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CRIME ORGANIZADO
PF investiga ligação entre grupos do Piauí e Acre por meio de gravação de conversas telefônicas
Telefonemas indicam elo entre Estados
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Teresina
A Polícia Federal rastreou telefonemas que indicam ligações entre o crime organizado no Piauí e
no Acre.
A PF acredita que os telefonemas, realizados no final de 1996,
entre o capitão da Polícia Militar
do Piauí João Baltazar Rodrigues
Nogueira e o deputado cassado
Hildebrando Pascoal (apontado
como chefe do grupo criminoso
do Acre), teria o objetivo de acertar o assassinato de José Hugo Alves Júnior, apontado como assassino do irmão do ex-deputado.
Alves Júnior foi preso em 8 de
janeiro de 1997 por policiais militares no Piauí, em uma fazenda
no interior do Estado.
Acusado de ter matado a tiros o
vereador Itamar Pascoal, irmão
de Hildebrando e primo do então
comandante da PM do Acre, Aureliano Pascoal, Alves Júnior teria
sido entregue pelos policiais
piauienses a pessoas ligadas ao
ex-deputado, segundo suspeita a
Polícia Federal.
Ácido
O corpo, encontrado três dias
depois no município baiano de
Formosa do Rio Preto, próximo à
fronteira sul do Piauí, estava desfigurado. Alves Júnior havia sido
torturado e queimado com ácido.
Os PMs responsáveis pela prisão afirmaram que Alves Júnior
foi entregue a dois policiais federais do Acre que vieram buscá-lo.
A transferência, no entanto, não
foi registrada oficialmente e nenhum documento foi apresentado para comprovar a versão.
O sigilo telefônico dos suspeitos
foi quebrado e a Polícia Federal
descobriu que houve, na época,
troca de telefonemas entre Hildebrando e o então tenente Baltazar,
que comandou a operação de
captura.
"Nenhum tenente iria se envolver em uma ação desse tipo sem
ter a certeza de cobertura superior", disse o delegado da PF que
investigou o caso, Antonio Wanderley Portela de Vasconcelos.
700 horas
Na época do crime, o coronel
José Viriato Correia Lima
-apontado como chefe do crime
organizado no Estado- já comandaria ações criminosas no
Piauí e exerceria forte influência
em setores da Polícia Militar, segundo apurou a PF com a escuta
telefônica que resultou em 700
horas de conversas gravadas.
Apesar de responder a inquéritos na PM e na PF, o tenente Baltazar foi promovido a capitão, patente que tem hoje. Interrogado
na época pela Polícia Federal, ele
não respondeu às perguntas. Disse que só falaria em juízo, o que
não ocorreu até agora.
Identificação
O corpo de Alves Júnior foi exumado em março passado para
exames, visando atestar a identidade do morto (embora tenha sido reconhecido por parentes). O
laudo, divulgado na quinta-feira
passada, comprovou que "há
compatibilidade" entre "os restos
mortais" e "os poucos dados disponíveis" sobre a vítima.
A perícia encontrou nos ossos
do braço direito marcas compatíveis com o tiro de espingarda que
Alves Júnior levou em 88 no braço. Os exames revelaram ainda
um tiro no rosto e um no pé direito.
O delegado Antonio Wanderley
Portela de Vasconcelos pediu um
exame de DNA. Amostras de sangue da família de Alves Júnior foram colhidas. O resultado só deverá ser divulgado em um mês. O
laudo da ossada foi encaminhado
à Procuradoria Geral da República, em Brasília, que investiga o caso.
Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de
Brasília
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