São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Onde o cenário muda

A diferença mais notável entre o Datafolha de hoje e o Ibope de quatro dias atrás é que Ciro Gomes e José Serra aparecem em situação de empate real, com 20 e 19 por cento cada, e não no empate hipotético decorrente da aplicação, a favor de um ou de outro, dos pontos da margem de erro da pesquisa. A diferença mais notável não é, porém, necessariamente a mais importante.
A posição de Luiz Inácio Lula da Silva se mostra inalterada em relação ao Datafolha e ao Ibope anteriores (os mesmos 37% e os mesmos 35% já registrados), mas sobre a sua candidatura é que recaem os mais mais agudos efeitos político-eleitorais do empate de José Serra com Ciro Gomes.
Todos os setores empresariais e influentes que já se conformavam, à vista das dificuldades de José Serra, em aceitar Lula da Silva para escapar às rebeldias de Ciro Gomes, voltam às suas trincheiras e reativam a artilharia pesada em favor do seu candidato predileto.
Entre essas forças pró-Serra está a mídia. É, digamos, o conjunto de canhões daquela artilharia. Deu a sonoridade pública que complementou a operação para desmontar a candidatura de Roseana Sarney, então considerada o obstáculo maior a José Serra, mas foi surpreendida, e perturbou-se, com a ocupação do novo espaço por Ciro Gomes. A perturbação reduziu a intensidade da ação eleitoral e levou a alguma sutileza, o que permitiu a impressão de que a mídia se tornava, nesta eleição, mais jornalística e menos viciosa eleitoralmente. Adeus a tal ilusão.
Nas forças empresariais e de mídia prevalece a convicção de que, se José Serra chegar ao segundo turno, Lula da Silva será levado à quarta derrota. Alguém pode ter dúvida do papel da mídia em busca de tal objetivo? Não tardam os materiais sobre a prefeitura de São Paulo e o governo do Rio Grande do Sul, apresentados como se Lula da Silva fosse o responsável por essas administrações, nelas estivesse o prenúncio de um governo seu e o São Paulo do governo peessedebista não estivesse pior do que nunca. Daí em diante, segundo a necessidade, o limite será o vale-tudo.
Ciro Gomes não está liquidado pelo empate. Sua capacidade de reação é desconhecida, porque não foi exigida antes e, sobretudo, porque a campanha está mal conduzida. Para batê-lo ou para dificultar-lhe a reação, Ciro Gomes continua na mira do canhoneio. O que muda mesmo, a partir do empate Ciro-Serra, é o cenário de razoável limpeza democrática e ética em que Lula da Silva pôde transitar até aqui.


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