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Serra precisa de "gatilho", diz analista
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Wall Street está "muito temerosa" com o crescimento do petista
Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais, sentimento corroborado pelo fato de o candidato
do governo não ter um "gatilho"
para crescer, como FHC "tinha o
Plano Real em 1994".
Essa é a opinião de um analista
de peso, Geoffrey Dennis, estrategista-chefe de Bolsa para a América Latina do Salomon Smith Barney (SSMB), um dos maiores
bancos de investimento dos EUA,
com sede em Nova York. Em seu
relatório de ontem, o economista
reduziu a projeção de 2002 para o
Índice Bovespa de 18,4 mil pontos
para 16 mil pontos.
São três os motivos, segundo
disse à Folha por telefone: possível contágio da crise argentina, alta taxa de juros brasileiros e, principalmente, a possibilidade de vitória do candidato petista. "O
mercado está muito, muito temeroso de Lula", diz. Leia abaixo os
principais trechos da entrevista.
Folha - Em sua opinião, quanto
Wall Street teme uma possível vitória de Lula?
Geoffrey Dennis - O mercado está muito, muito temeroso disso.
Dito isto, obviamente tenho de
ressaltar que há alguns investidores, algumas pessoas que começam a argumentar que talvez Lula
não seja tão mal para o mercado,
que ele vai estabelecer uma política mais amigável do que se pensa.
Respondo que é possível que isso seja verdadeiro, embora seja
uma previsão muito complicada
de se fazer. O fato é que há um desejo muito maior de que o candidato da coalizão governamental
vença as eleições.
Folha - Por que a resistência ao
nome do petista continua?
Dennis - O problema é o seguinte: mesmo que Lula implemente
uma política econômica totalmente liberal no primeiro dia de
seu governo, a reação do mercado
vai se antecipar a isso. Assim, antes de ele assumir, os títulos da dívida externa brasileira já terão caído, o real já vai estar mais desvalorizado, as taxas de juros provavelmente já terão subido...
Isso fará com que a nova administração tenha de tomar decisões
políticas muito complicadas e já
no começo do governo, o que será
especialmente difícil. E a reação
terá sido tão rápida que talvez o
mercado não dê tempo para que
Lula seja construtivo.
Folha - E o sentimento em relação
ao candidato governista?
Dennis - Ainda não está claro para mim se a situação atual é pior
do que em 1994, já que muita gente diz que naquela eleição Lula
também estava muito à frente do
candidato do governo. O problema é que em 1994 Fernando Henrique tinha um grande gatilho para crescer, que era o Plano Real. E
nós não estamos vendo um gatilho agora para que o candidato do
governo cresça nas pesquisas, seja
ele Serra ou outro nome.
Talvez esse gatilho seja a campanha na TV. Ou o exemplo da situação social em outros países
-principalmente um caso recente de voto extremo que elegeu alguém que não vou dar o nome
mas você sabe de quem estou falando (ele se refere a Hugo Chávez, presidente da Venezuela)-
faça com que as pessoas acabem
optando pela confiabilidade do
candidato do governo.
Folha - Por que o sr. baixou sua
previsão de crescimento do Índice
Bovespa, de 18,4 mil pontos para
16 mil pontos?
Dennis - Havíamos superestimado o crescimento do Ibovespa para 2002. Acho que a meta que prevíamos anteriormente só será
atingida se o candidato petista
perder as eleições de outubro, se a
Argentina sair da crise e se a taxa
Selic de juros receber cortes significativos, nessa ordem.
Folha - A avaliação pode mudar?
Dennis - Sim, mas não antes de
julho ou agosto, no caso da taxa
de juros e da crise argentina. Temo que a definição das eleições só
aconteça nos últimos momentos,
o que pode atrasar um novo ciclo
de alta da Bovespa.
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