São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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JANIO DE FREITAS

A sabedoria do bolso

O povo é que entende de economia, e mais uma vez o comprova. Enquanto a quase unanimidade dos jornalistas de economia e o pessoal da área econômica do governo cantam formidáveis vitórias, nas pesquisas de opinião o povo vinha prevendo aumento da inflação. Pois não dá outra, por mais que o jornalismo econômico o escamoteie. A previsão de 5,5% para o ano já anda pelos 7% -quase metade a mais, ao fechar o primeiro semestre.
O combate à inflação é a idéia mestra, ou única, do governo, como imaginado fator para motivar o crescimento da economia e os investimentos estrangeiros. Mesmo, portanto, que esse raciocínio simplista e alheio à história econômica tivesse algum fundamento, as aferições sucessivas da inflação e a nova previsão para o ano, mais do que contestar o ilusionismo do governo e de certo jornalismo, demonstram o insucesso da política econômica. Ou seja, o insucesso da única política que o governo tem.
A propósito, as repetidas celebrações pelos saldos do comércio exterior, já que não se contêm na mídia, convém contê-las na leitura e na audição. Esses saldos denunciam a ausência de importações que seriam indispensáveis se a economia, de fato, estivesse crescendo com a disposição de que falam Antonio Palocci, Henrique Meirelles e o jornalismo oficioso.
Além disso, o grosso das exportações sai da produção agropecuária, sob a forma de produtos primários, não industrializados. O saldo assim obtido não significa retomada do necessário crescimento econômico nem reduz o desemprego.

Baixarias
Há 18 meses, o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e não sei o que mais (os ministérios de Lula têm nomes de tamanho inverso à sua eficácia), mantém uma pinimba ininterrupta com Carlos Lessa, presidente do BNDES. Acha Furlan que o banco integra o conjunto do seu ministério, mas seu presidente não se submete à orientação do ministro. Tal como é apresentada, a queixa de Furlan exprime visão mais patronal, aliás biograficamente justificada, do que técnica ou política.
Exprime mais e pior, porém. Ainda que com desagrado, Furlan se sujeitou à entrega do BNDES, que lhe parece subordinado seu, a um escolhido por outros e, mais importante, com propósitos e concepções opostas às suas. Quem não quer se submeter a determinadas condições não as aceita em troca nem mesmo do efêmero e vão título de ministro. É mais respeitável e mais bonito.
Como complemento, o BNDES só é de um ministério no organograma e por falta de organização mais inteligente dos governos federais. A amplitude funcional e operacional do BNDES sempre o integrou a atividades de vários ministérios, em conformidade com as finalidades indicadas já em seu nome. Em um dos seus piores períodos, e teve muitos, serviu até para mais, como sabem os que se recordam das privatizações favorecidas com dinheiro do BNDES.


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