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Protecionismo agrícola provoca bate-boca
DO ENVIADO A QUITO
Tendo dois ministros brasileiros como testemunhas mudas, o
chanceler argentino Carlos Ruckauf e o chefe do comércio exterior norte-americano, Robert
Zoellick, envolveram-se ontem
em uma esgrima verbal em torno
da liberalização da agricultura,
principal reivindicação do Mercosul nas negociações da Alca.
O ministro argentino cobrou do
norte-americano que a Alca seja
"uma zona de livre comércio com
todos os temas à mesa, e não com
dois canais de negociação, OMC
(Organização Mundial do Comércio) e Alca".
É uma alusão ao fato de que os
EUA estão propondo, no âmbito
da OMC, uma substancial redução do protecionismo agrícola no
planeta, mas não querem estender a proposta à Alca enquanto
europeus e japoneses não aceitarem a redução proposta.
Zoellick devolveu com uma primeira estocada: "É claro que todos os assuntos estarão sobre a
mesa, incluindo compras governamentais e serviços", dando até
uma piscadela de olhos para os
jornalistas que Ruckauf, a seu lado, não pôde ver.
É uma alusão ao fato de que os
EUA querem abrir o mercado das
concorrências públicas e de serviços nos países da Alca, situação
que seus parceiros têm dificuldades em aceitar de forma ampla.
O funcionário norte-americano
tentou mostrar que o "tema crítico" são os subsídios às exportações, área em que os EUA entram
com apenas US$ 15 milhões, ao
passo que os europeus despejam
US$ 2 bilhões.
Ruckauf contra-atacou: "Para
nós, os erros da Europa não justificam os erros dos demais países".
Zoellick não se deu por aludido
e aproveitou um elogio ao que
chamou de "boom" exportador
argentino (após a desvalorização
do peso) para dizer que "é importante que a Argentina e outros
países tenham mercados, e os Estados Unidos, com seu déficit de
US$ 500 bilhões, são grandes
compradores".
Os ministros brasileiros Celso
Lafer (Relações Exteriores) e Sérgio Amaral (Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior)
participavam do evento, antes da
reunião fechada Mercosul/EUA.
Mas não abriram a boca.
(CLÓVIS ROSSI)
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