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DIPLOMACIA
Robert Zoellick, a quem Lula chamou do "sub do sub do sub" de Bush, declarou reconhecer dificuldades do país
EUA propõem unir Alca e combate à pobreza
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
Robert Zoellick, o alto funcionário norte-americano que Luiz
Inácio Lula da Silva inadvertidamente chamou de "sub do sub do
sub", tratou ontem de adoçar a
boca do presidente eleito do Brasil
em relação à Alca (Área de Livre
Comércio das Américas).
Depois de lembrar que tanto
Fernando Henrique Cardoso como seu sucessor eleito falam sempre do grande número de pobres
que há no Brasil, Zoellick disse
que é importante analisar como
compatibilizar acordos comerciais com o combate à pobreza.
Se há de fato uma fórmula que
permita essa conciliação, seria a
sopa no mel para o PT, que tem o
combate à pobreza como bandeira prioritária e que, à medida que
se aproximava da vitória eleitoral,
abrandou suas restrições à Alca, a
zona de livre comércio que deve
abranger os 34 países americanos,
excluída apenas Cuba.
Zoellick aproveitou a sessão de
fotos com os ministros do Mercosul, antes de se reunir com eles a
portas fechadas, para uma sequência de observações, todas no
mesmo sentido: recados ao PT sobre os benefícios da Alca e, mais
genericamente, do livre comércio.
Recado um: "Estamos perfeitamente a par de algumas das dificuldades [do Brasil", as financeiras, por exemplo, e achamos que
o comércio é um instrumento importante para respaldar a recuperação da economia". Para um
partido que fez do crescimento da
economia e das exportações uma
bandeira eleitoral, soa sedutor.
Recado dois: os EUA deram total respaldo ao acordo com o Fundo Monetário Internacional, que
concedeu ao Brasil US$ 30 bilhões, "o que não é pouco, para
ajudar no processo de ajuste. Provavelmente, o Brasil vai precisar
de mais recursos para o ajuste".
Fica implícito que cooperar
com os EUA na Alca pode ter como contrapartida a colaboração
para novos recursos ou, ao menos, para a liberação das parcelas
dos US$ 30 bilhões já acertados, a
maioria delas prevista para 2003.
Recado três: "A Alca é importante porque empresas norte-americanas podem investir no
Brasil para exportar para os EUA
e outros mercados". Como captar
recursos externos é vital para a
economia brasileira na conjuntura, é outro canto sedutor.
Mas Zoellick não deixou de repetir o mantra da ortodoxia. "A
chave é captar capital privado, o
que depende de boas políticas. O
Brasil tem grande potencial e as
empresas certamente estarão interessadas se as condições adequadas estiverem dadas", disse.
Em março, na sua visita ao Brasil, Zoellick listou o que considera
"condições adequadas": o receituário clássico (ajuste fiscal, privatizações, desregulamentação).
Paciência
Os agrados ao futuro governo,
no entanto, predominaram nas
duas vezes em que Zoellick falou
aos jornalistas ontem.
Primeiro, mostrou-se "muito
satisfeito" com a conversa telefônica entre Lula e o presidente norte-americano George W. Bush e
com a disposição do brasileiro de
viajar aos Estados Unidos eventualmente antes mesmo da posse.
Depois, ao oferecer os bons ofícios dos EUA para a transição.
"Transição não é fácil para ninguém", disse o funcionário norte-americano, ressaltando sua própria experiência de três transições. "Por isso, estamos dispostos
a ajudar um parceiro muito importante, de forma que o processo
Alca seja benéfico", afirmou.
Ficou implícito que o governo
norte-americano não ficaria especialmente incomodado se o Mercosul tiver dificuldades em apresentar a sua proposta inicial de
abertura comercial no dia 15 de
fevereiro, limite fixado pelo calendário Alca. Será apenas 45 dias
após a posse de Lula e no meio do
processo eleitoral argentino.
Zoellick lembrou que ele próprio assumira às vésperas da reunião ministerial da Alca de Buenos Aires, no ano passado. "Os
parceiros foram muito gentis comigo naquela ocasião. Espero agir
da mesma forma", disse.
Zoellick é o chefe do USTr (United States Trade Representative,
espécie de ministério de comércio
exterior dos EUA), subordinado
diretamente ao presidente.
A Folha perguntou a Zoellick
como havia sido traduzida para
ele a expressão "sub do sub do
sub", proferida por Lula durante a
campanha. "Acho que foi deputy
of the deputy of the deputy", respondeu sorrindo e usando a palavra inglesa para "vice" ou "sub".
A Folha apurou que Zoellick
deu o incidente por encerrado,
depois de certificar-se que o PT
sabe perfeitamente que ele é sub
apenas de George W. Bush.
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