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JANIO DE FREITAS
O seu ao seu dono
Uma das frases da moda -"o PT votou contra isso"- foi ampliada por Fernando Henrique Cardoso ao falar de
reformas como a da Previdência,
a política, a tributária: "O PT votou contra tudo". A frase e a
acentuação enfática que lhe foi
dada não merecem reparo. Mas
o seu uso, com o propósito de induzir a idéia de que tais reformas não foram feitas porque a
oposição as impediu, é uma
adulteração dos fatos contra a
boa-fé alheia.
Ao governo jamais faltaram
votos, como provam as privatizações, as várias alterações feitas
na Constituição e, mais recentemente, para não deixar dúvida
de que nada mudara com os
anos, as reduções da proteção legal ao trabalhador. O método fisiológico que o governo adotou
desde o seu início, instituindo a
compra e venda de voto parlamentar como sistema, com frequência exigiu-lhe, isto é, aos
cargos e cofres públicos, concessões menos imediatas. Mas, como resultado, só não foi aprovado o que o governo não quis.
A reforma política nem entrou
em cogitação, exatamente para
preservar o domínio obtido sobre o Congresso. A reforma da
Previdência nunca foi procurada com seriedade, com a equipe
econômica, e particularmente a
Fazenda, aceitando apenas um
remendo aqui, outro ali.
E a reforma tributária, que disputou com a da Previdência as
referências à sua necessidade,
proporcionou um formidável espetáculo de embuste durante
anos. Até que um deputado de
prestígio na bancada governista
recebeu da Presidência a incumbência ou a autorização para levar adiante, como relator, um
projeto de reforma tributária.
Ouviu muita gente, manteve
permanente exame do assunto
com a equipe econômica, viajou
por aí, nisso investindo o ano.
Quando chegava aos arremates,
no ano passado, e o projeto em
breve se encaminharia para votação, ou para a certa aprovação, o deputado recebeu da Presidência a ordem de esquecer a
reforma imediata e absolutamente. Abatido, recolheu-se ao
silêncio e fez um afastamento indeclarado em relação ao governo. Tinha sido líder governista
na Câmara, hoje é o governador
eleito do Rio Grande do Sul, o
peemedebista Germano Rigotto.
Talvez no próximo ano os futuros oposicionistas sejam liberados para considerar de fato as
reformas da Previdência, a política e a tributária, de cuja necessidade tanto falaram enquanto
as relegavam nos últimos oito
anos.
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