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ADMINISTRAÇÃO/RIO
Agricultores se queixam de falta de assistência e dizem que produção foi superestimada e custos, subestimados
Projeto agrícola de Garotinho tem 90% de inadimplência
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO NORTE FLUMINENSE
O projeto de fruticultura irrigada Frutificar -principal bandeira do governo de Anthony Garotinho para reduzir a pobreza nas
regiões norte e noroeste do Estado do Rio- está com inadimplência de 90% entre os contratos com data para pagamento da primeira parcela já vencida.
A governadora Benedita da Silva (PT), sucessora de Garotinho e
candidata à reeleição, autorizou a
renegociação das dívidas dos
agricultores. Segundo o coordenador estadual do projeto, Ronaldo Salek (nomeado em julho, na
administração petista), apenas
seis dos 60 produtores com data
de pagamento vencida honraram
o compromisso no prazo.
As equipes responsáveis pelo
Frutificar do ex-governador e do
atual governo dão informações
conflitantes sobre o desempenho
do projeto e acusam-se mutuamente. Salek diz ser falsa a informação do site de campanha de Garotinho de que o projeto esteja
gerando 18 mil empregos. Diz que
não há levantamento sobre o total
da mão-de-obra empregada, mas
que o número não passa de 2.000.
Pelos dados do Estado, desde o
lançamento do projeto, em 2000,
até o afastamento de Garotinho,
em abril último, foram aprovados
285 financiamentos para plantio
de maracujá, 150 para plantio de
abacaxi, 11 para cultivo de goiaba
e dez para cultivo de coco, que somaram R$ 26,19 milhões. A inadimplência, segundo Salek, soma
cerca de R$ 3,5 milhões.
Dívidas
Os agricultores dizem que houve erros na implantação do projeto e falta de assistência técnica
adequada. E que o cronograma de
pagamento dos empréstimos foi
feito com base em previsões de
produção superestimadas e custos de produção subestimados.
O engenheiro Fernando Medina Gomes, 62, que aderiu ao projeto em 2000, tomou um empréstimo de R$ 140,9 mil para plantar
15 hectares de maracujá. Ele mostrou à Folha a cópia do contrato
em que aparece, como garantia de
pagamento, a safra de 730 toneladas projetada (pelos técnicos do
governo) para o período de julho
de 2001 a junho de 2002.
Gomes diz ter considerado a estimativa exagerada e que, por isso, montou uma estrutura de
apoio prevendo a colheita de 450
toneladas. O resultado final, disse
ele, foi de apenas 200 toneladas.
O engenheiro diz que os custos
superaram em muito as estimativas dos técnicos do governo e que
quando começou o plantio, em
março do ano passado, os gastos
já somavam R$ 199,78 mil. Quando a safra chegou ao final, em julho, as despesas contabilizadas
por ele chegavam a R$ 351,6 mil.
Mesmo decepcionado com o resultado financeiro da primeira safra, o engenheiro elogia o projeto
e afirma que o Frutificar teve um
impacto social positivo na região.
Maria da Penha Rocha, 60, tomou empréstimo de R$ 89 mil para plantar maracujá em 10 hectares. Sua propriedade fica a 30 km
de Campos de Goytacazes (cidade
a 280 km do Rio). Ela disse que os
técnicos do governo estimavam
uma produção de 50 toneladas
por hectare, mas só obteve 17 toneladas por hectare.
E se queixa de falta de assistência técnica adequada. "Os técnicos vão à minha propriedade,
mas sabem pouco sobre a cultura
do maracujá. Estamos todos
aprendendo na prática, inclusive
os técnicos." A primeira parcela
do financiamento, de R$ 29 mil,
venceu em julho e ela pediu prorrogação do débito.
Em janeiro de 2001, Ronaldo
Motta e a mulher, Gisele Restum
Hissa, tomaram um empréstimo
de R$ 55 mil para plantar maracujá em 5 hectares, em São Francisco do Itabapoana. A primeira parcela de pagamento do empréstimo, no valor de R$ 18 mil, estava
prevista para setembro, mas o casal pediu prorrogação.
Motta diz que os problemas começaram com o atraso no recebimento das mudas e se agravaram
com um ataque de abelhas que
prejudicou a produção local. Enquanto as abelhas atacam na região norte, o problema no noroeste são as maritacas, que também prejudicam os frutos.
Apesar dos prejuízos, Gisele diz
não se arrepender de ter entrado
no projeto. Para ela, a fruticultura
é uma alternativa para tirar a região da dependência da monocultura da cana-de-açúcar.
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