São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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PF vê em cheques pista de desvios do BNDES

Documentos apreendidos comprovam, dizem delegados, que prostíbulo distribuía dinheiro entre membros da suposta quadrilha

Anexados às cópias dos dois cheques, de R$ 18.397,50, papéis traziam iniciais PA e RT, que seriam, segundo a PF, Paulinho e Ricardo Tosto


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal encontrou cópias de dois cheques que comprovam, na interpretação dos delegados, a hipótese de que um prostíbulo de São Paulo distribuía dinheiro desviado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre integrantes de uma suposta quadrilha .
As cópias dos cheques estavam junto com pedaços de papéis que traziam manuscritas as iniciais PA e RT. A polícia acredita que essas iniciais são as do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, e do advogado Ricardo Tosto.
Os cheques, de R$ 18.397,50 cada um, foram emitidos em 15 de fevereiro último pela WE Bar e Restaurante, a fachada legal do prostíbulo WE, ainda segundo a interpretação da PF. Estavam cruzados, mas não eram nominais, o que possibilita que sejam depositados em qualquer conta corrente.
Os documentos foram apreendidos no escritório do empresário Marcos Vieira Mantovani na última quinta-feira no âmbito da Operação Santa Tereza, na qual foram presas dez pessoas acusadas de desviar recursos do BNDES.
A PF diz que o grupo obtinha os empréstimos do BNDES por meio da influência política de Paulinho e de Tosto. O advogado integra o conselho de administração desse banco -foi indicado para a função pela Força Sindical, central que é controlada por Paulinho. O grupo ficava com um percentual que variava de 2% a 4% do valor emprestado pelo BNDES, de acordo com os policiais.
Paulinho não está formalmente entre os investigados porque é deputado e tem foro privilegiado. Para investigá-lo, a PF teria de remeter os trechos sobre ele para o STF (Supremo Tribunal Federal).
A PF diz ter provas materiais de três empréstimos que teriam sido intermediados pelo grupo: dois para as Lojas Marisa, num total de R$ 394 milhões, e um para a Prefeitura de Praia Grande, no litoral paulista (R$ 124 milhões). Nesses três empréstimos, o grupo teria embolsado R$ 10,4 milhões, quando se imagina que ele ficava com 2% do valor desviado.
A conta corrente do prostíbulo, na visão da PF, servia para dar uma aparência legal aos recursos desviados, crime conhecido como lavagem de dinheiro. Depois de legalizada, a verba era distribuída entre os supostos membros da quadrilha por meio da conta do prostíbulo, de acordo com a PF.
O empresário Manoel Fernandes de Brito Filho é apontado como o dono de fato do prostíbulo e da boate WE, localizados na rua Peixoto Gomide (região central de São Paulo). Ele é o único foragido da operação. Uma das formas de esquentar o dinheiro desviado dos empréstimos do BNDES, segundo a PF, era simular um aumento de capital -o desvio aparecia como investimento novo.
A polícia também apreendeu com Mantovani, dono da empresa de consultoria Progus, canhotos de cinco cheques, cujo soma totaliza cerca de R$ 344 mil. Os canhotos têm a seguinte anotação: LTB/Marisa.
LTB, na visão da PF, são as iniciais de Leite, Tosto e Barros, o nome do escritório de Tosto. Marisa seria as Lojas Marisa, beneficiada por dois empréstimos do BNDES que teriam sido obtidos com a ajuda da suposta quadrilha: de R$ 124 milhões e de R$ 220 milhões. A PF diz que os sócios da Marisa não sabiam do desvio.
A fraude é creditada ao diretor de expansão das Lojas Marisa, Boris Bitelmann Timoner, que está preso.

Anexo
Cópias dos cheques apreendidos e dos canhotos foram anexados ao pedido que a PF fez para estender a prisão de seis pessoas acusadas de integrarem a quadrilha. A polícia e a procuradora da República Adriana Scordamaglia entendiam que os papéis eram incriminatórios o suficiente para que Tosto fosse preso novamente -ele foi detido na quinta-feira passada e liberado no sábado. O juiz federal substituto Marcio Ferro Catapani preferiu manter Tosto livre.
Mantovani, com quem foram apreendidos os cheques, é figura central do grupo, na visão da polícia. A Progus, empresa que ele dirige, era encarregada de fazer projetos para o BNDES, pelos quais cobrava comissão.
O problema, para a PF, era que o projeto da Progus não passava de uma farsa, já que a aprovação no BNDES obedecia critérios políticos, e não técnicos. O que o empresário chamava de comissão era o valor desviado do empréstimo do BNDES, segundo a polícia.


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