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Índios rivais já discutem "herança" na Raposa
Disputa por construções abandonadas por arrozeiros na reserva acirra as divergências entre grupos de indígenas em RR
Representantes do CIR e da Sodiur dizem que diferenças entre as entidades devem aumentar após a retirada completa dos não índios
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, NA RAPOSA/SERRA DO SOL (RR)
No último dia do prazo legal
para a saída dos não índios da
reserva Raposa/Serra do Sol,
indígenas de entidades rivais já
discutiam ontem a "herança"
de quem deixou a área.
Construções abandonadas
na vila Surumu (porta de entrada da terra indígena) estão sendo ocupadas por índios da Sodiur (Sociedade de Defesa dos
Índios Unidos do Norte de Roraima), que apoiou a permanência dos arrozeiros.
O problema é que, para lideranças do CIR (Conselho Indígena de Roraima), organização
a favor da saída dos não índios,
as chaves dos imóveis deveriam
ser dadas à Funai (Fundação
Nacional do Índio), que depois
decidiria o que fazer com eles.
"Estamos fazendo isso porque eles [CIR] querem abarcar
tudo", disse o índio macuxi Edinilson Albuquerque, da Sodiur.
Cristóvão Galvão, um dos líderes do CIR na região, disse
que fará apenas o que mandar a
Justiça. Para ele, "esse discurso
de derramamento de sangue" é
exclusivo dos que foram derrotados pela decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de
manter a demarcação contínua
da reserva, que ocupa 7% do Estado (1,7 milhão de hectares).
Ambos disseram que as diferenças entre as entidades devem aumentar após a retirada
completa dos não índios.
Terra arrasada
Outra disputa deve envolver
a ocupação das ao menos oito
fazendas de arroz, propícias para plantações e criação de animais. Nas propriedades, não
restou muito para ser usado. Os
arrozeiros as tornaram "terra
arrasada" antes de sair.
Paulo César Quartiero, líder
dos produtores, tirou quase tudo de sua fazenda. Depois, usou
máquinas para derrubar até as
construções de alvenaria.
Ontem, o tráfego de caminhões que saíam das propriedades era intenso. Tentavam
levar tudo o que podiam até a
0h de hoje, quando vencia o
prazo para a saída voluntária.
Os poucos expulsos que ainda restavam na vila ontem esperavam os caminhões cedidos
pelo governo estadual para levar os bens. Segundo afirmaram, eles somavam menos de
dez famílias. As que não conseguirem sair no prazo não devem resistir à retirada. Mas há
outras no interior da reserva,
que podem insistir em ficar.
Já os índios não demonstravam estar na reta final de um
conflito que, dizem eles, durou
38 anos e lhes custou 22 vidas.
Na escola e nas casas, não havia
sinais de festa.
A tranquilidade na vila só foi
quebrada pela chegada do presidente do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, Jirair Meguerian, e de um ônibus
com 50 agentes da FNS (Força
Nacional de Segurança).
A FNS, junto à Polícia Federal e à Funai, começaria a operação de retirada de quem insistir em ficar na área a partir
da madrugada de hoje. A ação
pode durar até um mês e será
realizada por mais de 500 funcionários federais.
Meguerian pediu aos índios
que não tentem expulsar aqueles que não saírem após o final
do prazo. A ordem é para que
apenas a PF faça isso.
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