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COMO FOI A CAMPANHA
PSB
Sem dinheiro nem apoio de coligados, ex-prefeita sonha repetir eleição de 88
Erundina tenta debelar crise para chegar ao 2º turno
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Largo 13 de Maio, zona sul de
São Paulo. 15 de agosto. 15h.
Nas calçadas lotadas de ambulantes, artistas de rua, pedintes e
desempregados, a frase se repete
dezenas, centenas de vezes: "Ô,
meu irmão. Tô pedindo o seu
apoio, companheiro. Me ajuda?".
Foi assim que a paraibana Luiza
Erundina de Sousa fez a maior
parte de sua campanha. Foram
173 dias, muitos iniciados às 4h e
encerrados depois das 21h.
Anda devagar. Não come. Toma
no máximo um café. Só abraça e
beija quem vier ao seu encontro.
Na hora do apelo, evita promessas. Limita-se a estender a mão,
oferecendo ao potencial eleitor
um calendário feito em forma de
cartão de crédito -cujo estoque,
minguado, muitas vezes acaba
antes da peregrinação diária.
Periferia
Na periferia, a rejeição apontada
pelas pesquisas -ela tem a quarta maior entre todos os candidatos- não aparece. Poucos recusam o cumprimento. Raríssimos
são os que a hostilizam abertamente.
"Sou a candidata dos pobres. Os
outros são a elite", repete ela, reafirmando a estratégia de se diferenciar dos concorrentes pela humilde origem familiar. "As pesquisas não vão à minha periferia."
Soltando os pulmões de cima de
um caminhão ou falando calmamente aos jornalistas, Erundina
costuma dizer que é perseguida.
"Sou mulher, nordestina, solteira, de esquerda. Sou o que contraria o poder vigente. Por isso, o poder ignora a minha candidatura."
Mas não foi só a mídia que esteve no seu alvo nesses dias de campanha.
Erundina começou a corrida
em alta -e em silêncio. Foi disparando para todos os lados conforme caía nas pesquisas que questiona.
Metamorfose
O tom inflamado das críticas,
porém, é um dos poucos vestígios
dos anos rebeldes da ex-petista.
Quem ouve suas pregações percebe a tentativa de sepultar a militante que defendia a estatização
total e o apoio incondicional aos
movimentos grevistas.
Combatendo a fama de xiita, ela
se lançou na disputa ao lado de
um empresário do setor de brinquedos, que ocupa a vice-presidência do Ciesp, um dos templos
da indústria paulista.
A estratégia foi criar uma agenda dupla, com Erundina percorrendo a periferia, enquanto o seu
vice, Emerson Kapaz, encostava
nos empresários, tentando somar
um "novo eleitorado" para a "nova" Erundina. Sempre que possível, um levaria o outro a seu mundo original. "Kapaz foi escolhido
a dedo, para complementar o que
me falta", afirma ela.
Os dois assumiram as diferenças e tentaram usá-las a favor da
candidatura. Kapaz tornou-se o
único vice visível da campanha
paulistana. Estava na TV, nos outdoors, nos comícios, nas caminhadas -e na porta do carro,
pronto a reverenciar a candidata.
Cofres vazios
Os cofres da coligação "São Paulo Somos Nós" -que aglutina,
além do PSB de Erundina e do
PPS de Kapaz, o PMN e o PDT-
começaram e terminaram vazios.
O dinheiro, diz Kapaz, só pinga.
Faltam carros, panfletos, faixas.
Pesquisas qualitativas, então,
nem pensar.
Só a dez dias do final da campanha, a coligação conseguiu um caminhão de som -um palanque
móvel, do estilo de trio elétrico.
Nele, seguida por alguns poucos
fiéis candidatos a vereador, Erundina percorreu a periferia.
Kapaz prefere não fazer estimativas, mas afirma que a arrecadação ficará "muito abaixo" dos R$
6,4 milhões estimados à Justiça
Eleitoral.
Sem dinheiro e com pouco tempo na TV, as turbulências vieram
à tona nos primeiros dez dias de
setembro. Com bases fracas, as
quatro pequenas legendas não
conseguiram manter a coesão em
torno de Erundina.
Aliados
Nas fileiras do PPS, partido que
já havia protagonizado uma crise
ao trocar filiações por promessas
de brindes para impedir a coligação, candidatos a vereador e presidente de diretórios desistiram
de fazer a campanha de Erundina,
insatisfeitos com o desempenho
de Kapaz.
Depois foi a vez do PDT, do qual
pelo menos quatro candidatos à
Câmara Municipal procuraram a
imprensa para declarar que estavam debandando rumo à candidatura da petista Marta Suplicy.
Na esteira da estagnação nas
pesquisas, membros da coordenação do programa de governo
ameaçaram seguir o mesmo caminho.
As críticas tinham alvo certo: o
publicitário Chico Malfitani. Os
coordenadores não aceitavam a
falta das 168 propostas de governo
do programa eleitoral.
Malfitani evitou polêmica. Kapaz deixou o posto de vice e coordenador para vestir a farda de
bombeiro. Erundina desconversou.
"Estou acostumada com esse tipo de crise desde que nasci. Fui
começar a andar apenas aos três
anos de idade, de tão subnutrida
que eu era. Isso de agora não é crise", contemporizou a candidata.
1988
Hoje, Erundina espera poder repetir a surpresa de 1988, quando,
na boca-de-urna, virou o jogo e
derrotou Paulo Maluf por menos
de 300 mil votos de diferença.
Desta vez, porém, além de três
adversários diretos, tem pela frente o desconhecimento do número
de seu partido e a sombra do PT.
A apuração dirá.
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