, CNI, Fierj e Fiemg).
Segundo o coordenador de programa de governo do PT, o prefeito Antonio Palocci Filho (Ribeirão Preto), esses serão os dois lados de uma comissão tripartite (o terceiro é o próprio governo) para fazer uma nova legislação trabalhista, se Lula vencer as eleições.
Abrir espaço para discussão com outras centrais sindicais faz parte de uma estratégia de abertura do partido que vem de alguns anos. O PT, conforme foi consolidando a sua posição no quadro partidário, saiu do restrito mundo da esquerda política e sindical e passou a buscar votos além dos trabalhadores organizados.
O partido concluiu que não existe outra forma de competir eleitoralmente. "O PT não é mais um partido trabalhista por excelência. Ele percebeu que só trabalhadores não elegem um presidente", afirma o cientista político Luiz Werneck Viana, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro).
A CUT, por sua vez, procurou o seu caminho. "Não foi uma separação, mas uma definição cada vez mais clara do papel de cada um", diz o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que esteve na origem do partido e da CUT.
Para o professor de sociologia do trabalho da Unicamp (Universidade de Campinas), Ricardo Antunes, o processo de separação é similar ao rompimento do Partido Trabalhista Inglês da central sindical Trade Union, depois da vitória de Tony Blair, em 97. "Blair dizia com todas as letras: não represento só os trabalhadores, mas a sociedade britânica."
O PT, até o final dos anos 80, manteve uma relação estreita com a CUT. Hoje eles não são umbilicamente ligados, mas certamente têm muita identidade.
"Não há mais subordinação das centrais sindicais aos partidos; ainda assim, não tem como negar a ligação dos partidos com elas [as centrais": do PT com a CUT, da Força [Sindical" com o PTB, da CGT com o PMDB e da SDS com o PSDB", afirma o sociólogo Antônio Augusto de Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
Os partidos negam excessiva proximidade com as centrais, mas Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, é filiado ao PTB e apóia explicitamente o presidenciável do PPS, Ciro Gomes. O presidente da CUT, João Felício, é filiado ao PT. E o presidente da CGT, Antônio Carlos dos Reis, é um ex-filiado do PDT.
As relações entre partidos e sindicatos, no entanto, não são nem de longe o que foram no passado. Para o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, o PT manteve sua base social original de trabalhadores, embora, ao longo do tempo, os sindicalistas do setor industrial tenham sido substituídos pelos provenientes do setor público. Mas a institucionalização do partido implicou "certo desligamento do meio social de origem".
Segundo levantamento do Diap, o PT foi imbatível em eleger deputados federais sindicalistas. Na legislatura iniciada em 87, 11 dos 16 sindicalistas eleitos eram do PT; em 91, 22 dos 27; em 95, 32 dos 38; e em 99, 33 dos 44.



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