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PF vê em cheques pista de desvios do BNDES
Documentos apreendidos comprovam, dizem delegados, que prostíbulo distribuía dinheiro entre membros da suposta quadrilha
Anexados às cópias dos dois cheques, de R$ 18.397,50, papéis traziam iniciais PA e RT, que seriam, segundo a PF, Paulinho e Ricardo Tosto
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal encontrou
cópias de dois cheques que
comprovam, na interpretação
dos delegados, a hipótese de
que um prostíbulo de São Paulo
distribuía dinheiro desviado do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) entre integrantes de
uma suposta quadrilha .
As cópias dos cheques estavam junto com pedaços de papéis que traziam manuscritas
as iniciais PA e RT. A polícia
acredita que essas iniciais são
as do deputado federal Paulo
Pereira da Silva (PDT-SP), o
Paulinho da Força Sindical, e
do advogado Ricardo Tosto.
Os cheques, de R$ 18.397,50
cada um, foram emitidos em 15
de fevereiro último pela WE
Bar e Restaurante, a fachada legal do prostíbulo WE, ainda segundo a interpretação da PF.
Estavam cruzados, mas não
eram nominais, o que possibilita que sejam depositados em
qualquer conta corrente.
Os documentos foram
apreendidos no escritório do
empresário Marcos Vieira
Mantovani na última quinta-feira no âmbito da Operação
Santa Tereza, na qual foram
presas dez pessoas acusadas de
desviar recursos do BNDES.
A PF diz que o grupo obtinha
os empréstimos do BNDES por
meio da influência política de
Paulinho e de Tosto. O advogado integra o conselho de administração desse banco -foi indicado para a função pela Força
Sindical, central que é controlada por Paulinho. O grupo ficava com um percentual que variava de 2% a 4% do valor emprestado pelo BNDES, de acordo com os policiais.
Paulinho não está formalmente entre os investigados
porque é deputado e tem foro
privilegiado. Para investigá-lo,
a PF teria de remeter os trechos
sobre ele para o STF (Supremo
Tribunal Federal).
A PF diz ter provas materiais
de três empréstimos que teriam sido intermediados pelo
grupo: dois para as Lojas Marisa, num total de R$ 394 milhões, e um para a Prefeitura de
Praia Grande, no litoral paulista (R$ 124 milhões). Nesses três
empréstimos, o grupo teria embolsado R$ 10,4 milhões, quando se imagina que ele ficava
com 2% do valor desviado.
A conta corrente do prostíbulo, na visão da PF, servia para
dar uma aparência legal aos recursos desviados, crime conhecido como lavagem de dinheiro.
Depois de legalizada, a verba
era distribuída entre os supostos membros da quadrilha por
meio da conta do prostíbulo, de
acordo com a PF.
O empresário Manoel Fernandes de Brito Filho é apontado como o dono de fato do prostíbulo e da boate WE, localizados na rua Peixoto Gomide (região central de São Paulo). Ele é
o único foragido da operação.
Uma das formas de esquentar o
dinheiro desviado dos empréstimos do BNDES, segundo a
PF, era simular um aumento de
capital -o desvio aparecia como investimento novo.
A polícia também apreendeu
com Mantovani, dono da empresa de consultoria Progus,
canhotos de cinco cheques, cujo soma totaliza cerca de R$
344 mil. Os canhotos têm a seguinte anotação: LTB/Marisa.
LTB, na visão da PF, são as
iniciais de Leite, Tosto e Barros, o nome do escritório de
Tosto. Marisa seria as Lojas
Marisa, beneficiada por dois
empréstimos do BNDES que
teriam sido obtidos com a ajuda
da suposta quadrilha: de R$ 124
milhões e de R$ 220 milhões. A
PF diz que os sócios da Marisa
não sabiam do desvio.
A fraude é creditada ao diretor de expansão das Lojas Marisa, Boris Bitelmann Timoner,
que está preso.
Anexo
Cópias dos cheques apreendidos e dos canhotos foram
anexados ao pedido que a PF
fez para estender a prisão de
seis pessoas acusadas de integrarem a quadrilha. A polícia e
a procuradora da República
Adriana Scordamaglia entendiam que os papéis eram incriminatórios o suficiente para
que Tosto fosse preso novamente -ele foi detido na quinta-feira passada e liberado no
sábado. O juiz federal substituto Marcio Ferro Catapani preferiu manter Tosto livre.
Mantovani, com quem foram
apreendidos os cheques, é figura central do grupo, na visão da
polícia. A Progus, empresa que
ele dirige, era encarregada de
fazer projetos para o BNDES,
pelos quais cobrava comissão.
O problema, para a PF, era
que o projeto da Progus não
passava de uma farsa, já que a
aprovação no BNDES obedecia
critérios políticos, e não técnicos. O que o empresário chamava de comissão era o valor
desviado do empréstimo do
BNDES, segundo a polícia.
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