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REFORMAS/TRIBUTOS
Para evitar que haja perdas na arrecadação, o projeto prevê a manutenção do índice de 0,38% até que seja criado um novo tributo
Governo planeja manter alíquota da CPMF
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além de propor que a CPMF se
torne permanente, o governo incluiu em seu projeto de reforma
tributária um artigo estabelecendo que, até a criação do novo tributo, a contribuição continuará
com sua alíquota atual, de 0,38%.
Com a regra, a prorrogação da
CPMF e sua arrecadação de mais
de R$ 20 bilhões anuais será a única mudança no sistema de impostos a entrar imediatamente em vigor caso a reforma seja aprovada
-todas as demais alterações dependem de leis adicionais de difícil negociação.
Pela legislação atual, a CPMF
deverá ter sua alíquota reduzida
para 0,08% em 2004, último ano
de vigência do tributo, o que levará a uma queda de R$ 16 bilhões
na receita. A sua substituta, a
CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira, sem o "P"
de Provisória) precisa ser instituída por uma nova lei, o que pode
atrasar sua aprovação. Por isso, o
governo se precaveu para evitar
perdas no caixa.
O cuidado mostra como o ajuste fiscal é prioritário na proposta
de emenda à Constituição apresentada ontem pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A
CPMF, por ser regressiva (suas
alíquotas não variam conforme o
valor tributado) e cumulativa (incide em todas as etapas da produção), contradiz o discurso com
que o governo embala a reforma.
O restante do projeto tem o objetivo declarado de estimular a
produção, as exportações, a geração de empregos e a progressividade do sistema tributário. Mas, a
começar pela mais importante
das propostas, a lei unificada para
o ICMS, as demais mudanças passarão por complexas negociações
posteriores.
Para evitar polêmicas que poderiam atrasar a aprovação da reforma, o governo adiou por pelo menos dois anos a decisão mais importante em relação ao novo
ICMS: se a cobrança do imposto,
principal fonte de receita dos Estados, será feita na origem ou no
destino da mercadoria.
A cobrança no destino, defendida pela Fazenda e por empresários, seria a forma mais eficaz de
evitar a guerra fiscal -a concessão de benefícios por parte dos
Estados para a atração de empresas- e estimular as exportações
-porque o sistema atual, que
mistura origem e destino, torna
mais difícil o cumprimento da lei
que isenta as vendas ao exterior
do ICMS.
"A unificação da legislação pode ser uma primeira etapa para a
cobrança no destino, que é um
desejo de todos os governadores",
disse o secretário-executivo-adjunto da Fazenda, Arno Augustin.
Segundo ele, a resistência de Estados produtores, como São Paulo e
Minas Gerais, deve-se apenas à
necessidade de discutir mecanismos para compensar perdas na
arrecadação.
Atritos
Apesar do esforço do governo
para evitar conflitos com os Estados, o projeto acabou irritando
vários governadores, principalmente do PSDB, por propor incluir na Constituição a isenção do
ICMS para as exportações, deixando a compensação para as
perdas na lei complementar aprovada em 1997.
Outro ponto de atrito foi o fundo criado para atender "regiões
menos desenvolvidas do país",
que deverá contar com R$ 2,5 bilhões. Governadores do Nordeste
cobraram e obtiveram a alteração
no texto original do projeto, que
falava em "regiões e zonas".
Para os nordestinos, a formulação antiga abria uma brecha para
que Estados mais ricos alegassem
a existência de bolsões de miséria
em seus territórios para também
terem acesso aos recursos. A nova
redação, porém, mantém a mesma brecha, como a própria Fazenda admitiu ontem.
Além da desoneração das exportações, o projeto de reforma
inclui na Constituição outras regras que poderiam ser adotadas
por leis complementares ou ordinárias. É o caso, por exemplo, da
previsão de que a alíquota da
CSLL sobre os bancos não poderá
ser inferior à dos demais setores
da economia.
Hoje, a CSLL tem uma alíquota
única, de 9%. A regra proposta
pelo governo não constava das linhas da reforma divulgadas pela
Fazenda nos últimos meses.
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