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JANIO DE FREITAS
A sabedoria do bolso
O povo é que entende de
economia, e mais uma vez o
comprova. Enquanto a quase
unanimidade dos jornalistas de
economia e o pessoal da área
econômica do governo cantam
formidáveis vitórias, nas pesquisas de opinião o povo vinha prevendo aumento da inflação. Pois
não dá outra, por mais que o jornalismo econômico o escamoteie. A previsão de 5,5% para o
ano já anda pelos 7% -quase
metade a mais, ao fechar o primeiro semestre.
O combate à inflação é a idéia
mestra, ou única, do governo, como imaginado fator para motivar o crescimento da economia e
os investimentos estrangeiros.
Mesmo, portanto, que esse raciocínio simplista e alheio à história
econômica tivesse algum fundamento, as aferições sucessivas da
inflação e a nova previsão para o
ano, mais do que contestar o ilusionismo do governo e de certo
jornalismo, demonstram o insucesso da política econômica. Ou
seja, o insucesso da única política
que o governo tem.
A propósito, as repetidas celebrações pelos saldos do comércio
exterior, já que não se contêm na
mídia, convém contê-las na leitura e na audição. Esses saldos
denunciam a ausência de importações que seriam indispensáveis
se a economia, de fato, estivesse
crescendo com a disposição de
que falam Antonio Palocci, Henrique Meirelles e o jornalismo
oficioso.
Além disso, o grosso das exportações sai da produção agropecuária, sob a forma de produtos
primários, não industrializados.
O saldo assim obtido não significa retomada do necessário crescimento econômico nem reduz o
desemprego.
Baixarias
Há 18 meses, o ministro Luiz
Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e não sei o
que mais (os ministérios de Lula
têm nomes de tamanho inverso à
sua eficácia), mantém uma pinimba ininterrupta com Carlos
Lessa, presidente do BNDES.
Acha Furlan que o banco integra
o conjunto do seu ministério,
mas seu presidente não se submete à orientação do ministro.
Tal como é apresentada, a queixa de Furlan exprime visão mais
patronal, aliás biograficamente
justificada, do que técnica ou política.
Exprime mais e pior, porém.
Ainda que com desagrado, Furlan se sujeitou à entrega do
BNDES, que lhe parece subordinado seu, a um escolhido por outros e, mais importante, com propósitos e concepções opostas às
suas. Quem não quer se submeter a determinadas condições
não as aceita em troca nem mesmo do efêmero e vão título de
ministro. É mais respeitável e
mais bonito.
Como complemento, o BNDES
só é de um ministério no organograma e por falta de organização
mais inteligente dos governos federais. A amplitude funcional e
operacional do BNDES sempre o
integrou a atividades de vários
ministérios, em conformidade
com as finalidades indicadas já
em seu nome. Em um dos seus
piores períodos, e teve muitos,
serviu até para mais, como sabem os que se recordam das privatizações favorecidas com dinheiro do BNDES.
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