|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO MENSALÃO/DEPOIMENTO
Registros apontam que chefes de gabinete de deputados do PL e do PP também estiveram na agência localizada em shopping
Valério freqüentou Banco Rural em Brasília
LEONARDO SOUZA
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos dois assessores de
deputados federais de partidos
acusados de receber o "mensalão" e o publicitário mineiro Marcos Valério de Souza tiveram seus
nomes registrados no sistema de
entrada do Brasília Shopping como tendo freqüentado a agência
do Banco Rural no edifício.
O deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) afirmou ontem, em seu
depoimento à CPI dos Correios,
que a agência do shopping tem sido o local onde o "mensalão" é
distribuído a parlamentares.
João Cláudio de Carvalho Genu,
chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR), teria estado na
agência no dia 20 de janeiro do
ano passado, às 15h22. Eujaci Moreira dos Santos, chefe-de-gabinete do deputado João Leão (PL-BA), tem seu nome registrado na
entrada por duas vezes como tendo ido à agência, em 2003 e 2005.
Santos negou ter ido à agência.
Janene foi apontado por Jefferson, em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara na semana passada, como um dos beneficiários do "mensalão" -suposto esquema de pagamento de
propinas a parlamentes que seria
orquestrado pelo PT.
Genu, de acordo com reportagem da revista "Época", seria um
dos "operadores" do pagamento
a parlamentares do PP.
"[...] O senhor Marcos Valério,
versão moderna e macaqueada
do senhor PC Farias, sacava um
milhão por dia nas contas do Banco Rural. Ou sacava em Minas Gerais ou no prédio do Brasília
Shopping, no nono andar, onde
muitos assessores dos deputados
que recebem "mensalão" estão registrados na portaria. Subiam até
o escritório do banco e recebiam
R$ 30 mil, R$ 40 mil, às vezes, R$
20 mil, até R$ 60 mil", disse ontem
Jefferson, em depoimento à CPI.
A Folha conversou com um dos
funcionários do banco. Questionado se conhecia Marcos Valério
Souza, disse que somente pela
TV. Acrescentou que Valério não
era cliente da agência e que nunca
estivera lá.
De acordo com os registros da
portaria, Valério esteve na agência no dia 19 de agosto de 2003,
acompanhado do seu sócio e advogado Rogério Tolentino.
As empresas de Valério registraram saques de R$ 20,9 milhões
entre 2003 e 2005, segundo relatório do Coaf divulgado pela revista
"IstoÉ". No mesmo dia em que ele
esteve na agência em Brasília, sua
empresa DNA Propaganda registrou, em Minas Gerais, um saque
de R$ 150 mil.
Em entrevista à Folha ontem à
noite, Eujaci Moreira dos Santos,
chefe de gabinete do deputado
João Leão (PL-BA), negou ter estado na agência do Banco Rural
no Brasília Shopping nos anos de
2003 e de 2005, ao contrário do
que consta nos registros do Brasília Shopping.
Santos confirmou como sendo
seu o número de RG registrado na
portaria do prédio, mas negou várias vezes a possibilidade de ter
entrado na agência, mesmo que
fosse para pagar uma conta qualquer. "Eu vou muito ao Brasília
Shopping, mas não vou ao Banco
Rural. Eu nem sei onde é o Banco
Rural", disse Santos, que afirmou
ter o costume de passear com a família no local.
O chefe-de-gabinete negou ter
conta no Banco Rural e disse
"achar" que o deputado João Leão
também não tem. "Eu só tenho
conta no Banco do Brasil e na Caixa", disse Santos.
Num segundo contato, também
por telefone, Santos aventou a
possibilidade de o sistema de segurança do shopping ter feito
uma anotação errada, usando seu
RG. "Quando você vai ao shopping e estaciona na garagem, eles
pedem sua identificação. Eu acho,
acredito que não. Às vezes em que
eu fui no Brasília Shopping, estacionei embaixo e me pediram a
identificação", afirmou Santos.
A assessoria de imprensa do deputado José Janene (PP-PR) informou que seu chefe-de-gabinete João Cláudio de Carvalho Genu
está "fora de contato" há vários
dias, e por isso não conseguiria localizá-lo ontem. A assessoria tentou contato com o parlamentar,
mas ele não foi encontrado.
Os advogados do publicitário
mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza não foram localizados ontem à noite para comentar
o assunto. A assessoria dos advogados comentou apenas que seria
natural Valério freqüentar agências do Banco Rural, já que o publicitário detém a conta de propaganda da instituição.
Texto Anterior: "Eleição não custa menos de R$ 1 mi" Próximo Texto: Conselho deve pedir quebra de sigilo de Jefferson Índice
|