|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Rio-Brasília
Ninguém sabe, e talvez jamais
se saiba, a origem verdadeira
da onda de medo que na manhã
de ontem espalhou-se por vários
bairros do Rio e daí se projetou
para os vizinhos Niterói e São
Gonçalo. Há, porém, três certezas
à mão.
Em uma cidade tensa como o
Rio, não é necessária mais do que
a patifaria de uma pessoa para
dar alguns telefonemas em nome
de bandidos, ordenando o fechamento de lojas e escolas, ou fazendo ameaças, e criar o pânico. Daí
por diante, tudo dependerá do
aproveitamento que marginais
ou simples desordeiros façam das
circunstâncias, e, sobretudo, dependerá do acaso.
Não houve fato algum que provocasse a costumeira reação da
bandidagem, exigindo o fechamento do comércio, como luto
forçado por um bandido ou em
protesto por invasão policial. Não
houve indício algum de que bandidos fossem os autores das ordens iniciais contra o comércio,
nem de que tais ordens fossem
procedentes de Beira-Mar e comparsas presos em isolamento na
PM. A candidata Denise Frossard
teria feito prisões em flagrante,
mas isso já é outra história.
Outra certeza imediata é a semelhança entre o acontecimento
de ontem e o arrastão que precedeu a disputa em 92, pela prefeitura carioca, entre Cesar Maia e
Benedita da Silva. A repercussão
negativa recaiu toda sobre Benedita e assim influiu em sua derrota. (Cesar Maia é prefeito pela segunda vez e patrono da candidata Solange Amaral, última colocada na disputa pelo governo fluminense, com ela fazendo uma
campanha de violência incomum, explorando justamente o
tema da violência nos governos
de Benedita, também candidata
no Rio, e de Garotinho.)
A terceira certeza fácil é a exploração eleitoral dos esquisitos
fatos no Rio, prontamente iniciada e com desdobramentos imprevisíveis, mas com interessados
bem definidos, seja na disputa
pelo governo fluminense, ou na
disputa pela Presidência. A Polícia Federal, que não demonstrou
ter informação do que haveria
ontem na cidade, ontem mesmo
já se dizia sabedora de uma rebelião a ocorrer no dia das eleições.
A PF continua ativa na campanha, e fiel à linha inicial.
Caso único
Brasília é o oposto do Rio. Não
quanto a atividades do crime organizado. Mas quanto à identificação das origens do seu atual escândalo.
As revelações de quase 50 gravações telefônicas, feitas sob autorização judicial, justificam plenamente o pedido de impeachment, pretendido por deputados
distritais, de Joaquim Roriz, governador do Distrito Federal. A já
sabida grilagem de áreas em Brasília, com posteriores loteamentos
fraudulentamente regularizados,
está agora conhecida nos seus
mecanismos íntimos, acionados
por uma rede de corrupção que
envolve parlamentares, o governo brasiliense e alcança o Judiciário de Brasília.
As devastadoras revelações do
"Correio Braziliense" foram objeto, porém, de uma decisão judicial liminar que, até as primeiras
horas da noite, ainda sustava sua
continuidade na edição de hoje
do jornal e, em princípio, nas subsequentes. Há, no entanto, um aspecto ainda mais exótico na liminar: só o "Correio Braziliense" foi
atingido pela proibição. TVs, rádios e os outros jornais continuam livres para as revelações
-caso, afinal, decidam-se a fazê-las também.
Mesmo considerando que o pedido de liminar feito por Joaquim
Roriz menciona apenas o "Correio", e o juiz restringe-se ao pedido, a decisão resulta em uma espécie de censura dirigida. Ainda
mais grave por incidir sobre o jornal que informa, às vésperas das
eleições, sobre fatos criminais que
envolvem candidatos e o fortalecimento do esquema de corrupção.
Texto Anterior: Mato Grosso: Dono de jornal de Cuiabá é assassinado Próximo Texto: Questão Agrária: Incra pede a desapropriação de terras do reverendo Moon em MS Índice
|