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PT
Candidata diz que defesa do aborto
e união gay não são temas da disputa
Marta evita tocar em propostas que lhe deram fama
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A campanha de Marta Suplicy,
55, teve pouca semelhança com o
estilo direto, impaciente e quase
resmungão da candidata.
Marta passou o período eleitoral "pisando em ovos", seguindo
uma estratégia de risco mínimo
delineada pelo comando de sua
campanha. Calculou cada passo
cuidadosamente e evitou ao máximo envolver-se em polêmicas.
Absteve-se de mencionar temas
que a fizeram famosa, como a defesa do direito ao aborto e da parceria civil homossexual. "Se me
perguntam eu falo, mas não vou
ficar tratando desses assuntos,
porque não são próprios de uma
campanha municipal", diz.
O objetivo de Marta foi claro:
não ameaçar a constante liderança, de cerca de 20 pontos percentuais, que manteve sobre seus adversários durante meses.
Instada a responder a ataques
de um adversário, Marta saía-se
frequentemente com um "nada a
declarar". Ao falar, pronunciava
as frases lenta e claramente, no nítido esforço de quem ensaia mentalmente cada palavra à medida
que abre a boca.
"Estar em primeiro lugar é ao
mesmo tempo fácil, porque você
tem um ânimo maior, e difícil,
porque tem uma pressão para não
cair nas pesquisas", diz.
Irritação
Algumas vezes, o autocontrole
de Marta falhou. Irritou-se com
frequência com longos discursos
ou perguntas mal formuladas.
"Isso aí eu acabei de responder", disse, ríspida, certa vez, interrompendo um comerciante de
70 anos do Bom Retiro que perguntava sobre isenções fiscais,
provocando silêncio na sala.
Se está nervosa com alguém, ela
costuma dizer que fulano "pisou
no tomateiro" (mais grave que
"pisar no tomate"). "Às vezes, eu
perco a paciência com alguma
coisa, mas daí a dois minutos não
estou mais, nem lembro o que era.
É que eu não engulo", afirma.
Fazer discursos não é o forte da
candidata. Ela patina tanto na forma como no conteúdo. Não consegue fugir do tom professoral,
sem empolgação. Fiel à norma de
fazer uma campanha previsível,
Marta abusa de algumas expressões-chave em suas falas.
Começa dizendo que quer ter
"dois olhares para a cidade, um
para a exclusão, outro para o desenvolvimento econômico".
Em seguida, afirma que o PT
não tem "urticária a privatização", promete passar "creolina na
cidade" e termina com a situação
das finanças do município.
Às vezes, o resultado é um tanto
bizarro. Na Vila Brasilândia, gastou dez minutos falando sobre taxa Selic, amortização e reescalonamento orçamentário para um
atônito grupo de padres.
Para falar sobre a preocupação
social do PT, ela recorre a um
"causo", que conta com a voz embargada. Diz que em 94 visitou
uma cidade-satélite de Brasília e
encontrou um bar que só vendia
cigarro e pinga; quatro anos depois, foi ao mesmo bar. Tinha se
transformado em um armazém,
resultado do programa de renda
mínima do governo petista, que
teria fortalecido a economia local.
Especialidade
Se o palanque é um tormento, o
corpo-a-corpo de rua é o momento em que Marta parece se sentir à
vontade.
O mau humor ocasional desaparece depois de uma caminhada,
até porque ela, em geral, foi bem
recebida e pouco hostilizada
-apesar de quase ter sido atingida por um ovo em Guaianazes, na
zona leste da capital.
Nas caminhadas, Marta está
sempre bem-vestida e perfumada, mas evita maquiagem pesada.
O figurino rendeu o apelido de
"madame", que ela detesta: "Madame é quem se sente".
Nas ruas, a candidata é frequentemente elogiada, principalmente
por mulheres mais velhas. "A senhora é mais bonita que na televisão", dizem. Marta caminha depressa, como quem quer cumprimentar o máximo de eleitores no
menor tempo. "Vai bem? Vai
bem? Vai bem?", dispara.
Mas ela gosta de eventualmente
parar, ouvir opiniões, sugestões e
dramas pessoais. Na Vila Formosa, chorou ao ouvir de um velhinho que sua mulher morrera na
véspera. No centro, pediu a sua
assessoria que pagasse lanche a
um senhor que chorava de fome.
Dilema na refeição
Comer ou não comer durante
atividades de rua é um dilema
constante. Ela faz o possível para
passar longe de barracas de churros, cachorro-quente e pastel.
Nem sempre consegue -chegou a engordar três quilos na
campanha, mas afirma que já voltou ao peso normal. Seu grande
vício é o café. A parada em uma
padaria para um cafezinho é obrigatória. "Tomo litros, se puder."
A candidata sabe que é um nome que "amplia". Orgulha-se de
atrair o tradicional eleitorado esquerdista e outros segmentos. "As
viúvas do malufismo e dos tucanos", em sua definição.
Convencida de que o PT precisa
se aproximar do empresariado
para ser uma opção de poder,
Marta atulhou sua agenda de
eventos com esse segmento.
Foram almoços, cafés da manhã
e reuniões, em que ela procurava
mostrar que é anacrônico associar o PT unicamente a greves,
corporativismo e disputas internas. Cada declaração de apoio era
tida como um troféu.
Boa caixeira-viajante, Marta
não mediu palavras para obter
doações. Em evento na Fiesp, ruborizou seu coordenador financeiro de campanha ao pedir que
se levantasse e se mostrasse para
uma platéia cheia de empresários.
"É a ele que os senhores devem
encaminhar as doações", disse.
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