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POLÍTICA & PALHAÇADA
Sonhei com o segundo turno e caí da cama!
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Fui dormir mais embolado
que a disputa pelo segundo lugar nas eleições paulistanas. Na
angústia da falta de sono, todas
as possibilidades de alianças passeavam em minha mente. Em sonho, descobri que vários segundos
turnos vão ocorrer.
Sonhei com o segundo turno entre o Luxemburgo e o Enéas. Eles
disputavam quem entendia menos de futebol. A CBF versus o
CDF. E tenho certeza de que o
Enéas ganharia. Ah, como eu iria
rir de um papo do Enéas com o
Romário. Já pensou? Um baixinho que acha que fala difícil conversando com um baixinho que é
difícil e acha que sabe falar.
Sonhei com um segundo turno
entre o Netinho e os manos da
Cohab. Eles correndo atrás do pagodeiro que convidou a polícia
para a festa. Aí ele aparecia, com
aquele sorrisão abobado, e perguntava: "O que é que eu estou fazendo aqui no horário eleitoral?"
E eu respondia: "Ganhando mais
um cachê".
Netinho, enfurecido, devolvia:
"E o Gugu? A Regina Duarte? O
Fagundes? A Irene Ravache?". E
eu: "Sei lá. Acho que você bobeou!
Vai ver que o Geraldo paga melhor".
Sonhei, como se já não tivesse
sonhado antes, com um segundo
turno entre o TSE e o Collor. Brigava para que seus votos não fossem considerados nulos. E, com
cara de criança sem doce, gritava:
"Eu preciso desses votos para usar
na minha campanha para deputado federal!".
Sonhei com um segundo turno
entre a Marta e a Luiza. Vi as
duas fundando o MSG, Movimento das Sem Graça. Encabuladas, elas se abraçavam para combater o mal maior. Seja lá que
Maluf fosse, elas queriam enfrentá-lo juntas.
Sonhei com o Geraldinho, coitado, achando que ninguém queria
um segundo turno com ele. E,
chorando, ele pedia o voto útil.
Chorou mais ainda quando eu
expliquei que votar nele seria, de
fato, um voto inútil.
Sonhei com o Maluf... Não me
recriminem. Não tenho culpa de
ter um inconsciente tão perverso.
Foi um sonho leve. Num campo
de flores eu via o Maluf correndo
de braços abertos. Em câmera
lenta, o Marin vinha na sua direção. Abraçavam-se.
Ao fundo da cena, surgiam o
Marcos Cintra, o Zé de Abreu e o
Ciro Moura. Juntos começavam a
dançar uma ciranda.
Enquanto Marcos Cintra agradecia antecipadamente a Secretaria das Finanças que ganharia,
Maluf perguntava pelo Pitta. E
todos diziam em uníssono: "Vamos juntar a turma outra vez!".
Só que alguém entendeu errado
e, em vez de chamar a turma,
chamou o Tuma. Não tiveram
problema. Sentiam-se felizes.
Em meio à confusão, tomados
de um velho sentimento novo,
Maluf olha Tuma nos olhos. Vi,
naquele sonho, que eles se amavam e que estariam juntos daqui
para sempre.
O sonho virou pesadelo. Maluf
começou a repetir que faria a melhor administração de sua vida.
Repetiu várias vezes. Acordei no
susto. E uma coisa ficou martelando minha cabeça: não é difícil
ele fazer melhor. Pior do que ele já
fez é que é impossível.
Caí da cama. Ao perceber que o
sonho tinha passado, vi como me
deixei desviar da realidade. Era
como se tivessem me hipnotizado.
Sem que eu percebesse, meus
olhos tinham sido desviados. Até
que caiu a ficha. E eu compreendi. Chispei da cama. Saí correndo
para votar, me perguntando:
quem serão os novos donos das
regionais?
Hugo Possolo é palhaço, dramaturgo e
diretor do grupo Parlapatões, Patifes &
Paspalhões.
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