São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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POLÍTICA & PALHAÇADA
Sonhei com o segundo turno e caí da cama!

HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fui dormir mais embolado que a disputa pelo segundo lugar nas eleições paulistanas. Na angústia da falta de sono, todas as possibilidades de alianças passeavam em minha mente. Em sonho, descobri que vários segundos turnos vão ocorrer.
Sonhei com o segundo turno entre o Luxemburgo e o Enéas. Eles disputavam quem entendia menos de futebol. A CBF versus o CDF. E tenho certeza de que o Enéas ganharia. Ah, como eu iria rir de um papo do Enéas com o Romário. Já pensou? Um baixinho que acha que fala difícil conversando com um baixinho que é difícil e acha que sabe falar.
Sonhei com um segundo turno entre o Netinho e os manos da Cohab. Eles correndo atrás do pagodeiro que convidou a polícia para a festa. Aí ele aparecia, com aquele sorrisão abobado, e perguntava: "O que é que eu estou fazendo aqui no horário eleitoral?" E eu respondia: "Ganhando mais um cachê".
Netinho, enfurecido, devolvia: "E o Gugu? A Regina Duarte? O Fagundes? A Irene Ravache?". E eu: "Sei lá. Acho que você bobeou! Vai ver que o Geraldo paga melhor".
Sonhei, como se já não tivesse sonhado antes, com um segundo turno entre o TSE e o Collor. Brigava para que seus votos não fossem considerados nulos. E, com cara de criança sem doce, gritava: "Eu preciso desses votos para usar na minha campanha para deputado federal!".
Sonhei com um segundo turno entre a Marta e a Luiza. Vi as duas fundando o MSG, Movimento das Sem Graça. Encabuladas, elas se abraçavam para combater o mal maior. Seja lá que Maluf fosse, elas queriam enfrentá-lo juntas.
Sonhei com o Geraldinho, coitado, achando que ninguém queria um segundo turno com ele. E, chorando, ele pedia o voto útil. Chorou mais ainda quando eu expliquei que votar nele seria, de fato, um voto inútil.
Sonhei com o Maluf... Não me recriminem. Não tenho culpa de ter um inconsciente tão perverso. Foi um sonho leve. Num campo de flores eu via o Maluf correndo de braços abertos. Em câmera lenta, o Marin vinha na sua direção. Abraçavam-se.
Ao fundo da cena, surgiam o Marcos Cintra, o Zé de Abreu e o Ciro Moura. Juntos começavam a dançar uma ciranda.
Enquanto Marcos Cintra agradecia antecipadamente a Secretaria das Finanças que ganharia, Maluf perguntava pelo Pitta. E todos diziam em uníssono: "Vamos juntar a turma outra vez!".
Só que alguém entendeu errado e, em vez de chamar a turma, chamou o Tuma. Não tiveram problema. Sentiam-se felizes.
Em meio à confusão, tomados de um velho sentimento novo, Maluf olha Tuma nos olhos. Vi, naquele sonho, que eles se amavam e que estariam juntos daqui para sempre.
O sonho virou pesadelo. Maluf começou a repetir que faria a melhor administração de sua vida. Repetiu várias vezes. Acordei no susto. E uma coisa ficou martelando minha cabeça: não é difícil ele fazer melhor. Pior do que ele já fez é que é impossível.
Caí da cama. Ao perceber que o sonho tinha passado, vi como me deixei desviar da realidade. Era como se tivessem me hipnotizado. Sem que eu percebesse, meus olhos tinham sido desviados. Até que caiu a ficha. E eu compreendi. Chispei da cama. Saí correndo para votar, me perguntando: quem serão os novos donos das regionais?


Hugo Possolo é palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões.


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