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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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REFORMAS/IGREJA

Em mensagem oficial, entidade abranda o tom crítico ao modelo econômico que marcou o governo FHC e apóia mudanças propostas por Lula

CNBB faz crítica, mas dá apoio às reformas

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI

A mensagem oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sobre o Dia do Trabalho abrandou ontem o tom de duras críticas ao modelo econômico feitas durante o governo Fernando Henrique Cardoso e apoiou as reformas previdenciária e tributária propostas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto, aprovado pela Assembléia Geral da entidade, que reúne todos os bispos do país em Itaici, distrito de Indaiatuba (SP), até o dia 9, foi divulgado pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes. Lula se encontrará hoje à noite com os bispos.
Alguns bispos e assessores, no entanto, durante reunião para debate de conjuntura, à tarde, criticaram tanto o programa Fome Zero quanto as reformas propostas pelo governo.
Na mensagem para o 1 de Maio é dito que o desemprego de milhões de brasileiros "aflige a sociedade, o governo e a igreja". Entre as "sugestões" apresentadas, está a de "realizar com urgência as reformas previdenciária, tributária e agrária". O texto saúda e apóia ainda o Fome Zero e "manifesta vontade do novo governo de avançar nas reformas sociais".
"Novas esperanças surgiram com a eleição e a posse dos atuais dirigentes do país, algumas agora já transformadas em projetos sociais de emergência e em propostas de reformas estruturais", diz o texto. Questionado sobre a razão da defesa das reformas, d. Cláudio disse: "Por toda a crise da Previdência, em termos dos grandes déficits, e as aposentadorias astronômicas, não éticas. [Quanto à] reforma tributária, todo o país está reclamando [por elas]".
Sobre a suposta continuidade que Lula vem dando à política macroeconômica, antes criticada pela entidade, d. Cláudio disse que "não é possível fazer uma ruptura" e que a mudança deve ser feita por meio de "um processo". Ele disse ser necessário "manter um sistema econômico viável para que ele possa dar suporte às mudanças sociais".

Críticas
Em outro texto intitulado "Análise de Conjuntura", divulgado na mesma tarde e debatido pelos bispos, o assessor da CNBB e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Pedro Ribeiro de Oliveira, fez críticas às reformas. Na apresentação do texto é dito que ele "não é um documento [oficial] da CNBB".
Oliveira critica que a reforma tributária tenha "deixado em segundo plano" a progressividade dos impostos e o imposto sobre grandes fortunas. Sobre a reforma da Previdência, diz que, se ela não sofrer alterações, "significará pouco mais do que a transferência da aposentadoria de servidores públicos com vencimentos acima do teto para fundos de pensão". Segundo ele, o conselho teve "participação mínima" na discussão da reforma da Previdência.
D. Mauro Morelli, bispo de Duque de Caxias (RJ) e membro do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), disse que o Fome Zero é "a coisa mais precária, menos definida" e que o Ministério de Segurança Alimentar é uma "coisa esdrúxula", com estrutura inadequada. "Com essa estrutura o ministro não tem condição de administrar coisa alguma", afirmou.


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