São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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PSDB
Candidato limita-se a apertos de mão e declara preferir contar histórias
Alckmin não gosta de discurso nem pede voto

SANDRA BRASIL
LUCAS FIGUEIREDO

DA REPORTAGEM LOCAL


O tucano Geraldo Alckmin, 47, é um candidato que quase parece ter vergonha de ser candidato. Mesmo com sete campanhas na bagagem, ele é formal ao "pedir" voto às pessoas que encontra pelas ruas de São Paulo.
Alckmin resume o seu contato com o eleitor a um respeitoso aperto de mão e um discreto "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite". E é só. Na contabilidade dele, são pelo menos mil apertos de mão por dia.
Alckmin relaxa um pouco quando encontra crianças, as únicas que eventualmente ganham beijos do tucano tímido. "Não é timidez não", disse. "Eu acho que, ao cumprimentar as pessoas, está implícito, na medida que você se apresenta para a pessoa, que você está em campanha eleitoral e está precisando de votos."
Para ele, não é necessário fazer "um pedido protocolar de voto". "Até porque muitas vezes as pessoas já se antecipam e informam que vão dar o seu voto para mim", disse.
Seu estilo inibido de cumprimentar as pessoas nas ruas pegou muita gente de surpresa nesta campanha. "Achei estranho. Ele chegou aqui, apertou a minha mão, disse "boa tarde" e foi embora. Normalmente, candidato faz divulgação dele mesmo e pede voto", afirmou a vendedora Cristiane Venâncio, de uma farmácia do centro de Itaquera (zona leste).
É isso mesmo. Alckmin não distribui abraços calorosos, não distribui santinhos, não fala alto e o que é mais raro: não promete resolver problemas imediatos dos paulistanos com os quais chegou a cruzar.
"Isso eu não faço. A pessoa precisa confiar que você, amanhã eleito prefeito, vai se esforçar para resolver as questões. Não adianta você ficar falando "vou fazer tal coisa". Acho que até perde a credibilidade. Não vou estar prometendo coisa absurda", afirmou.

Vaidade

Na última quarta, em Itaquera, a manicure Jorgina Ferreira abordou Alckmin para pedir que ele apressasse o sorteio de um terreno em Guaianazes (zona leste) para construir sua casa própria.
Sem perder a postura, Alckmin apertou gentilmente a mão da mulher e disse o seu tradicional "boa tarde". "Pedir, eu pedi, mas ele não respondeu nada. Só balançou a cabeça", afirmou Jorgina em tom de decepção.
A tão falada vaidade dos políticos tucanos também se manifesta em Alckmin. Ele sai de casa para fazer campanha por volta de 8h e volta tarde da noite do mesmo jeito que saiu: todo arrumadinho.
Os cabelos, apesar de escassos, estão sempre com os fios perfeitamente alinhados lateralmente. Nem mesmo as carreatas pela periferia em carro aberto desarrumavam o penteado do tucano, que ficou conhecido pelo slogan de "o candidato que tem a cabeça no lugar".
No aspecto elegância, Alckmin é o oposto do seu padrinho político, o governador de São Paulo, Mário Covas.
No último dia 10, em uma manhã quente de domingo, Covas e Alckmin foram juntos visitar a Vila Cisper (zona leste) pela manhã. Após meia hora de caminhada, sempre cumprimentando os eleitores que encontrava pela frente com um abraço ou tapinha nas costas, o governador já estava todo desgrenhado, suado, com a camisa amassada e o suspensório fora do lugar. Ao seu lado, Alckmin, que só cumprimenta com o formal aperto de mão, permanecia impecável.
Covas, aliás, pouco apareceu na campanha do "afilhado". O mesmo aconteceu com outro tucano que tem base eleitoral em São Paulo, o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Alckmin adotou duas posturas com relação a Covas e FHC. Nos encontros com formadores de opinião (representantes de entidades de classes, empresariais, religiosas etc.), o tucano fazia questão de dizer que era do mesmo partido do governador de São Paulo e do presidente da República, fato que o colocaria em condições privilegiadas para buscar verbas para a capital.
Em compensação, na TV e no rádio, meios por intermédio dos quais Alckmin atingiu a maioria dos seus potenciais eleitores, o tucano ignorou, durante quase toda a campanha, a informação sobre o "parentesco político" com Covas e Fernando Henrique.
O governador só apareceu no último programa eleitoral gratuito da campanha. FHC, nem isso. Os adversários de Alckmin o criticaram por estar supostamente escondendo dos eleitores a sua "origem". "Eu passei a campanha inteira dizendo que sou vice-governador do Estado. Nunca tentei esconder esse vínculo", afirmou.

Cochilos no carro

Para a campanha, Alckmin trocou as antigas lentes dos óculos por outras novas anti-reflexo. A rotina mudou muito por causa da agenda sempre cheia de compromissos. Antes de virar candidato a prefeito, ele dormia oito horas por noite e passou a dormir seis horas. "Quando dá, eu cochilo no carro entre um compromisso e outro", disse.
Nos últimos 45 dias, emagreceu um quilo e está pesando agora 66 quilos, distribuídos em 1,75 metro de altura."Em campanha, quem é gordo costuma engordar, e quem é magro costuma emagrecer."
Nas caminhadas pelos bairros de São Paulo, Alckmin sempre concede entrevista à imprensa nas padarias. "Eu gosto de padarias e aproveito essas paradas para me alimentar", afirmou. "Sou médico e sei que, quando não dá para almoçar, podemos quase substituir a refeição por um iogurte natural batido com mel ou coalhada e pão com queijo branco".
O gesto mais eleitoreiro que Alckmin fez foi dizer "feliz é a cidade cujo Deus é o Senhor", após ser apresentado pelo pastor G.( Geraldo Tenuta Filho), da Igreja Renascer, a uma platéia de 3.000 jovens devotos durante um show de rock religioso.
Católico praticante, Alckmin é um candidato que fala com frequência "se Deus quiser" e "graças a Deus". "Eu não fui seminarista, mas o meu pai foi", disse. "Já precisei pedir um paletó emprestado para entrar numa igreja durante a campanha", disse.
Durante uma caminhada pelo comércio da Lapa (zona oeste), na companhia de Alckmin, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, José Aníbal, disse que o estilo do candidato tucano de fazer campanha é resultado de uma educação muito severa que ele recebeu na infância do pai. "O Geraldo é muito disciplinado", afirmou Aníbal.

Gugu Liberato
O próprio Alckmin disse que fala baixo porque, para ele, "quem tem bons argumentos não precisa elevar o seu tom de voz".
Na reta final da campanha, Alckmin passou a participar de showmícios. O apresentador de TV Gugu Liberato foi o carro-chefe desses eventos. Mesmo no palco, Alckmin mantinha a discrição. "Não gosto de fazer discursos. Prefiro contar histórias porque discursos as pessoas esquecem, histórias não."
Na Vila Carrão (zona leste), Alckmin deixou de lado a formalidade diante de um saco de pipoca do engraxate David de Souza, de 14 anos. "E essa pipoca aí?", perguntou o candidato ao ficar frente a frente com o garoto dentro de uma padaria. David nem teve tempo de responder ou mesmo de oferecer a pipoca. Diante do ar simpático do menino, sem fazer cerimônia, Alckmin enfiou a mão no saco e se serviu.O jovem disse que foi até lá somente para ver de perto o candidato. "Ele é legal e a minha mãe vai votar nele", disse David, que cursa a terceira série do 1º grau e mora em Itaquera (zona leste).


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