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Dúvida sobre futuro marca comemoração
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
O Plano Real completa hoje quatro anos de sucesso no controle da
inflação, mas faz seu aniversário
mais marcado por ameaças à estabilidade da moeda e dúvidas sobre
seu futuro.
Como em 1994, o Real é o principal trunfo da candidatura presidencial de Fernando Henrique
Cardoso, favorita na disputa eleitoral deste ano.
A diferença é que agora resta menos tempo para corrigir as fragilidades da economia brasileira. O
mercado internacional já não é tão
favorável, e, do lado doméstico,
crescem as cobranças contra os
efeitos colaterais do plano.
Em vez de prosseguir nos esforços para pôr ordem nas contas públicas, o governo dá ênfase em
anunciar mais gastos.
Coincidência ou não, este ano
eleitoral é o primeiro em que a
equipe que vem tocando o Real
não fixa metas de equilíbrio entre
gastos e despesas do governo.
Outros ajustes importantes ficarão para depois das eleições. Serão
necessárias reformas no sistema
de impostos, na distribuição de
gastos públicos, da legislação trabalhista e mais uma etapa da reforma da Previdência.
Também será preciso, com ou
sem mudança da política de câmbio, equilibrar as exportações e as
importações para tornar o país
menos dependente do capital externo.
São todas medidas polêmicas,
que deverão trazer desgaste a seus
executores. Ainda que o próximo
governo tenha apoio político para
levá-las adiante (ou alternativas
viáveis), resta a dúvida sobre
quanto tempo haverá para pôr a
economia nos eixos.
Há quatro anos, a conjuntura internacional encorajava a adoção
do Plano Real.
Havia dinheiro de sobra no mercado para cobrir, ao mesmo tempo, o déficit do comércio exterior
e os buracos na contabilidade do
governo.
Até 1994, era a inflação que se
encarregava disso. Bastava adiar
os gastos públicos para reduzir
seu valor, e o Banco Central desvalorizava a moeda para estimular
as exportações e controlar as importações.
Como outros países latino-americanos, o Brasil trocou a inflação
pela dependência de capital externo. Essa situação, porém, é necessariamente temporária.
Logo nos primeiros meses do
Real, a crise do México mostrou o
perigo de depender excessivamente de investimentos externos e lançou dúvidas sobre os programas
de estabilização dos países subdesenvolvidos.
No ano passado, a crise financeira da Ásia pôs de novo o mercado
internacional em alerta. Neste
ano, já houve sustos com as turbulências na Rússia. Agora, teme-se
a recessão japonesa e a possibilidade de alta de juros nos Estados
Unidos.
O fato de o plano ainda estar em
processo de consolidação não impede que os custos trazidos pelo
real gerem reclamações crescentes
na sociedade.
Controlada a inflação, o próximo item da agenda de qualquer
política econômica é o crescimento. Neste ponto, o real tem deixado a desejar.
Pelo cronograma elaborado no
início do governo FHC, a economia deveria crescer 5% neste ano.
No entanto, uma taxa de 2% será
motivo de comemoração.
A consequência mais visível do
crescimento medíocre, resultado
das fragilidades que não foram
corrigidas, é o aumento do desemprego -que, por definição,
significa que a economia está operando abaixo de seu potencial.
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