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Zilda Arns aponta erros no projeto Fome Zero
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
A coordenadora nacional da
Pastoral da Criança, Zilda Arns,
aponta uma série de equívocos na
forma como o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva pretende implementar seu principal programa, o Fome Zero.
A médica sanitarista, que há 19
anos dirige a entidade da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), condena o emprego de
cupons, por exemplo.
Como outros críticos desse modelo, ela defende que o auxílio seja
em dinheiro e repassado preferencialmente às mulheres. O modelo admitido por Zilda Arns é o
que já vem sendo implantado pelo governo atual, como no Bolsa-Escola. O saque do dinheiro é feito pelas famílias beneficiadas, por
meio de cartões magnéticos.
"Dar o dinheiro é um avanço
em relação ao bônus. Implementa
a cidadania. Permite que alguém
o use para comprar sementes e
plantar para ter alimentos, se quiser. E a mulher deve gerenciar esse recurso. Essa foi uma inovação
muito acertada (no governo Fernando Henrique Cardoso)."
Para Zilda Arns, com o gerenciamento pela mulher, "há certeza
de que o dinheiro vai chegar mais
às famílias". Ela considera que o
modelo de assistência social deste
governo "evitou o clientelismo
político ao colocar o dinheiro na
mão das mulheres".
Segundo a coordenadora da
Pastoral, o bônus "é um risco, por
abrir espaço à corrupção". "É
mais fácil haver desvios com esses
papéis do que com a cesta básica e
esse erro deve ser prevenido".
Zilda Arns defendeu que o futuro governo reconheça os avanços
atingidos. "Não há por que mudar, senão o extremamente necessário, mas melhorar o que existe."
A cultura de assistencialismo
ainda atinge grande parte da população, no entender de Arns, e
ela acredita que só se muda isso
quando há exigência de contrapartida da família. E volta a citar o
exemplo do Bolsa-Escola. No programa, a família só recebe o benefício com os filhos na escola.
Arns também sugere que o governo Lula conheça e "replique
pelo país" programas de prefeituras e ONGs que incentivem geração de renda complementar. Ela
coloca a Pastoral da Criança à disposição para parceria, mas disse
que não foi chamada para opinar.
A coordenadora da Pastoral diz
ver no programa do PT "uma
chuva de idéias boas", mas afirma
ter dificuldades de entender os
mecanismos de operacionalização. "Um começar tudo de novo
pode frustar muita gente", disse.
Zilda Arns comanda desde 1983
a Pastoral da Criança, uma entidade que hoje alcança 1,1 milhão
de famílias no Brasil. São cerca de
55 mil voluntários envolvidos no
combate à mortalidade e à desnutrição infantil. O investimento por
criança é de R$ 1,03 ao mês, segundo a coordenadora.
A Pastoral da Criança foi por
duas vezes inscrita para o prêmio
Nobel da Paz. O padrinho das indicações foi o ex-ministro da Saúde e candidato derrotado à Presidência da República, José Serra
(PSDB). A entidade está presente
em 64% dos municípios do país.
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