|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIRETAS, 20 ANOS
Participantes de debate na Folha se dividem em relação à existência do regime democrático no país e fazem balanço das últimas décadas
Evento discute se democracia vigorava em 84
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na madrugada de 26 de abril de
1984 a Câmara dos Deputados
derrotava a emenda constitucional que restabeleceria eleições diretas para a Presidência da República. O episódio foi lembrado
quarta-feira em debate no auditório da Folha, durante o qual se
discutiu se na época o Brasil já vivia num regime democrático.
O ex-ministro e ex-senador Jarbas Passarinho, um dos participantes do encontro, argumentou
ser este o caso. Tanto que em 1982
a oposição elegeu governadores
em dez dos principais Estados.
Além disso, afirmou, o AI-5 não
mais vigorava, e a Lei da Anistia
permitira a volta dos exilados, um
dos quais, Leonel Brizola, elegera-se governador do Rio de Janeiro.
Domingos Leonelli e Dante de
Oliveira, este o autor da emenda
das Diretas-Já, eram na época deputados da esquerda do PMDB.
Argumentaram em suas intervenções que a democracia estava longe de ser restabelecida.
E isso por dois motivos. Não se
podia eleger o presidente -o
projeto de continuísmo do regime se traduziu por pressões do
então presidente João Baptista Figueiredo sobre o Congresso para
derrotar as Diretas-Já- e, durante a votação da emenda, medidas
de emergência, impostas a Brasília, foram acompanhadas da proibição da transmissão da votação
por rádio e TV, e o Congresso foi
cercado por tropas comandadas
pelo general Newton Cruz.
Passarinho argumentou, em
resposta, que medidas de emergência eram um dispositivo constitucional brasileiro inspirado na
Constituição da Espanha, que na
época já havia posto fim à longa
ditadura franquista.
Ele disse que por vezes a crítica
ao regime brasileiro da época é
feita por quem não critica os 45
anos de ditadura em Cuba e os 74
que durou a Rússia soviética.
O quarto debatedor, Luiz Carlos
Bresser Pereira, ex-ministro, economista e professor da Fundação
Getúlio Vargas, disse que a transição democrática ocorreu com a
eleição de Tancredo Neves à Presidência pelo Colégio Eleitoral.
Afirmou que havia ocorrido
uma ruptura do empresariado
com o establishment tecnocrático
e militar, e que a redemocratização -a campanha pelas diretas a
acelerou- se tornara inevitável.
Oliveira, Leonelli, Bresser e Passarinho compunham a mesa do
encontro, mediado por Fernando
de Barros e Silva, editor de Brasil
neste jornal. O evento foi também
promovido pela editora Record,
que está lançando "Diretas-Já: 15
meses que Abalaram a Ditadura",
ensaio historiográfico do qual
Oliveira e Leonelli são os autores.
O debate foi para seus participantes uma ocasião para enfocar,
com ângulos diferenciados, o
processo político no período final
da redemocratização. E também
para fazerem um balanço sobre
conquistas e malogros de quase
20 anos de democracia plena.
Coube a Bresser a análise mais
minuciosa. A democracia e a justiça social, disse ele, são pontos
bastante positivos. Mas o grande
ponto negativo está na não retomada do desenvolvimento econômico, bandeira embutida na
campanha pelas Diretas-Já.
Sobre a justiça social citou alguns números. Entre 1980 e 2000
o analfabetismo caiu de 36% para
15% da população, e a esperança
de vida aumentou em oito anos
para os brasileiros. Se a renda per
capita subiu somente 8,5%, o gasto social per capita subiu 43,4%.
Texto Anterior: PF prende acusado de fraudar R$ 5 mi do INSS Próximo Texto: Para Bresser, país pensa com cabeça alheia Índice
|