São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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Protecionismo agrícola provoca bate-boca

DO ENVIADO A QUITO

Tendo dois ministros brasileiros como testemunhas mudas, o chanceler argentino Carlos Ruckauf e o chefe do comércio exterior norte-americano, Robert Zoellick, envolveram-se ontem em uma esgrima verbal em torno da liberalização da agricultura, principal reivindicação do Mercosul nas negociações da Alca.
O ministro argentino cobrou do norte-americano que a Alca seja "uma zona de livre comércio com todos os temas à mesa, e não com dois canais de negociação, OMC (Organização Mundial do Comércio) e Alca".
É uma alusão ao fato de que os EUA estão propondo, no âmbito da OMC, uma substancial redução do protecionismo agrícola no planeta, mas não querem estender a proposta à Alca enquanto europeus e japoneses não aceitarem a redução proposta.
Zoellick devolveu com uma primeira estocada: "É claro que todos os assuntos estarão sobre a mesa, incluindo compras governamentais e serviços", dando até uma piscadela de olhos para os jornalistas que Ruckauf, a seu lado, não pôde ver.
É uma alusão ao fato de que os EUA querem abrir o mercado das concorrências públicas e de serviços nos países da Alca, situação que seus parceiros têm dificuldades em aceitar de forma ampla.
O funcionário norte-americano tentou mostrar que o "tema crítico" são os subsídios às exportações, área em que os EUA entram com apenas US$ 15 milhões, ao passo que os europeus despejam US$ 2 bilhões.
Ruckauf contra-atacou: "Para nós, os erros da Europa não justificam os erros dos demais países".
Zoellick não se deu por aludido e aproveitou um elogio ao que chamou de "boom" exportador argentino (após a desvalorização do peso) para dizer que "é importante que a Argentina e outros países tenham mercados, e os Estados Unidos, com seu déficit de US$ 500 bilhões, são grandes compradores".
Os ministros brasileiros Celso Lafer (Relações Exteriores) e Sérgio Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) participavam do evento, antes da reunião fechada Mercosul/EUA. Mas não abriram a boca.
(CLÓVIS ROSSI)


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