São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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ÍNDIOS
Dinarte Madeiro aguarda liberação de verbas para iniciar retirada de 500 a 1.000 invasores das terras indígenas
PF e Funai planejam tirar garimpeiros da reserva ianomâmi

ANDRÉA DE LIMA
KÁTIA BRASIL

DA AGÊNCIA FOLHA

A Funai e Polícia Federal devem realizar dentro de 15 dias uma operação para retirar de 500 a 1.000 garimpeiros da reserva indígena ianomâmi, nos Estados de Roraima e Amazonas.
A decisão vai ser proposta amanhã em relatório aos órgãos federais e ao Ministério da Justiça pelo diretor de Assistência da Funai (Fundação Nacional do Índio), Dinarte Nobre Madeiro, 55.
"Essa operação está condicionada à liberação de verba pelo governo federal", disse o diretor da Funai. Madeiro realizou esta semana três sobrevôos na reserva e constatou os sinais de garimpo.
Segundo ele, para chegar às margens dos rios, onde é feita a extração do ouro, os garimpeiros estão usando cinco aeronaves que sairiam do aeroporto de Boa Vista (RR) em vôos irregulares.
"Eles usam balsas e maquinário de sucção de areia", disse o diretor do órgão. Segundo Madeiro, "as pistas de pouso foram reativadas, e os rios estão com as águas escuras: um reflexo da contaminação por mercúrio e uso do maquinário". Madeiro reconheceu que a nova invasão de garimpeiros, iniciada no início do segundo semestre deste ano, é consequência da falta de recursos da Funai.
"Sem recursos, não podemos dar continuidade à manutenção e fiscalização da área. Por isso, eles entraram de novo na reserva."
Na terça-feira, Madeiro, acompanhado do administrador-regional-interino da Funai, Martinho Andrade Júnior, sobrevoou o rio Mucajaí: "Nessa áreas localizamos garimpeiros trabalhando nos rios Mucajaí, Belonumes e Parima. Ali detectamos a reativação das pistas de pouso e decolagem. Nas cabeceiras das pistas estão os barracos dos garimpeiros".
Na região do Xidéia, onde as aldeias dos ianomâmis estão bem na faixa de fronteira com a Venezuela, o diretor de Assistência da Funai localizou os garimpeiros no rio Parafuri. Lá, eles reativaram duas pistas clandestinas. Na quarta, Madeiro fez nova vistoria: "Sobrevoamos os rios Ericó e Uaricaá. Os garimpeiros chegaram a esses rios entrando a pé pelas regiões do Tepequém (norte de Boa Vista) e Ilha de Maracá. Eles também usam voadeiras (lanchas)".
Na região do Apiaú, em Alto Alegre (RR), os funcionários da Funai detectaram movimentação de garimpeiros até as cabeceiras do rio Catrimani. Nessa área, as pistas do Neném Velho e Chico Velho também foram reativadas.
Seis ONGs que prestam atendimento de saúde aos ianomâmis entraram com uma representação no Ministério Público Federal, no dia 19, para denunciar a incursão e ameaças de garimpeiros. Elas relataram a morte de cinco índios e um garimpeiro neste ano. Entre 1991 e 1992, Madeiro foi o responsável pela retirada de 8.500 garimpeiros da reserva ianomâni.


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