São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Prostíbulo "de luxo" nos Jardins esperava faturar R$ 760 mil por ano

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Localizada a apenas 500 metros do prédio da Procuradoria da República e a três quadras da Avenida Paulista, a casa de prostituição W.E., na rua Peixoto Gomide, foi inaugurada em 15 de fevereiro de 2005. Em pouco tempo obteve a fama de "melhor da capital paulista e possivelmente do Brasil", segundo a expressão usada pela Polícia Federal no inquérito da Operação Santa Tereza.
Durante quatro meses, de dezembro a abril, o lugar foi vigiado, filmado e fotografado pela PF. A atividade da W.E. era em tudo ousada, segundo a polícia: colado à boate um flat inteiro era usado para encontros sexuais -54 quartos em 13 andares. O cliente acertava o valor com a gerência da boate, que funcionava no térreo, e subia para o quarto. Mas podia seguir direto, por uma porta lateral.
A entrada na boate, que funcionava das 18h às 4h, custava R$ 150. Uma lata de cerveja, R$ 25. Segundo a PF, o valor médio pago às mulheres era de R$ 600. Mas algumas cobravam R$ 2.000. Aqui residia uma das "inovações" da boate, segundo a PF: os clientes pagavam ao estabelecimento, que ficava com metade do dinheiro e repassava o restante às mulheres. Segundo os telefonemas, elas eram proibidas de acertar as saídas com os clientes. Mas, como a PF reconheceu, não havia obrigação de morarem ali ou um "cárcere privado".
As mulheres foram descritas pelos policiais como "garotas de programa de alto luxo e até modelos capas de revistas masculinas e atrizes". Eram oferecidas também em hotéis de luxo a "clientes cinco estrelas", por meio de uma publicação de circulação restrita batizada de "Catálogo Golden".
Num telefonema interceptado pela PF, o gerente da casa, Celso Murad, contou que esperava fechar o ano de 2007 com um faturamento de R$ 760 mil.
A primeira lógica conclusão da PF foi que a prostituição ali era um segredo de polichinelo. "Ao que está evidenciado, a casa de prostituição já é conhecida pelas autoridades públicas. Entretanto, continua funcionando porque oferece propinas ou vantagens indevidas a diversos representantes de órgãos públicos, como a Polícia Civil de São Paulo e fiscais da prefeitura", apontou relatório do delegado Rodrigo Levin.
A PF levantou indícios do que seria a corrupção de um fiscal municipal. Teria recebido R$ 500, em meados de março, segundo as conversas telefônicas, para retardar ato administrativo que deveria levar ao fechamento do lugar. O pagamento, segundo várias interceptações que constam do inquérito da polícia, ocorreu dias após uma vistoria da prefeitura ter notificado a boate a respeito de uma obra irregular.
A notificação ocorreu no dia 7 de março, mas a boate continuou funcionando normalmente até a PF invadir o lugar na última quinta-feira, 57 dias depois da autuação. A notificação foi feita a partir de uma ação do secretário municipal de Habitação, Orlando de Almeida Filho. Numa troca de telefonemas, os investigados reclamam da inspeção e da ordem do secretário -a autuação foi feita pela subprefeitura da Sé. "Havia várias coisas irregulares, obras, um mezanino, um "puxadinho". Eu acionei a subprefeitura, que passou a acompanhar o caso", disse Almeida Filho.
Segundo os diálogos, o fiscal subornado seria da subprefeitura, que começou a atuar no processo após a saída de cena do secretário.


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