São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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RIO DE JANEIRO
Governador faz um acordo informal com o prefeito Luiz Paulo Conde e com o presidente da Assembléia, Sérgio Cabral Filho, para sustentar sua candidatura à Presidência
Garotinho fecha aliança com PFL e PMDB

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

A eleição no Rio de Janeiro serviu de palco para a formação de uma aliança informal entre o governador Anthony Garotinho (PDT), o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) e o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sérgio Cabral Filho (PMDB).
A tríplice aliança tem como horizonte 2002 e garante a Garotinho um ambiente favorável no Estado para suas pretensões a concorrer à Presidência da República, embora o governador venha declarando que desistiu da idéia para tentar a reeleição.
O deputado Sérgio Cabral Filho costuma dizer que seu futuro político está ligado ao futuro de Garotinho. O bom relacionamento entre os dois ficou claro em junho, quando o deputado comunicou antes ao governador que ia desistir de concorrer à prefeitura, renunciando em favor de Conde.
Na época, Cabral tinha 19% das intenções de voto, enquanto Conde tinha 13%, segundo o Datafolha. Ele vinha ainda com o cacife de 378.242 votos na eleição de 1998, que o fizeram o deputado mais votado no Estado.
O apoio à reeleição de Conde causou surpresa entre os adversários do prefeito e foi o primeiro fator a alavancar sua candidatura.
Em 1996, quando ainda estava no PSDB, Cabral disputou a prefeitura e perdeu para Conde, lançado na carreira política pelo então prefeito Cesar Maia, que na época pertencia ao PFL. O deputado teve 37,8% dos votos válidos. Conde ficou com 62,2%.
Em troca da atual desistência, Cabral Filho recebeu de Conde o apoio público para uma candidatura ao Senado, em 2002, o mesmo momento em que Garotinho pode estar disputando a Presidência da República.

Neutralizando adversários
O crescimento de Conde, que chega na votação de hoje em primeiro lugar nas intenções de voto, agradou a Garotinho, que tinha como prioridade neutralizar Cesar Maia. O ex-prefeito trocou o PFL pelo PTB, quando os pefelistas preferiram apoiar a tentativa de reeleição do prefeito Conde.
O governador nunca escondeu que ter Maia novamente como prefeito do Rio seria criar perto de si um foco de conflitos indesejado, além de dar espaço para alguém que poderia competir com sua liderança no Estado.
A mesma objeção aconteceu em relação a Leonel Brizola, presidente do PDT. A direção do partido move um processo de expulsão contra o governador por este não ter participado da campanha pedetista na cidade do Rio.
Se a expulsão se confirmar, Garotinho já recebeu sinal verde de Conde para ir para o PFL e também teve acenos do PMDB de Cabral Filho, mas ele prefere ficar em uma legenda identificada com a esquerda, indicando que seu destino pode ser o PSB.
A parceria de Garotinho com Cabral é o que garante que todas as iniciativas do governador sejam aprovadas na Assembléia Legislativa. Entre os 70 deputados estaduais, a oposição ao governador fica limitada a oito deputados do PT, dois do PDT e um do PSB.
O controle da Assembléia Legislativa foi um dos fatores que ajudaram o governador a superar, no primeiro semestre deste ano, a crise instalada a partir da avalanche de denúncias contra integrantes do primeiro escalão da sua administração.
Cabral, que comanda os 16 deputados peemedebistas e costura as alianças necessárias com os outros partidos, ultimamente afirma que resolveu se dedicar à carreira de político do Poder Legislativo.
Conde faz campanha dizendo que sua única pretensão é continuar como prefeito da capital, mas mostra o desejo de fazer seu sucessor ao ter escolhido como companheiro de chapa o arquiteto Sérgio Magalhães, seu secretário de Habitação.

Impasse com o PT
Dividido em lutas internas, o PT não consegue uma unidade que o credencie a se colocar como força política frente à tríplice aliança de Garotinho, Conde e Cabral.
O governador manobra potencializando os choques entre as correntes petistas. Seu último lance foi ameaçar não apoiar a candidatura da vice-governadora Benedita da Silva, caso ela chegue ao segundo turno. O apoio à petista teria sido um item do acordo que possibilitou a própria aliança que elegeu Garotinho.
O governador agora diz que o apoio só é possível se os deputados petistas retirarem do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) uma representação na qual o acusam de abuso de poder para eleger prefeitos no interior.
Os deputados dizem que vão manter a ação. Está criado um impasse que talvez permita que o governador apóie abertamente Luiz Paulo Conde na disputa. Mas, mesmo que mantenha o apoio a Benedita da Silva, Garotinho já declarou que não fará críticas ao atual prefeito.


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