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PSDB
Candidato limita-se a apertos de mão e declara preferir contar histórias
Alckmin não gosta de discurso nem pede voto
SANDRA BRASIL
LUCAS FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL
O tucano Geraldo Alckmin, 47, é um candidato que quase parece ter vergonha de ser
candidato. Mesmo com sete campanhas na bagagem, ele é formal ao "pedir" voto às pessoas que encontra pelas ruas de São Paulo.
Alckmin resume o seu
contato com o eleitor a um respeitoso aperto de mão e um discreto "bom
dia", "boa tarde" ou "boa noite". E é só.
Na contabilidade dele, são pelo menos
mil apertos de mão por dia.
Alckmin relaxa um pouco
quando encontra crianças, as únicas que eventualmente ganham
beijos do tucano tímido. "Não
é timidez não", disse. "Eu acho
que, ao cumprimentar as pessoas,
está implícito, na medida que você se apresenta para a pessoa, que
você está em campanha eleitoral e
está precisando de votos."
Para ele, não é necessário fazer
"um pedido protocolar de voto".
"Até porque muitas vezes as pessoas já se antecipam e informam
que vão dar o seu voto para mim",
disse.
Seu estilo inibido de cumprimentar as pessoas nas ruas pegou
muita gente de surpresa nesta
campanha. "Achei estranho. Ele
chegou aqui, apertou a minha
mão, disse "boa tarde" e foi embora. Normalmente, candidato faz
divulgação dele mesmo e pede voto", afirmou a vendedora Cristiane Venâncio, de uma farmácia do centro de Itaquera (zona leste).
É isso mesmo. Alckmin não distribui abraços calorosos, não distribui santinhos, não fala alto e o
que é mais raro: não promete resolver problemas imediatos dos
paulistanos com os quais chegou
a cruzar.
"Isso eu não faço. A pessoa precisa confiar que você, amanhã
eleito prefeito, vai se esforçar para
resolver as questões. Não adianta
você ficar falando "vou fazer tal
coisa". Acho que até perde a credibilidade. Não vou estar prometendo coisa absurda", afirmou.
Vaidade
Na última quarta, em Itaquera, a
manicure Jorgina Ferreira abordou Alckmin para pedir que ele
apressasse o sorteio de um terreno em Guaianazes (zona leste) para construir sua casa própria.
Sem perder a postura, Alckmin
apertou gentilmente a mão da
mulher e disse o seu tradicional
"boa tarde". "Pedir, eu pedi, mas
ele não respondeu nada. Só balançou a cabeça", afirmou Jorgina
em tom de decepção.
A tão falada vaidade dos políticos tucanos também se manifesta
em Alckmin. Ele sai de casa para
fazer campanha por volta de 8h e
volta tarde da noite do mesmo jeito que saiu: todo arrumadinho.
Os cabelos, apesar de escassos,
estão sempre com os fios perfeitamente alinhados lateralmente.
Nem mesmo as carreatas pela periferia em carro aberto desarrumavam o penteado do tucano,
que ficou conhecido pelo slogan
de "o candidato que tem a cabeça
no lugar".
No aspecto elegância, Alckmin é
o oposto do seu padrinho político, o governador de São Paulo,
Mário Covas.
No último dia 10, em uma manhã quente de domingo, Covas e
Alckmin foram juntos visitar a
Vila Cisper (zona leste) pela manhã. Após meia hora de caminhada, sempre cumprimentando os
eleitores que encontrava pela
frente com um abraço ou tapinha
nas costas, o governador já estava
todo desgrenhado, suado, com a
camisa amassada e o suspensório
fora do lugar. Ao seu lado, Alckmin, que só cumprimenta com o
formal aperto de mão, permanecia impecável.
Covas, aliás, pouco apareceu na
campanha do "afilhado". O mesmo aconteceu com outro tucano
que tem base eleitoral em São
Paulo, o presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Alckmin adotou duas posturas
com relação a Covas e FHC. Nos
encontros com formadores de
opinião (representantes de entidades de classes, empresariais, religiosas etc.), o tucano fazia questão de dizer que era do mesmo
partido do governador de São
Paulo e do presidente da República, fato que o colocaria em condições privilegiadas para buscar
verbas para a capital.
Em compensação, na TV e no
rádio, meios por intermédio dos
quais Alckmin atingiu a maioria
dos seus potenciais eleitores, o tucano ignorou, durante quase toda
a campanha, a informação sobre
o "parentesco político" com Covas e Fernando Henrique.
O governador só apareceu no
último programa eleitoral gratuito da campanha. FHC, nem isso.
Os adversários de Alckmin o criticaram por estar supostamente escondendo dos eleitores a sua "origem". "Eu passei a campanha inteira dizendo que sou vice-governador do Estado. Nunca tentei esconder esse vínculo", afirmou.
Cochilos no carro
Para a campanha, Alckmin trocou as antigas lentes dos óculos
por outras novas anti-reflexo. A
rotina mudou muito por causa da
agenda sempre cheia de compromissos. Antes de virar candidato a
prefeito, ele dormia oito horas por
noite e passou a dormir seis horas.
"Quando dá, eu cochilo no carro
entre um compromisso e outro",
disse.
Nos últimos 45 dias, emagreceu
um quilo e está pesando agora 66
quilos, distribuídos em 1,75 metro
de altura."Em campanha, quem é
gordo costuma engordar, e quem
é magro costuma emagrecer."
Nas caminhadas pelos bairros
de São Paulo, Alckmin sempre
concede entrevista à imprensa
nas padarias. "Eu gosto de padarias e aproveito essas paradas para me alimentar", afirmou. "Sou
médico e sei que, quando não dá
para almoçar, podemos quase
substituir a refeição por um iogurte natural batido com mel ou
coalhada e pão com queijo branco".
O gesto mais eleitoreiro que
Alckmin fez foi dizer "feliz é a cidade cujo Deus é o Senhor", após
ser apresentado pelo pastor G.(
Geraldo Tenuta Filho), da Igreja
Renascer, a uma platéia de 3.000
jovens devotos durante um show
de rock religioso.
Católico praticante, Alckmin é
um candidato que fala com frequência "se Deus quiser" e "graças a Deus". "Eu não fui seminarista, mas o meu pai foi", disse. "Já
precisei pedir um paletó emprestado para entrar numa igreja durante a campanha", disse.
Durante uma caminhada pelo
comércio da Lapa (zona oeste), na
companhia de Alckmin, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, José Aníbal, disse que o estilo do candidato tucano de fazer
campanha é resultado de uma
educação muito severa que ele recebeu na infância do pai. "O Geraldo é muito disciplinado", afirmou Aníbal.
Gugu Liberato
O próprio Alckmin disse que fala baixo porque, para ele, "quem
tem bons argumentos não precisa
elevar o seu tom de voz".
Na reta final da campanha,
Alckmin passou a participar de
showmícios. O apresentador de
TV Gugu Liberato foi o carro-chefe desses eventos. Mesmo no palco, Alckmin mantinha a discrição. "Não gosto de fazer discursos. Prefiro contar histórias porque discursos as pessoas esquecem, histórias não."
Na Vila Carrão (zona leste),
Alckmin deixou de lado a formalidade diante de um saco de pipoca do engraxate David de Souza,
de 14 anos. "E essa pipoca aí?",
perguntou o candidato ao ficar
frente a frente com o garoto dentro de uma padaria. David nem
teve tempo de responder ou mesmo de oferecer a pipoca. Diante
do ar simpático do menino, sem
fazer cerimônia, Alckmin enfiou a
mão no saco e se serviu.O jovem
disse que foi até lá somente para
ver de perto o candidato. "Ele é legal e a minha mãe vai votar nele",
disse David, que cursa a terceira
série do 1º grau e mora em Itaquera (zona leste).
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