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REFORMAS/IGREJA
Em mensagem oficial, entidade abranda o tom crítico ao modelo econômico que marcou o governo FHC e apóia mudanças propostas por Lula
CNBB faz crítica, mas dá apoio às reformas
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI
A mensagem oficial da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) sobre o Dia do Trabalho abrandou ontem o tom de duras críticas ao modelo econômico
feitas durante o governo Fernando Henrique Cardoso e apoiou as
reformas previdenciária e tributária propostas pelo governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
O texto, aprovado pela Assembléia Geral da entidade, que reúne
todos os bispos do país em Itaici,
distrito de Indaiatuba (SP), até o
dia 9, foi divulgado pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes. Lula se encontrará
hoje à noite com os bispos.
Alguns bispos e assessores, no
entanto, durante reunião para debate de conjuntura, à tarde, criticaram tanto o programa Fome
Zero quanto as reformas propostas pelo governo.
Na mensagem para o 1 de Maio
é dito que o desemprego de milhões de brasileiros "aflige a sociedade, o governo e a igreja". Entre
as "sugestões" apresentadas, está
a de "realizar com urgência as reformas previdenciária, tributária
e agrária". O texto saúda e apóia
ainda o Fome Zero e "manifesta
vontade do novo governo de
avançar nas reformas sociais".
"Novas esperanças surgiram
com a eleição e a posse dos atuais
dirigentes do país, algumas agora
já transformadas em projetos sociais de emergência e em propostas de reformas estruturais", diz o
texto. Questionado sobre a razão
da defesa das reformas, d. Cláudio
disse: "Por toda a crise da Previdência, em termos dos grandes
déficits, e as aposentadorias astronômicas, não éticas. [Quanto à]
reforma tributária, todo o país está reclamando [por elas]".
Sobre a suposta continuidade
que Lula vem dando à política
macroeconômica, antes criticada
pela entidade, d. Cláudio disse
que "não é possível fazer uma
ruptura" e que a mudança deve
ser feita por meio de "um processo". Ele disse ser necessário
"manter um sistema econômico
viável para que ele possa dar suporte às mudanças sociais".
Críticas
Em outro texto intitulado "Análise de Conjuntura", divulgado na
mesma tarde e debatido pelos bispos, o assessor da CNBB e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Pedro
Ribeiro de Oliveira, fez críticas às
reformas. Na apresentação do
texto é dito que ele "não é um documento [oficial] da CNBB".
Oliveira critica que a reforma
tributária tenha "deixado em segundo plano" a progressividade
dos impostos e o imposto sobre
grandes fortunas. Sobre a reforma
da Previdência, diz que, se ela não
sofrer alterações, "significará
pouco mais do que a transferência
da aposentadoria de servidores
públicos com vencimentos acima
do teto para fundos de pensão".
Segundo ele, o conselho teve
"participação mínima" na discussão da reforma da Previdência.
D. Mauro Morelli, bispo de Duque de Caxias (RJ) e membro do
Consea (Conselho Nacional de
Segurança Alimentar), disse que o
Fome Zero é "a coisa mais precária, menos definida" e que o Ministério de Segurança Alimentar é uma "coisa esdrúxula", com estrutura inadequada. "Com essa
estrutura o ministro não tem condição de administrar coisa alguma", afirmou.
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