São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Órgão vistoriou fazendas por dois meses

Incra pede a desapropriação de terras do reverendo Moon em MS

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) anunciou ontem que abriu processo de desapropriação de 16 fazendas da Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial, organização do líder religioso coreano Sun Myung Moon, o reverendo Moon.
A área, situada em municípios do sudoeste de Mato Grosso do Sul, chega a 10.072 hectares. As terras foram divididas em quatro grandes fazendas pelos membros da organização de Moon. Essa área corresponde a cerca de 15% do total de terras que Moon comprou no Estado nos últimos anos. Segundo o Incra, sua organização possui 67.080 hectares em 46 fazendas, todas na região do Pantanal e próximas ao Paraguai.
Em entrevista, o superintendente do Incra no Estado, Celso Cestari, disse que as terras foram vistoriadas nos últimos dois meses por técnicos do Incra. Três fazendas foram consideradas improdutivas e uma não estaria de acordo com a legislação ambiental. Em parte dessas propriedades, o Incra deve entrar com pedidos de anulação dos títulos dos imóveis dentro da área considerada como faixa de fronteira, o que desobrigaria a União de indenizar Moon.
É o caso da Furna Grande/Rancho Alegre, localizada dentro do recém-criado Parque Nacional da Bodoquena, em processo de demarcação pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recurso Naturais Renováveis). A área tem 2.540 hectares, a maioria de floresta preservada.
Na Fronteira, em Bela Vista, o Incra está estudando a viabilidade de um assentamento, mas a região tem solo fraco e pedregoso.
Na única fazenda (das quatro grandes que englobam as 16 áreas) considerada produtiva, o Incra diz que Moon descumpriu a legislação ambiental, que determina que 20% da propriedade seja preservada. Segundo o órgão, apenas 13% estaria protegido.
Segundo Cestari, a associação de Moon deverá ser notificada ainda esta semana e terá um prazo de 15 dias para apresentar a defesa. O coreano também pode recorrer da decisão na Justiça. Cestari anunciou que o Incra irá vistoriar nos próximos meses mais 22 propriedades de Moon.
As atividades do reverendo no Brasil estão sendo investigadas desde dezembro de 2001 pela PF. São quatro as linhas de investigação: lavagem de dinheiro, uso de documentos falsos, estelionato e irregularidades trabalhistas.
Em fevereiro deste ano, a Justiça Federal autorizou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de sua associação. A Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul instaurou no início do ano uma Comissão Parlamentar de Inquérito.


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