São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ADMINISTRAÇÃO/RIO

Agricultores se queixam de falta de assistência e dizem que produção foi superestimada e custos, subestimados

Projeto agrícola de Garotinho tem 90% de inadimplência

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO NORTE FLUMINENSE

O projeto de fruticultura irrigada Frutificar -principal bandeira do governo de Anthony Garotinho para reduzir a pobreza nas regiões norte e noroeste do Estado do Rio- está com inadimplência de 90% entre os contratos com data para pagamento da primeira parcela já vencida.
A governadora Benedita da Silva (PT), sucessora de Garotinho e candidata à reeleição, autorizou a renegociação das dívidas dos agricultores. Segundo o coordenador estadual do projeto, Ronaldo Salek (nomeado em julho, na administração petista), apenas seis dos 60 produtores com data de pagamento vencida honraram o compromisso no prazo.
As equipes responsáveis pelo Frutificar do ex-governador e do atual governo dão informações conflitantes sobre o desempenho do projeto e acusam-se mutuamente. Salek diz ser falsa a informação do site de campanha de Garotinho de que o projeto esteja gerando 18 mil empregos. Diz que não há levantamento sobre o total da mão-de-obra empregada, mas que o número não passa de 2.000.
Pelos dados do Estado, desde o lançamento do projeto, em 2000, até o afastamento de Garotinho, em abril último, foram aprovados 285 financiamentos para plantio de maracujá, 150 para plantio de abacaxi, 11 para cultivo de goiaba e dez para cultivo de coco, que somaram R$ 26,19 milhões. A inadimplência, segundo Salek, soma cerca de R$ 3,5 milhões.

Dívidas
Os agricultores dizem que houve erros na implantação do projeto e falta de assistência técnica adequada. E que o cronograma de pagamento dos empréstimos foi feito com base em previsões de produção superestimadas e custos de produção subestimados.
O engenheiro Fernando Medina Gomes, 62, que aderiu ao projeto em 2000, tomou um empréstimo de R$ 140,9 mil para plantar 15 hectares de maracujá. Ele mostrou à Folha a cópia do contrato em que aparece, como garantia de pagamento, a safra de 730 toneladas projetada (pelos técnicos do governo) para o período de julho de 2001 a junho de 2002.
Gomes diz ter considerado a estimativa exagerada e que, por isso, montou uma estrutura de apoio prevendo a colheita de 450 toneladas. O resultado final, disse ele, foi de apenas 200 toneladas.
O engenheiro diz que os custos superaram em muito as estimativas dos técnicos do governo e que quando começou o plantio, em março do ano passado, os gastos já somavam R$ 199,78 mil. Quando a safra chegou ao final, em julho, as despesas contabilizadas por ele chegavam a R$ 351,6 mil.
Mesmo decepcionado com o resultado financeiro da primeira safra, o engenheiro elogia o projeto e afirma que o Frutificar teve um impacto social positivo na região.
Maria da Penha Rocha, 60, tomou empréstimo de R$ 89 mil para plantar maracujá em 10 hectares. Sua propriedade fica a 30 km de Campos de Goytacazes (cidade a 280 km do Rio). Ela disse que os técnicos do governo estimavam uma produção de 50 toneladas por hectare, mas só obteve 17 toneladas por hectare.
E se queixa de falta de assistência técnica adequada. "Os técnicos vão à minha propriedade, mas sabem pouco sobre a cultura do maracujá. Estamos todos aprendendo na prática, inclusive os técnicos." A primeira parcela do financiamento, de R$ 29 mil, venceu em julho e ela pediu prorrogação do débito.
Em janeiro de 2001, Ronaldo Motta e a mulher, Gisele Restum Hissa, tomaram um empréstimo de R$ 55 mil para plantar maracujá em 5 hectares, em São Francisco do Itabapoana. A primeira parcela de pagamento do empréstimo, no valor de R$ 18 mil, estava prevista para setembro, mas o casal pediu prorrogação.
Motta diz que os problemas começaram com o atraso no recebimento das mudas e se agravaram com um ataque de abelhas que prejudicou a produção local. Enquanto as abelhas atacam na região norte, o problema no noroeste são as maritacas, que também prejudicam os frutos.
Apesar dos prejuízos, Gisele diz não se arrepender de ter entrado no projeto. Para ela, a fruticultura é uma alternativa para tirar a região da dependência da monocultura da cana-de-açúcar.



Texto Anterior: Garotinho e Ciro têm encontro fechado no Rio
Próximo Texto: Outro Lado: Ex-secretário diz que dados são 'mentirosos'
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.