São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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CAMPO MINADO

MST arrenda área e diz que Incra é avalista

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) arrendou por R$ 8.000 uma área de 35 hectares para onde devem ir 300 famílias que, desde maio de 2003, mantêm invadida a fazenda Aruanã em Bonito (249 km de Campo Grande). A área arrendada está a 3 km da área invadida.
A juíza Luciane Burisco de Oliveira Mello mandou que a desocupação da fazenda ocorresse na segunda-feira passada, mas o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, mandou a PM suspender operações de reintegração de posse até 24 horas após as eleições. Mello pode determinar a ação da PF (Polícia Federal) e pedir intervenção federal no Estado.
A coordenação do MST informou que as famílias esperam receber lona para montar barracos e transporte do governo do Estado antes de se transferirem para a área arrendada. Jair Terra, diretor da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrária, disse que a despesa do governo será de R$ 4 com cada família, ou seja, de R$ 1.200, considerando o número de acampados.
Segundo o MST, o arrendamento é por 60 dias. Esse foi o prazo dado pelo MST ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para desapropriação da fazenda Aruanã, que pertence à Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial, entidade religiosa do reverendo coreano Sun Moon, 84.
Segundo o coordenador do acampamento do MST, Gilberto Cipriano de Almeida, 34, o Incra foi o avalista do arrendamento feito com um dono de chácara, cujo nome ele não soube informar. O coordenador estadual do MST, Márcio Bissoli, também diz que o Incra foi avalista.
Por meio de sua assessoria, a Superintendência do Incra em Mato Grosso do Sul informou que o órgão apenas "deu garantia" ao dono da chácara de que, passados os 60 dias, os sem-terra deixarão a área arrendada.
Almeida disse que a coordenação do MST poderá pagar o arrendamento de R$ 8.000, caso contrário a despesa será dividida entre as famílias. "Dá R$ 26 para cada uma", afirmou. Segundo ele, por mês, cada família paga "voluntariamente e se puder" R$ 1,50 para o movimento.
A fazenda Aruanã, segundo o MST, não tem área de preservação permanente, como manda a lei ambiental, e, por isso, poderia ser desapropriada pelo Incra. O advogado da associação do reverendo Moon, Davi Moura Olindo, nega. Ele afirma que a propriedade é produtiva.
No Sul do país, o MST estuda a possibilidade de firmar um convênio com a empresa Votorantim, do empresário Antônio Ermírio de Moraes. Pela proposta, sem-terra assentados plantarão eucaliptos em fazendas do grupo. O movimento ficou de dar uma resposta até o dia 15 de dezembro.
As plantações, de acordo com o que apurou a Agência Folha, poderão ocorrer em cerca de 17 mil hectares nos municípios de Hulha Negra, Candiota e Aceguá, no sul do Rio Grande do Sul. Há mais de 2.000 famílias sem terra (quase 10 mil pessoas) na região.


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