São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
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CRIME ORGANIZADO
PF investiga ligação entre grupos do Piauí e Acre por meio de gravação de conversas telefônicas
Telefonemas indicam elo entre Estados

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Teresina

A Polícia Federal rastreou telefonemas que indicam ligações entre o crime organizado no Piauí e no Acre.
A PF acredita que os telefonemas, realizados no final de 1996, entre o capitão da Polícia Militar do Piauí João Baltazar Rodrigues Nogueira e o deputado cassado Hildebrando Pascoal (apontado como chefe do grupo criminoso do Acre), teria o objetivo de acertar o assassinato de José Hugo Alves Júnior, apontado como assassino do irmão do ex-deputado.
Alves Júnior foi preso em 8 de janeiro de 1997 por policiais militares no Piauí, em uma fazenda no interior do Estado.
Acusado de ter matado a tiros o vereador Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando e primo do então comandante da PM do Acre, Aureliano Pascoal, Alves Júnior teria sido entregue pelos policiais piauienses a pessoas ligadas ao ex-deputado, segundo suspeita a Polícia Federal.

Ácido
O corpo, encontrado três dias depois no município baiano de Formosa do Rio Preto, próximo à fronteira sul do Piauí, estava desfigurado. Alves Júnior havia sido torturado e queimado com ácido.
Os PMs responsáveis pela prisão afirmaram que Alves Júnior foi entregue a dois policiais federais do Acre que vieram buscá-lo. A transferência, no entanto, não foi registrada oficialmente e nenhum documento foi apresentado para comprovar a versão.
O sigilo telefônico dos suspeitos foi quebrado e a Polícia Federal descobriu que houve, na época, troca de telefonemas entre Hildebrando e o então tenente Baltazar, que comandou a operação de captura.
"Nenhum tenente iria se envolver em uma ação desse tipo sem ter a certeza de cobertura superior", disse o delegado da PF que investigou o caso, Antonio Wanderley Portela de Vasconcelos.

700 horas
Na época do crime, o coronel José Viriato Correia Lima -apontado como chefe do crime organizado no Estado- já comandaria ações criminosas no Piauí e exerceria forte influência em setores da Polícia Militar, segundo apurou a PF com a escuta telefônica que resultou em 700 horas de conversas gravadas.
Apesar de responder a inquéritos na PM e na PF, o tenente Baltazar foi promovido a capitão, patente que tem hoje. Interrogado na época pela Polícia Federal, ele não respondeu às perguntas. Disse que só falaria em juízo, o que não ocorreu até agora.

Identificação
O corpo de Alves Júnior foi exumado em março passado para exames, visando atestar a identidade do morto (embora tenha sido reconhecido por parentes). O laudo, divulgado na quinta-feira passada, comprovou que "há compatibilidade" entre "os restos mortais" e "os poucos dados disponíveis" sobre a vítima.
A perícia encontrou nos ossos do braço direito marcas compatíveis com o tiro de espingarda que Alves Júnior levou em 88 no braço. Os exames revelaram ainda um tiro no rosto e um no pé direito.
O delegado Antonio Wanderley Portela de Vasconcelos pediu um exame de DNA. Amostras de sangue da família de Alves Júnior foram colhidas. O resultado só deverá ser divulgado em um mês. O laudo da ossada foi encaminhado à Procuradoria Geral da República, em Brasília, que investiga o caso.


Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de Brasília

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