São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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SUCESSÃO
Governo distribui 30 mil cartazes para divulgar nova moeda e promove realizações; custo de campanha não é revelado
Aniversário do Real vira evento eleitoral

RENATA GIRALDI
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai transformar as comemorações do aniversário do Real em um grande evento eleitoral.
Em 94, foi lançada uma nova moeda. Hoje, será lançada a nova coleção de moedas de real, que custou aos cofres públicos R$ 326 milhões. Hoje, como em 94, quando era candidato à Presidência, a meta de FHC é a mesma: fazer do Plano Real o carro-chefe do programa de reeleição.
Além de lançar a coleção de novas moedas de real, o governo mandou distribuir 30 mil cartazes pelo país, exibir vídeos nas emissoras de TV e dependurar painéis gigantes nos prédios dos ministérios -toda a propaganda afirma que o país mudou após o plano.
A Folha apurou que a Secretaria de Comunicação Social, ligada ao Palácio do Planalto e responsável pela publicidade do aniversário, proibiu a divulgação dos custos envolvendo a campanha. O mesmo ocorreu no Banco Central, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal -que nada informaram, apesar de terem custeado as peças publicitárias.
A Folha ouviu das assessorias da Caixa e do BB que não tinham autorização para informar sobre os gastos. No Banco Central, a orientação foi para procurar o secretário de Relações Institucionais da entidade, Gerson Bonani, que não atendeu as ligações telefônicas.
A agência Atual Propaganda, com sede em Brasília, foi encarregada pelo Banco Central de elaborar toda a publicidade a respeito das novas moedas de real. A Folha procurou a sócia-diretora da empresa, Patrícia Figueiredo, mas não foi atendida, embora tenha deixado três recados.

Erro no livro
O centro das comemorações dos quatro anos do Plano Real, hoje, em Brasília, será a solenidade de substituição das moedas.
Em uma festa, organizada pelo Banco do Brasil, no centro do treinamento da instituição, FHC, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, farão um balanço sobre os efeitos do plano na sociedade.
Na semana passada, o governo elaborou um documento detalhando as realizações durante os quatro anos do Real e divulgou o material por meio da Internet.
Nele, FHC apontou ontem um erro: o número de livros didáticos distribuídos foi de 116 milhões ano passado, e não 64,7 milhões.
No evento de hoje, a divulgação será didática: por meio de vídeos, um deles protagonizado pelo ator Paulo Autran e outro com gravações de depoimentos, o governo pretende mostrar que a população aprova o plano.
FHC começou desde ontem a divulgar os efeitos do Real. Após usar o programa semanal de rádio, que vai ao ar todas as terças-feiras, ele falou durante 50 minutos para um grupo de oficiais militares, reunidos no Planalto, destacando as vantagens do plano.

Superando crises
O mesmo discurso deverá ser repetido hoje, quando FHC dirá que o governo, por meio do Real, conseguiu superar os efeitos de várias crises econômicas, como a do México (em 1994) e a da Ásia (em 1997), diminuiu em dez pontos percentuais os níveis de pobreza e aumentou o salário médio dos trabalhadores.
Aproveitando o aniversário do Real, o presidente deverá falar sobre a CPMF (o imposto provisório que sustenta a saúde) e a reforma agrária.
Destacará que a saúde ganhou após a implantação do tributo e que haverá 300 mil famílias assentadas até o fim do ano.



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