São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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PFL
Saúde de senador foi motivo de dúvida da permanência da candidatura
Tuma supera as pressões para desistir da disputa

DA REPORTAGEM LOCAL

Com três pontes de safena e 20 kg mais magro, o senador Romeu Tuma (PFL), 68, passou por toda a campanha enfrentando rumores de que renunciaria por problemas de saúde. Parte dos rumores saía de lideranças nacionais e estaduais de seu próprio partido.
Pressionado, abandonou a idéia original de fazer uma "telecampanha", que seria confinada ao horário eleitoral gratuito, e se enfiou pelos redutos das periferias, fazendo do palanque seu principal atestado médico.
No PFL, a avaliação é que hoje, apesar de todas as resistências partidárias que enfrentou, Tuma conseguiu fixar seu nome como liderança estadual da legenda.
Candidato desacreditado, houve forte pressão no início da campanha para que os pefelistas apoiassem o tucano Geraldo Alckmin. Na semana retrasada, um encontro do senador pefelista com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, simbolizou a retomada de contato com os tucanos. Em discussão, uma possível aliança para o segundo turno.

Abandono
Tuma começou a perder apoio também no PMDB, com o qual se aliou para ter direito ao maior tempo de TV da propaganda eleitoral gratuita. Candidatos a vereador pelo partido começaram a se aliar a concorrentes quando o pefelista parecia fragilizado nas pesquisas de intenção de voto.
Não bastasse isso, vieram à tona as relações que manteve com o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, um dos principais acusados do desvio de R$ 169 milhões do Fórum Trabalhista de São Paulo, e investigações da Receita Federal sobre a evolução patrimonial de seu filho Robson Tuma, deputado federal.
As desconfianças, diz Tuma, fizeram sumir os doadores da campanha. "Compro tudo a prazo. Porque, com essa onda toda aí, a turma ficou em dúvida se eu iria permanecer candidato ou não. Então tenho uma dificuldade em conseguir ajuda", declarou.

Entre lágrimas
Devoto de são Judas, o santo das causas desesperadas, o religioso Romeu Tuma chorou durante toda a campanha. Chorou vendo teatro na periferia, chorou na TV, chorou no palanque.
"Falta apoio, falta carinho. Me dá o direito de chorar as mágoas pela falta de carinho", diz Tuma. "Além disso, eu tive esse problema de saúde (as pontes de safena) e quase morri. A vida da gente muda depois de uma dessa."
Congregado mariano na juventude, Tuma fez uma campanha ecumênica, passando por igrejas de todas as correntes, pela Seicho-no-iê e pelo santuário do padre Marcelo Rossi.
Quando o horário eleitoral gratuito começou, ele dominou a TV com 26% do tempo total. A subida nas pesquisas amenizou a crise partidária, diminuiu os rumores de renúncia e o aproximou da cúpula da legenda, mas não garantiu a presença de nenhum nome de peso do PFL na campanha.
De sua rotina, excluiu apenas as visitas ao Incor, recusando até o convite para a inauguração de uma nova ala do hospital.
"O pessoal me disse que não devo mais ir lá. Vão achar que estou morrendo", explicou, receoso.
Com frases feitas, tentou driblar aos poucos o tema que foi seu calcanhar-de-aquiles: a participação no regime militar como diretor do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), centro de tortura de presos políticos.
"Trabalhei bem lá e consegui respeitar o cidadão. Fiz cumprir a lei sem nenhum tipo de violência. Nunca houve tortura na minha frente. Não sei se houve tortura. Mas havia muita pressão", afirma sobre o período, sempre de forma lacônica.

Populismo

Na TV e nas ruas, o ar duro e carrancudo de ex-delegado cedeu espaço a um tipo populista.
Com ternos simples e usando o mesmo sapato, tinha sempre estômago para mais uma besteira, estreando no horário eleitoral provando um sopão, distribuído no Jardim Lapenna (zona leste de São Paulo).
O estilo populista foi seguido à risca, com direito a beijos, abraços, crianças e pausa para engraxar os sapatos na tradicional praça da Sé. A maratona incluiu distribuição de cumprimentos a todos que encontrava pelo caminho e visitas a tantas casas quantos fossem os convites.
Nascido na rua 25 de Março e filho de dono de armarinho, fez da região comercial do centro da cidade seu quartel-general.
Na ponta da língua, levava a promessa de segurança total e criação do que batizou de Secretaria das Comunidades. "Se precisar, vou para a rua pegar bandido", repetia. "Vai ser só pedir para o secretário, que mando fazer", completava, desburocratizando em níveis oníricos a administração da máquina municipal.
Prometeu de tudo -até emprego. "Se eu ganhar você vai ser minha assessora", disse a uma estagiária de direito no centro. A moça afirmou que votará em Marta Suplicy (PT), mas, se Tuma ganhar, cobrará a promessa.
No palanque, seu principal cabo eleitoral foi o pagodeiro Netinho. O garoto-propaganda não vota em Tuma, como diz na TV. O líder do grupo Negritude Júnior tem residência eleitoral no município de Carapicuíba, a 22 km da capital.
Hoje, quando o senador estiver votando em Indianópolis, Netinho estará votando em Vanderlei Coelho (PL), na escola desembargador Edgard de Moura Bitencourt, no centro de Carapicuíba.
(SÍLVIA CORRÊA E FLÁVIA SANCHES)




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