São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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Ermírio critica plano petista contra a fome

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, 74, presidente do grupo Votorantim, considera um erro o plano do PT de combate à fome, que prevê a distribuição de bônus e de dinheiro a fundo perdido: "É muito melhor distribuir a comida a preços favorecidos".
Apesar de não ter votado no presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e de ter sido um dos maiores críticos de sua candidatura ao Palácio do Planalto, Ermírio de Moraes disse à Folha que gostaria de se encontrar com o economista do PT José Graziano, um dos idealizadores do programa de combate à fome e o nome mais cotado para assumir a Secretaria Nacional de Emergência Social do novo governo, para apresentar algumas sugestões.
Ermírio de Moraes, apesar de elogiar a proposta do PT de priorizar o combate à fome no novo governo, acredita, no entanto, que a idéia da distribuição de bônus não dá resultado.
O empresário diz que há um grande risco de o bônus ser vendido num mercado paralelo e o dinheiro ser gasto com outras finalidades: "Sempre há o risco de o dinheiro do bônus ser usado para comprar pinga", disse Ermírio.
O projeto do PT prevê acabar com a fome de até 2 milhões de famílias no primeiro ano do governo mediante a distribuição de bônus de R$ 50 a R$ 150. O empresário diz que não se justifica o fato de ainda existir fome no Brasil. Segundo ele, o país produz 500 quilos per capita (por habitante) de grãos por ano, enquanto o mundo produz 300 quilos per capita. "Para onde vai essa comida?"
Para o empresário, a conclusão é de que só pode estar ocorrendo irregularidades na distribuição de alimentos. "Se o novo governo investigar isso a fundo, eu vou bater palmas", afirmou.
Segundo o empresário, as exportações de produtos agrícolas também não justificam essa falta de alimentos no país. "O Brasil exporta apenas 1% do total de exportações do mundo", diz.
De acordo com Ermírio de Moraes, o governo precisa fiscalizar de forma rigorosa a distribuição de alimentos para detectar as razões de ainda existir fome no país. "Será que não tem gente jogando comida fora para aumentar o preço dos produtos?"
O empresário afirmou que fez essas recomendações ao presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), "mas ele não prestou muita atenção".
Segundo Ermírio de Moraes, se o governo federal fiscalizasse de forma adequada a distribuição tanto dos alimentos como da carne, não haveria razões para a fome no país. Ele diz que a fome no país está localizada principalmente em bolsões de pobreza no Norte e Nordeste. São nessas regiões onde o governo deveria concentrar a fiscalização na distribuição dos alimentos.
O empresário diz que o governo do PT deveria ser objetivo nas suas ações. Ele acha, por exemplo, que será infrutífera a tentativa de um pacto social: "Será uma grande bobagem. O PT vai fazer 200 reuniões e não vai dar em nada".


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