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ANÁLISE
Acordo previsível, de olho no caixa
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A facilidade com que o Planalto
e os governadores chegam a acordos em torno da reforma tributária ajuda a explicar a insatisfação
do empresariado com o projeto:
as mudanças propostas se voltam
cada vez mais para o caixa da
União e dos Estados, enquanto o
setor privado fica de lado.
Mal se disfarçava ontem que as
medidas anunciadas já eram consensuais antes da reunião e apenas aguardavam o melhor momento para virem a público.
Os interesses são comuns -os
governadores precisam ajustar
suas contas para viabilizarem
seus mandatos, e a Fazenda quer
o acerto fiscal dos Estados para
evitar mais problemas com a dívida pública, o risco-país e o acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para tanto, concordou-se em incluir na reforma a compensação
das perdas com o fim do ICMS sobre as exportações, já aplicada hoje, e em permitir maior liberdade
para os gastos estaduais, ampliando o alcance de um recurso jurídico usado há quase dez anos pela
União.
Fora isso, houve mais uma promessa retórica de que a reforma
não elevará a carga tributária do
país, atualmente no patamar recorde de cerca de 36% do PIB
(Produto Interno Bruto).
No entanto, os governadores
torceram o nariz para uma das
principais reivindicações dos empresários destinada a impedir o
aumento de impostos: transferir
dos Estados para o Senado a decisão final sobre as alíquotas do novo ICMS.
Pelo pacto firmado com o governo, caberá ao Confaz, conselho
de secretários estaduais da Fazenda, definir a distribuição das novas alíquotas entre as diferentes
mercadorias e serviços -para o
empresariado, é grande o risco de
serem escolhidas as alíquotas
mais altas para o maior número
possível de produtos.
É um exemplo de como pode
ser inócuo o lobby das confederações da indústria, do comércio e
da agricultura. Suas propostas demandam discussões mais complexas e ambiciosas, e o governo
precisa aprovar a reforma neste
ano. Daí ter escolhido os governadores como interlocutores preferenciais.
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