São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECONCILIAÇÃO

Pessoas estendem faixas de protestos no Palácio da Liberdade

Em Minas, FHC e Itamar selam paz e trocam elogios

João Wainer/Folha Imagem
FHC é recebido por Itamar Franco no Palácio da Liberdade, onde houve protesto de manifestantes


PAULO PEIXOTO
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), pretendem encerrar seus mandatos com a imagem de dois amigos e políticos que souberam dar a volta por cima para apagar arestas passadas.
Foi com esse intuito que ocorreu o encontro entre eles na manhã de ontem, em Belo Horizonte, quando FHC e Itamar selaram de vez a paz, agindo como se não tivessem vivido às turras em pouco mais de três anos, apesar de um protesto em frente à sede do Executivo mineiro tentar manter tudo isso bem vivo.
Foram rasgados elogios de um ao outro e declarações enaltecendo o "espírito democrático" do encontro, conforme ressaltou o presidente, realizado no "símbolo da grandeza do espírito de Minas Gerais", segundo o governador, que é o Palácio da Liberdade.
O mesmo palácio onde Itamar ordenou como ato simbólico, no segundo mandato de FHC, que fosse cercado e protegido pela PM mineira de uma ação militar que ele imaginou que o presidente implementaria para desestabilizá-lo.
Essa reconciliação vai gerar cerca de R$ 1 bilhão ao Estado, que está em crise financeira, já que FHC assinou decreto autorizando que seja feito um encontro de contas entre o Estado e a União.
FHC definiu isso: "É a busca de um mecanismo que permite que a sua gestão [Itamar] seja coroada, como deve ser".
Mas o presidente disse que sua ida a Minas não era por este motivo. "Minas é a terra do encontro democrático", disse, completando mais tarde: "De minha parte, vocês nunca viram nenhum gesto que não fosse de tentativa de entender a situação, relevar aquilo que eventualmente tivesse que relevar. Não sou pessoa de estar com coisas pequenas".
No seu discurso, Itamar lembrou de FHC como seu ministro da Fazenda que se "empenhou" para acabar com a inflação e apagou a idéia, como afirmara nos últimos anos, de que a gestão FHC é a responsável pelas mazelas da economia brasileira.
Culpou o mercado pela instabilidade e turbulência. Falou da "ação inescrupulosa de especuladores". Disse Itamar: "Minas não faltará ao Brasil neste momento, como nunca faltou no passado. Acima das divergências partidárias, trabalharemos para construir a unidade nacional".
Em entrevista, o presidente disse que a ajuda financeira a Minas não é uma questão política e nem sequer eleitoral. Disse ser uma questão de justiça: "Nesta reta final de governo, tudo que for justo o governo federal fará".
Explicou que tratam-se de demandas antigas, que vinham sendo feitas ainda na gestão do antecessor de Itamar e aliado de FHC, Eduardo Azeredo (PSDB), rival do atual governador. E disse que faz isso também com outros Estados, citando AM, RJ, GO e ES.
Em frente ao Palácio da Liberdade, onde a guarda de honra e banda de música da PM esperavam o presidente, cerca de 40 pessoas estendiam faixas de protesto: "Itamar, FHC e Aecinho: tudo por dinheiro"; "Aécio, Itamar e FHC: Minas não é um balcão de negócio"; "PSDB nunca mais" e "Itamar, o Judas mineiro" eram algumas das 16 faixas.
Os manifestantes disseram pertencer a um "movimento popular", mas não o identificaram. Coincidência ou não, o vice-governador de Minas, Newton Cardoso, candidato ao governo, tem feito duras críticas a Itamar acerca da sua reconciliação com FHC e também ao PSDB. Sua assessoria negou participação no protesto.



Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Decreto concede ajuda financeira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.