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PFL
Saúde de senador foi motivo de
dúvida da permanência da candidatura
Tuma supera as pressões para desistir da disputa
DA REPORTAGEM LOCAL
Com três pontes de safena e 20
kg mais magro, o senador Romeu
Tuma (PFL), 68, passou por toda
a campanha enfrentando rumores de que renunciaria por problemas de saúde. Parte dos rumores
saía de lideranças nacionais e estaduais de seu próprio partido.
Pressionado, abandonou a idéia
original de fazer uma "telecampanha", que seria confinada ao horário eleitoral gratuito, e se enfiou
pelos redutos das periferias, fazendo do palanque seu principal
atestado médico.
No PFL, a avaliação é que hoje,
apesar de todas as resistências
partidárias que enfrentou, Tuma
conseguiu fixar seu nome como
liderança estadual da legenda.
Candidato desacreditado, houve forte pressão no início da campanha para que os pefelistas
apoiassem o tucano Geraldo
Alckmin. Na semana retrasada,
um encontro do senador pefelista
com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, simbolizou a retomada de
contato com os tucanos. Em discussão, uma possível aliança para
o segundo turno.
Abandono
Tuma começou a perder apoio
também no PMDB, com o qual se
aliou para ter direito ao maior
tempo de TV da propaganda eleitoral gratuita. Candidatos a vereador pelo partido começaram a se
aliar a concorrentes quando o pefelista parecia fragilizado nas pesquisas de intenção de voto.
Não bastasse isso, vieram à tona
as relações que manteve com o
ex-juiz Nicolau dos Santos Neto,
um dos principais acusados do
desvio de R$ 169 milhões do Fórum Trabalhista de São Paulo, e
investigações da Receita Federal
sobre a evolução patrimonial de
seu filho Robson Tuma, deputado
federal.
As desconfianças, diz Tuma, fizeram sumir os doadores da campanha. "Compro tudo a prazo.
Porque, com essa onda toda aí, a
turma ficou em dúvida se eu iria
permanecer candidato ou não.
Então tenho uma dificuldade em
conseguir ajuda", declarou.
Entre lágrimas
Devoto de são Judas, o santo das
causas desesperadas, o religioso
Romeu Tuma chorou durante toda a campanha. Chorou vendo
teatro na periferia, chorou na TV,
chorou no palanque.
"Falta apoio, falta carinho. Me
dá o direito de chorar as mágoas
pela falta de carinho", diz Tuma.
"Além disso, eu tive esse problema de saúde (as pontes de safena)
e quase morri. A vida da gente
muda depois de uma dessa."
Congregado mariano na juventude, Tuma fez uma campanha
ecumênica, passando por igrejas
de todas as correntes, pela Seicho-no-iê e pelo santuário do padre
Marcelo Rossi.
Quando o horário eleitoral gratuito começou, ele dominou a TV
com 26% do tempo total. A subida nas pesquisas amenizou a crise
partidária, diminuiu os rumores
de renúncia e o aproximou da cúpula da legenda, mas não garantiu
a presença de nenhum nome de
peso do PFL na campanha.
De sua rotina, excluiu apenas as
visitas ao Incor, recusando até o
convite para a inauguração de
uma nova ala do hospital.
"O pessoal me disse que não devo mais ir lá. Vão achar que estou
morrendo", explicou, receoso.
Com frases feitas, tentou driblar
aos poucos o tema que foi seu calcanhar-de-aquiles: a participação
no regime militar como diretor
do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), centro de
tortura de presos políticos.
"Trabalhei bem lá e consegui
respeitar o cidadão. Fiz cumprir a
lei sem nenhum tipo de violência.
Nunca houve tortura na minha
frente. Não sei se houve tortura.
Mas havia muita pressão", afirma
sobre o período, sempre de forma
lacônica.
Populismo
Na TV e nas ruas, o ar duro e
carrancudo de ex-delegado cedeu
espaço a um tipo populista.
Com ternos simples e usando o
mesmo sapato, tinha sempre estômago para mais uma besteira,
estreando no horário eleitoral
provando um sopão, distribuído
no Jardim Lapenna (zona leste de
São Paulo).
O estilo populista foi seguido à
risca, com direito a beijos, abraços, crianças e pausa para engraxar os sapatos na tradicional praça da Sé. A maratona incluiu distribuição de cumprimentos a todos que encontrava pelo caminho
e visitas a tantas casas quantos
fossem os convites.
Nascido na rua 25 de Março e filho de dono de armarinho, fez da
região comercial do centro da cidade seu quartel-general.
Na ponta da língua, levava a
promessa de segurança total e
criação do que batizou de Secretaria das Comunidades. "Se precisar, vou para a rua pegar bandido", repetia. "Vai ser só pedir para
o secretário, que mando fazer",
completava, desburocratizando
em níveis oníricos a administração da máquina municipal.
Prometeu de tudo -até emprego. "Se eu ganhar você vai ser minha assessora", disse a uma estagiária de direito no centro. A moça afirmou que votará em Marta
Suplicy (PT), mas, se Tuma ganhar, cobrará a promessa.
No palanque, seu principal cabo
eleitoral foi o pagodeiro Netinho.
O garoto-propaganda não vota
em Tuma, como diz na TV. O líder do grupo Negritude Júnior
tem residência eleitoral no município de Carapicuíba, a 22 km da
capital.
Hoje, quando o senador estiver
votando em Indianópolis, Netinho estará votando em Vanderlei
Coelho (PL), na escola desembargador Edgard de Moura Bitencourt, no centro de Carapicuíba.
(SÍLVIA CORRÊA E FLÁVIA SANCHES)
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