São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO MENSALÃO/DEPOIMENTO

Registros apontam que chefes de gabinete de deputados do PL e do PP também estiveram na agência localizada em shopping

Valério freqüentou Banco Rural em Brasília

LEONARDO SOUZA
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos dois assessores de deputados federais de partidos acusados de receber o "mensalão" e o publicitário mineiro Marcos Valério de Souza tiveram seus nomes registrados no sistema de entrada do Brasília Shopping como tendo freqüentado a agência do Banco Rural no edifício.
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou ontem, em seu depoimento à CPI dos Correios, que a agência do shopping tem sido o local onde o "mensalão" é distribuído a parlamentares.
João Cláudio de Carvalho Genu, chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR), teria estado na agência no dia 20 de janeiro do ano passado, às 15h22. Eujaci Moreira dos Santos, chefe-de-gabinete do deputado João Leão (PL-BA), tem seu nome registrado na entrada por duas vezes como tendo ido à agência, em 2003 e 2005. Santos negou ter ido à agência.
Janene foi apontado por Jefferson, em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara na semana passada, como um dos beneficiários do "mensalão" -suposto esquema de pagamento de propinas a parlamentes que seria orquestrado pelo PT.
Genu, de acordo com reportagem da revista "Época", seria um dos "operadores" do pagamento a parlamentares do PP.
"[...] O senhor Marcos Valério, versão moderna e macaqueada do senhor PC Farias, sacava um milhão por dia nas contas do Banco Rural. Ou sacava em Minas Gerais ou no prédio do Brasília Shopping, no nono andar, onde muitos assessores dos deputados que recebem "mensalão" estão registrados na portaria. Subiam até o escritório do banco e recebiam R$ 30 mil, R$ 40 mil, às vezes, R$ 20 mil, até R$ 60 mil", disse ontem Jefferson, em depoimento à CPI.
A Folha conversou com um dos funcionários do banco. Questionado se conhecia Marcos Valério Souza, disse que somente pela TV. Acrescentou que Valério não era cliente da agência e que nunca estivera lá.
De acordo com os registros da portaria, Valério esteve na agência no dia 19 de agosto de 2003, acompanhado do seu sócio e advogado Rogério Tolentino.
As empresas de Valério registraram saques de R$ 20,9 milhões entre 2003 e 2005, segundo relatório do Coaf divulgado pela revista "IstoÉ". No mesmo dia em que ele esteve na agência em Brasília, sua empresa DNA Propaganda registrou, em Minas Gerais, um saque de R$ 150 mil.
Em entrevista à Folha ontem à noite, Eujaci Moreira dos Santos, chefe de gabinete do deputado João Leão (PL-BA), negou ter estado na agência do Banco Rural no Brasília Shopping nos anos de 2003 e de 2005, ao contrário do que consta nos registros do Brasília Shopping.
Santos confirmou como sendo seu o número de RG registrado na portaria do prédio, mas negou várias vezes a possibilidade de ter entrado na agência, mesmo que fosse para pagar uma conta qualquer. "Eu vou muito ao Brasília Shopping, mas não vou ao Banco Rural. Eu nem sei onde é o Banco Rural", disse Santos, que afirmou ter o costume de passear com a família no local.
O chefe-de-gabinete negou ter conta no Banco Rural e disse "achar" que o deputado João Leão também não tem. "Eu só tenho conta no Banco do Brasil e na Caixa", disse Santos.
Num segundo contato, também por telefone, Santos aventou a possibilidade de o sistema de segurança do shopping ter feito uma anotação errada, usando seu RG. "Quando você vai ao shopping e estaciona na garagem, eles pedem sua identificação. Eu acho, acredito que não. Às vezes em que eu fui no Brasília Shopping, estacionei embaixo e me pediram a identificação", afirmou Santos.
A assessoria de imprensa do deputado José Janene (PP-PR) informou que seu chefe-de-gabinete João Cláudio de Carvalho Genu está "fora de contato" há vários dias, e por isso não conseguiria localizá-lo ontem. A assessoria tentou contato com o parlamentar, mas ele não foi encontrado.
Os advogados do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza não foram localizados ontem à noite para comentar o assunto. A assessoria dos advogados comentou apenas que seria natural Valério freqüentar agências do Banco Rural, já que o publicitário detém a conta de propaganda da instituição.


Texto Anterior: "Eleição não custa menos de R$ 1 mi"
Próximo Texto: Conselho deve pedir quebra de sigilo de Jefferson
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.