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FOLCLORE POLÍTICO
Fidelidade
PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO
Às 5h, seu Juvêncio, que era
vaqueiro da fazenda, chegou
tocando o gado. Juvenal ficou intrigado, porque sempre o pai ia
buscar os animais após o jantar.
Mas, nesse dia, seu Juvêncio deu o
trato mais cedo e fechou-os no
curral.
Em seguida, dirigiu-se ao filho:
"Juvenal, onde está aquela bandeirinha do Brasil que você usou
no desfile de Sete de Setembro?
Deu na "Hora do Brasil", que o Dr.
Getúlio vai de São Paulo para Ribeirão Preto, para fazer um comício. Vou ver ele passar na estrada,
de modo que, amanhã de manhã,
você leva o gado para o pasto".
Depois do jantar, Juvenal trouxe a bandeirinha, seu Juvêncio
montou no cavalo e partiu na direção da estrada. De Santa Rosa
do Viterbo até lá, eram umas oito
léguas, o que significa uma caminhada de noite inteira. Foi o que
ele fez. De madrugada, postou-se
no alto de uma lombadona, pois
calculou que o automóvel do presidente teria de desacelerar e isso
permitiria vê-lo e acenar a bandeirinha.
Lá pelas 6h, o poeirão denunciou a aproximação da caravana.
O primeiro carro era o do Getúlio.
Dito e feito. O carro perdeu velocidade e ele, montado no seu cavalo
e acenando a bandeirinha, viu
claramente o presidente.
Qual não foi sua surpresa, porém, quando, após uns cem metros, o carro parou e começou a
andar de marcha ré. Todos os carros da comitiva deram marcha ré
e o do presidente parou na frente
do barranco em que seu Juvêncio
se postara. Um auxiliar desceu e
convidou-o para apear e ir falar
com o presidente. Seu Juvêncio
não esperava tamanha honraria.
Foi. Getúlio, em pé ao lado do
carro, perguntou-lhe o nome,
quantos filhos tinha, o que fazia,
como estava a lavoura e por que
estava ali. Seu Juvêncio respondeu a verdade: só para vê-lo passar. Getúlio ficou parado uns segundos sem dizer nada. Em seguida apertou-lhe fortemente a mão:
"Muito obrigado, meu patrício".
Deu meia volta, entrou no carro e
mandou tocar. Seu Juvêncio virou o cavalo e trotou o dia inteiro
de volta à casa.
Muitos anos depois, Getúlio já
morto, Juvenal, formado em Direito, levou um candidato seu
amigo para fazer campanha em
sua terra. O candidato não era
getulista. Juvenal avisou: "Fale o
que quiser com meu pai, mas não
diga nada contra o Getúlio, porque perde o voto dele".
PLÍNIO ARRUDA SAMPAIO, 72,
ex-deputado federal pelo PT e membro
da Assembléia Constituinte de 1988,
escreve às terças-feiras nesta seção
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