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CAMPANHA
Questionado sobre o responsável pelo "terrorismo econômico" que teria elevado o dólar, petista diz que, se soubesse, mandava prender
Para Lula, Armínio não dá conta do recado
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Ontem, horas depois de o dólar
raspar na casa dos R$ 4, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que, num eventual
governo seu, vai substituir Armínio Fraga porque o atual presidente do Banco Central "não está
dando conta do recado".
A declaração foi feita para uma
platéia formada por 86 correspondentes de veículos de comunicação estrangeiros, que realizaram entrevista coletiva com Lula
num hotel paulistano.
"É muito desagradável ficar falando de pessoas. Não tenho nada
de pessoal contra o Armínio Fraga. Todas as vezes que o vi na televisão, achei que era um técnico
competente, que tratava os números bem. Mas o dado concreto é
que ele também não está dando
conta do recado", disse Lula, ao
ser questionado se havia chance
de Armínio ser mantido no cargo.
O petista disse que, em caso de
vitória, não irá "indicar ministro
por pressão de mercado, mas em
função das necessidades que o PT
vê para os interesses do Brasil".
De acordo com Lula, o sucessor
de Armínio deve ser "alguém que
conheça as sutilezas do mercado,
mas que também conheça a sutileza da fome, do desemprego. Se
conhecer os dois lados, o coração
do presidente do Banco Central
vai balançar toda vez que ele tiver
de tomar uma decisão".
O presidenciável petista criticou
os especuladores e considerou reducionista a definição que a mídia
faz do mercado.
"Eu sou mercado. Ou não sou?
Ninguém me ouve para nada. O
José Alencar [seu candidato a vice] é mercado. Ou a empresa dele
não faz parte desse mercado? Ele
não é ouvido. Quando falam de
mercado, vocês falam de uma
Bolsa de Valores de São Paulo que
tem apenas 400 empresas movimentando recursos e de alguns
bancos que querem sugar dinheiro de uma única vez", afirmou.
"Vamos falar do mercado financeiro mas também do produtivo, dos consumidores, para poder se ter uma noção maior desse
famoso mercado, que alguns tratam como Deus. O dia em que
plantar tomate for mais rentável
que comprar títulos do governo,
esse mercado de que vocês falam
terá menos poder."
Questionado sobre quem era o
responsável pelo "terrorismo econômico" que teria levado o dólar
ao patamar atual, Lula disse: "Se
eu soubesse, mandava prender".
O petista minimizou a responsabilidade do governo FHC na
desvalorização do real, atribuindo
a crise a "fatores externos" e, ao
atacar os especuladores, elogiou o
presidente. "A insensatez desses
especuladores não tem limite. Vi
um discurso do FHC que eu assinaria embaixo, sobre a falta de
responsabilidade de alguns no
trato de questões tão sérias."
Mas, questionado se um governo seu daria o calote na dívida externa, parou com os afagos. "A
única possibilidade que o Brasil
tem de ter um calote é continuar
esta política econômica. Não seria
nem calote, seria a falência."
Lula citou a carta divulgada em
junho pelo PT na qual o partido
promete honrar dívidas.
O candidato disse que o atual
governo não acalma a turbulência
no mercado por estar na reta final.
"Ninguém aposta muito em
quem está saindo. Prefere governar com os que estão entrando."
Alca e Mercosul
Crítico da posição dos EUA na
Alca, Lula usou o país como
exemplo ao defender uma política
mais agressiva de comércio exterior ("eles são intransigentes na
defesa dos seus interesses") e disse que seu governo estreitaria as
relações com o daquele país.
Ao enfatizar a necessidade de
investimentos no setor produtivo,
atacou a gestão FHC. "Você não
verá um governo chorando na
TV, reclamando dos EUA, da
França, da Inglaterra e se colocando como coitadinho."
Lula defendeu ainda a ampliação do Mercosul. Foi a segunda
entrevista do candidato à imprensa estrangeira na campanha.
O Tribunal Superior Eleitoral
deu ontem à noite ao petista direito de resposta de 1 minuto no horário eleitoral gratuito de José Serra (PSDB) devido à propaganda
tucana que comenta a exigência
de diploma de curso superior para concurso de fiscal de rua realizado pela Prefeitura de São Paulo.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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