![]() São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997. |
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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice OMBUDSMAN À procura do "Senhor X"
MARIO VITOR SANTOS ![]() O que está em jogo? Exemplos dos contra-ataques usados: a CPI dos Títulos seria manobra antimalufista, os filmes que mostram barbaridades policiais teriam sido patrocinados por traficantes, a fita do "Senhor X" levaria o selo Maluf de qualidade e Venceslau seria um doente mental a falar asneiras. Pode, sim, haver interesses e interessados. O processo de aperfeiçoamento dos costumes políticos requer também melhorias na percepção geral sobre o que está em jogo a cada momento, inclusive em decorrência da atuação dos veículos de comunicação de massa. Hoje, só os profissionais dominam esse conhecimento. Por que não democratizá-lo? É preciso saber discernir os que procuram sinceramente a independência, pautando-se por uma atitude mais ética e isenta na difusão de informações, dos que se lançam com grande entusiasmo contra uma facção, mas não revelam o mesmo ânimo na hora de informar sobre seu oponente. Preocupa que os ataques ao sigilo das fontes sejam vistos como alheios a preocupações éticas. Enquanto a TV Globo tentava proteger sua identidade -embora até a respeito da cessão do vídeo haja controvérsia- alguns veículos caçavam o nome do cinegrafista da favela Naval. "Natural", "humano", "quem não quer saber?", pode-se dizer. Mas a pergunta fundamental é: para quê? A importância das imagens diminuiria se tivessem sido gravadas por bandidos? ![]() Fontes dos outros O cinegrafista foi descoberto. É um profissional sem nada que o desabone. Sua identidade já está exposta há algum tempo. A história dele talvez não incentive os que queiram seguir seu caminho. Porém a revelação da identidade das fontes dos outros é considerada, na maioria dos casos, expediente normal no jornalismo de concorrência, uma espécie de prêmio de consolação que diminui a proporção do furo levado e do orgulho ferido, inclusive por ajudar a responder à pergunta "a quem interessa?" No caso da identidade do "Senhor X", a caçada foi imediata. A Comissão de Sindicância da Câmara pediu a identidade, houve uma certa cobrança -em nome do "a quem interessa"- para que a Folha revelasse a fonte. Os concorrentes, como no caso do vídeo da favela Naval Globo, fizeram reportagens, apresentaram nomes, fotos e histórias. Apareceu até um advogado dando entrevistas em nome do suposto "Senhor X", depois desautorizado. ![]() O que importa A Folha manteve o sigilo, apesar da força dos argumentos de que a identidade do autor da gravação ajudaria a esclarecer interesses por trás da notícia, colocando-a em perspectiva. Sem dúvida, o "Senhor X" -cuja identidade não conheço- pode ter essa ou aquela intenção escusa ao fazer a fita, mas será que isso afetaria em alguma medida a gravidade do que trouxe a público? Os envolvidos, sim, podem usar esse argumento. A mídia tem que ponderar sobre o que é mais importante. É o momento de refletir a respeito da caça sem tréguas às identidades das fontes dos outros e de que seja lícito divulgá-las em qualquer situação. Não é o caso de qualquer proibição, mas de reflexão a respeito de limites éticos para essa prática considerada "normal". Recentemente, alguém ofereceu-se para dar mais detalhes à Câmara sobre o escândalo da compra de votos. Os deputados não apresentaram garantias suficientes. A fonte secou na hora. Sem sigilo da fonte entope-se o conduto que traz a público informações que de fato importam. Ocorre que a manutenção do segredo com frequência não depende apenas do compromisso do jornalista envolvido ou mesmo de seu veículo. Com frequência, os concorrentes trabalham contra o acordo feito e às vezes conseguem inutilizá-lo. Quem não tem a informação num determinado momento, talvez deva temperar sua ânsia natural, levando em consideração também a saúde do sistema como um todo. Vale pensar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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